Igreja e Convento de Santo António
Cairu, Bahia, Brasil
Arquitetura religiosa
O Convento de Santo António de Cairu é um dos exemplares mais importantes da arquitetura religiosa brasileira e da arquitetura franciscana no país, que serviu de protótipo, no seu partido, a outros conventos da Bahia e até mesmo de outros estados. Por isso mereceu tombamento como bem de interesse histórico e artístico nacional. A principal referência à sua fundação é fornecida por Jaboatão. Consta que, no mesmo lugar onde foi construído o atual Convento de Santo António de Cairu, existia uma pequena ermida, com a invocação de Santo António, que tinha sido levantada pelos moradores. Porém, do convento propriamente dito não se conhece a data do início das obras, como confessa o próprio Jaboatão, mas sabe‐se que foi consagrado em 1650. Pode‐se destacar, porém, que o Convento de Cairu foi o primeiro grande edifício franciscano a ser erguido no estado da Bahia, antecedendo mesmo o convento principal do Salvador, que existia como sede, mas não no seu desenho atual. O monumento em questão deve ter sido construído, diferentemente de outros edifícios franciscanos, em stupenda celeritas, como diriam os antigos, considerando, evidentemente, a escala de celeridade que pode ser aplicada às construções antigas. Isto lhe garantiu praticamente ser concluído, nas linhas gerais, no século XVII, o que lhe deu grande unidade estilística, que não pode ser encontrada facilmente em outros exemplares franciscanos. Pode‐se dizer que o Convento de Cairu fez escola. Seguramente, o de Santo António do Paraguaçu, no Iguape, seguiu a mesma concepção dos seus arranjos espaciais e, em Pernambuco, mesmo alguns edifícios anteriores ao de Cairu, quando foram reformados, adotaram alguns partidos que nele foram amadurecidos. É bem verdade que em Cairu existem certos anacronismos, como pilares no claustro, em lugar de esbeltas colunas, como destaca Bazin. A implantação do Convento de Santo António é esplêndida, na verdadeira acepção da palavra. Assentado em ponto dominante de antiga vila, só superado pela implantação da Matriz, é a referência visual mais marcante na paisagem da cidade. De qualquer lugar que seja olhado, destaca‐se através da coerência e elegância dos seus volumes. Embora tenha uma fachada que pode ser considerada, de certa forma, maciça, dentro da sua composição ad triangulum, a existência de uma galilé, típico da arquitetura franciscana, mesmo que dela não seja exclusiva, concede certa leveza à primeira ordem da composição e consegue atenuar a densidade do conjunto. A torre recuada contribui, pelo seu lado, para este aligeiramento de massa, o que não aconteceria se estivesse no mesmo alinhamento da fachada principal, como aconteceu em outros conventos franciscanos. Embora a métrica deliberada das três ordens marcantes da modenatura nos conduza ao sentimento de uma concepção classicista, aparecem as volutas barrocas a quebrarem, irreverentemente, a frieza da linha reta. A igreja do monumental conjunto é de nave única, com tribunas, dotada de um belo piso de campas de madeira, ainda em bom estado, o que é uma raridade. O forro é decorado, embora de pintura ingénua, quase naif, que consideram os especialistas ser do século XIX, porém contribui, com a sua policromia, para a festividade da expressão barroca do conjunto e dá unidade ao espaço da nave. A sacristia é também um espaço extraordinário na riqueza do seu tratamento em azulejaria, no seu lavabo em lioz português e no teto pintado de muito boa qualidade. É um dos ambientes mais belos do convento. A crónica de Jaboatão informa que sobre a sacristia existia uma varanda, o que, aliás, não era um fato inusitado na arquitetura religiosa brasileira. Um dos exemplos existentes é o da igreja do seminário de Belém de Cachoeira, na Bahia. A parte conventual onde se abrigam os religiosos de São Francisco, provavelmente a primeira parte construída do conjunto, é de grande despojamento, como convém à simplicidade dos seguidores do ilustre santo do cristianismo. Conviria entretanto destacar, porque ainda se encontram com muitos dos seus elementos originais, o refeitório e a cozinha. Esta última é um exemplar curiosíssimo, que guarda tradições monásticas medievais, tendo a área dos fogões encimada por uma cobertura parabólica, que é ao mesmo tempo um exaustor, chaminé e possivelmente local de defumação de produtos, que cria externamente ao edifício uma silhueta muito particular. Outros dois exemplares semelhantes são as cozinhas dos conventos de Penedo e São Cristóvão. Está recebendo restauro total do edifício e dos seus artefactos artísticos integrados à arquitetura.