Fortificação

Fortificação

Asherigad, Maharashtra, Índia

Arquitetura militar

O planalto fortificado de Asserim, no topo de uma abrupta montanha entre Baçaim e Damão, era uma das fortificações mais famigeradas da Província do Norte. Localiza‑se a cerca de trinta quilómetros da costa. Considerada inexpugnável, a não ser pela fome ou suborno dos seus defensores, entre outras fortificações menores que se desenvolveram nas montanhas e rios, a Serra de Asserim constituía a posição chave que defendia as zonas sertanejas da Província, especialmente as praganás de Mahim‑Quelme e Tarapur. Era simultaneamente portela e fronteira interior do território português. Foi descrita por vários autores, portugueses e estrangeiros, e figura em relações e enciclopédias publicadas na Europa do século XVIII. Aproveitando a confusão interna do Sultanato de Gujarate, em 1554 o Estado da Índia obteve a cessão de Damão e do seu território através de um tratado. Contudo, antes de ocuparem a zona os portugueses tiveram de se bater com Cide Bofetá, o potentado abexim (muçulmano de origem etíope) que efetivamente controlava o território. Para tal o capitão de Baçaim, António Moniz Barreto, com a ajuda de um mercador muçulmano, subornou o capitão abexim que comandava Asserim. A posição foi tomada em 1556. De seguida, António Moniz Barreto ocupou o Forte de Manorá sem encontrar grande resistência. Com a conquista efetiva de Damão em 1559, estabilizou‑se a fronteira leste da Província do Norte. Entre 1578 e 1581, Asserim foi incorporada no distrito de Baçaim, com território e estatuto administrativo. Tornou‑se numa praganá de grande importância, abarcando trinta e oito aldeias e seis paróquias. As descrições da época referem a disciplina e regularidade do pagamento dos soldos da guarnição, geralmente composta por soldados homiziados, e o elevado valor militar do cargo de capitão da fortaleza. A fertilidade das suas aldeias e das florestas em redor assegurava a estabilidade económica, salientando‑se a exploração da madeira de teca, enviada pelos rios de Surya e Vaitarna até às ribeiras de Agaçaim e Baçaim. Era um dos raros pontos do sistema defensivo do Estado da Índia com autonomia alimentar durante a monção. As faces escarpadas e íngremes constituíam a principal defesa da fortificação. Nos limites do planalto os defensores colocavam ainda grandes pedregulhos, prontos a serem arremessados contra quem intentasse escalar. Para se aceder ao topo existia um único percurso, e mesmo este era impraticável para cavalos ou gado e arriscado para os humanos. As zonas mais vulneráveis estavam guarnecidas com passos (doze ou treze, no total). Na base da montanha, a sudoeste, estava situada a tranqueira de Vanapor ou Vamapor, centrada numa torre de dois pisos e defendida por uma paliçada. Em tempos de paz, o capitão da fortaleza residia neste local. Daqui se acedia ao topo da montanha de Asserim, por um percurso com dois passos - Selada e Boa Esperança - e um túnel com degraus escavados no maciço rochoso, com cerca de vinte e cinco metros de comprimento. No fim do túnel estava um alçapão ligando a uma plataforma defendida por quatro ou cinco moradores. Finalmente acedia‑se ao Passo da Entrada, orientado a oeste, o único com pequenas peças de artilharia, três, conforme se pode ver na iconografia de cerca de 1635. Nos vários passos residiam os soldados portugueses, entre oitenta a cento e vinte no total. No lado norte estava o Passo das Vacas, apetrechado com um guindaste para içar gado ou cavalos para o planalto. A norte havia ainda o Passo da Tarde e o da Formosa, perto do qual estava uma mina de água perene. Na zona leste situava‑se o Passo do Elefante, de onde se lançavam os condenados à morte. O Passo de Parabur ficava a sul. O planalto, medindo cerca de setecentos e trezentos metros, segundo os seus eixos maiores, era suficientemente amplo para a criação de gado. Comandava uma vista abrangente de todo o território em redor, sendo visível o mar. Tinha várias cisternas e tanques, a casa do capitão, uma igreja dedicada a Nossa Senhora dos Remédios (construída após 1601), uma pequena torre fortificada de planta octogonal e, ainda, depósitos para recolher cereais. Em 1634, Asserim era defendida por cento e vinte soldados. Havia ainda cerca de cento e cinquenta moradores capazes de tomar armas e um número considerável de oficiais e ajudantes. Em 1720, a guarnição era composta por cento e cinquenta soldados e três cabos, embora muitas das estruturas defensivas no planalto estivessem arruinadas. O engenheiro militar André Ribeiro Coutinho, personagem central na reforma do sistema defensivo da Província do Norte iniciada em torno de 1730, traçou um cenário muito negativo do estado da fortificação e do laxismo do capitão, um pequeno tirano mais interessado num negócio pessoal de venda de madeira. Em 1737, perante a grande ofensiva de Chimnáji Appa contra a Província do Norte, Asserim caiu em poder dos maratas, mas foi reconquistada durante a contra‑ofensiva de António Cardim de Fróis, o novo general do Norte. Em fevereiro de 1739, caiu definitivamente na posse dos maratas. Em 1817 a fortaleza foi ocupada pelos ingleses, sem grande resistência. No ano seguinte, Dickinson registou que quase todas as estruturas no planalto estavam arruinadas. O que restava foi sistematicamente obliterado pelos ingleses, incluindo o túnel e o alçapão. A partir de então a montanha de Asserim foi definitivamente abandonada. Uma pedra lavrada com as armas portuguesas, provavelmente pertencente ao Passo da Entrada, encon‑ tra‑se atualmente próximo das ruínas do túnel de ascensão. No recinto do planalto são visíveis os vários tanques que recolhiam as águas pluviais e ainda algumas ruínas dos passos do perímetro defensivo. Na zona central restam vestígios de uma torre hexagonal e ainda as marcas de casas construídas com paus rolados, esteiras e coberturas de ola, provavelmente muito semelhantes àquelas em que vivem os moradores da ancestral aldeia de Khadkona, no sopé da montanha próximo do antigo local da tranqueira onde se iniciava a escalada.

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