
Santuário do Bom Jesus de Matosinhos
Congonhas do Campo, Minas Gerais, Brasil
Arquitetura religiosa
Localizado no alto do Morro do Maranhão, e tendo por moldura o azulado da Serra do Ouro Branco, o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos constitui um dos monumentos mais expressivos do Brasil. O conjunto arquitetónico, paisagístico e escultórico, classificado em 1939, é constituído pela igreja - com seu adro murado e sua escadaria monumental, ritmada pelas estátuas dos profetas - e pelas capelas dos Passos da Paixão, distribuídas em ziguezague pela ladeira do jar‐ dim fronteiriço. Segundo J. Bury, embora seja bem menos sofisticado, este conjunto guarda semelhanças com dois monumentos portugueses: a Igreja de Bom Jesus do Monte (perto de Braga), e o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios de Lamego (com seu "Pátio dos Reis"). Sabe‐se que a obra do templo foi arrematada em 1758 por António Gonçalves, carapina, e António Rodrigues Falcato, pedreiro, com base em risco de autoria ignorada. Não há informações documentais sobre o autor do frontispício definitivo, mas presume‐se que o português Francisco de Lima Cerqueira ‐ um dos mais importantes arquitetos de Minas Gerais na época rococó, segundo G. Bazin ‐ tenha participado do projeto, visto que, nos anos 1769‐1773, ele executava a capela‐mor da igreja (juntamente com Tomás da Maia Brito). Além disso, trabalhou, como pedreiro, "no acréscimo das torres" (1765‐1769), e é provável que também lhe tenham cabido o desenho e a fatura do frontão. O edifício é apontado pelos especialistas como um marco da fase inicial do rococó mineiro. Sua planta apresenta torres ligeiramente recuadas, e a nave foi despojada dos corredores laterais, típicos das primeiras igrejas de Minas. De acordo com Myriam R. de Oliveira, é possivel atribuir a autoria da portada a Jerónimo Félix Teixeira, a quem coube a execução dos retábulos do arco‐cruzeiro, tendo em vista as afinidades estilisticas evidentes entre estes dois elementos (feitio das rocalhas, etc.). Tais retábulos, de desenho inovador, são "extremamente interessantes para o estudo dos primórdios do rococó na talha mineira, revelando as dificuldades dos artistas com temas formais ainda não totalmente dominados". Segundo a mesma autora, o retábulo do altar‐mor, executado pelo entalhador João Antunes de Carvalho, tem um estilo mais evoluído, e apresenta um elemento ornamental típico do mobiliário civil francês do período da Regência, "cuja aplicação ao mobiliário religioso é uma das características da talha mineira, sem prece‐ dentes em Portugal". Ainda na capela‐mor, destacam‐ ‐se os anjos tocheiros executados pelo bracarense Francisco Vieira Servas, que levou para as Minas esta tradição de sua região natal. Em total harmonia com a talha, a igreja possui belos trabalhos de pintura rococó, executada nos anos de 1773‐1787 por renomados artis‐ tas, como Bernardo Pires da Silva (forros da capela‐ ‐mor e da nave) e João Nepomuceno Correia e Castro (painéis laterais). Em 1790, foram concluídas as obras do adro e escadarias, arrematadas por Tomás de Maia Brito. Em 1796, o Aleijadinho iniciou sua colaboração, trabalhando durante três anos e meio com os "oficiais" do seu atelier na fatura das 66 imagens em madeira das capelas dos Passos da Paixão, que foram pintadas a partir de 1798 pelos mestres Francisco Xavier Carneiro e Manuel da Costa Ataíde. Houve uma paralisação de quase 50 anos nas obras das últimas capelas, que foram concluídas somente em 1875. O grupo escultórico dos doze profetas em pedra‐sabão foi realizado no período 1800‐1807, e constitui uma das obras‐primas do mestre Aleijadinho, embora na época, segundo consta, ele já estivesse bastante debilitado pela doença. O santuário foi restaurado nas décadas de 1940 e 1950; em 1974, foram realizadas novas obras, com a participa‐ ção do paisagista Burle Marx. Os profetas foram res‐ taurados em 1985‐1988, mas sua conservação é problemática devido ao clima e à friabilidade do material. (CDF)