
Convento e Igreja de São Francisco (atual hospital)
Diu, Guzerate, Índia
Arquitetura religiosa
A fundação de um convento em Diu era um projeto dos franciscanos desde a década de 1530, mas só se concretizou em 1592 ou 1593, quando os franciscanos recoletos da Custódia da Madre de Deus, muito ativos na Província do Norte, conseguiram fundar a casa por mão de Frei António dos Reis, com o empenhamento ativo do governador da praça, Pedro de Anaia. O título de fundação foi Nossa Senhora da Porciúncula, ou dos Anjos. Os títulos de Nossa Senhora da Conceição ou São Francisco de Assis são recentes. No tempo em que Frei Paulo da Trindade escreveu a crónica dos franciscanos no Oriente, a década de 1630, moravam no convento de Diu entre doze a quinze frades. O convento serve hoje de hospital, e as dependências conventuais estão muito maltratadas. A planta de Diu, traçada em 1833 por Aniceto da Silva, mostra o conjunto como ainda se encontra hoje no essencial: a igreja vira a fachada principal a sul e tem o convento a poente, articulado em volta de um claustro. Um segundo claustro, mais pequeno, a norte do primeiro, com uma banda edificada a poente, indiciava o começo da expansão do convento, que acabou por não se verificar. Situado numa pendente suave a sul, o conjunto eleva ‑se numa plataforma que é nobilitada por um adro acessível por uma grande escadaria em L, que dá acesso às duas fachadas da igreja: a lateral, a nascente, e a frontal, a sul. O cruzeiro assinala o canto do adro, onde hoje cresce também uma grande árvore. A fachada lateral da igreja é tão importante como a fachada frontal, porque está voltada ao caminho que vem da fortaleza e da povoação cristã. Articula ‑se em seis tramos separados por contrafortes rematados a pináculos esféricos. No terceiro tramo a contar da fachada abre ‑se uma porta. A fachada frontal é antecedida por uma galilé de três arcos, tema que pode ter sido característico da cultura projetual dos franciscanos na Índia, embora tenham vindo até nós muito poucos casos: no norte, a igreja conventual de Baçaim, São João Batista de Taná (a julgar por fotografias antigas), Mahim de Bombaim (de acordo com uma gravura inglesa); em Goa: Nerul, Parrá. É provável que outras galilés isentas tenham sido incorporadas no corpo das igrejas, com o acrescento de coros altos (Pomburpa, Penha de França). Apresentava uma galilé deste tipo a igreja ‑mãe da Custódia da Madre de Deus na Índia, a famosa igreja do Convento da Madre de Deus de Daugim, demolida no século XIX e conhecida apenas por uma gravura publicada por Lopes Mendes. Esta gravura mostra também que a existência na igreja de Diu de um adro acessível através de uma escadaria em L pode ter sido inspirada pela desaparecida igreja de Daugim (Goa). A igreja de Diu é de nave única, coberta por abóbada de canhão sem telhado exterior, como é hábito neste território. A capela ‑mor, mais baixa, tem uma abóbada do mesmo tipo, mas decorada de caixotões. Em época posterior à da construção inicial, talvez no início do século XVIII, os cantos da nave do lado da cabeceira foram chanfrados por duas capelas em forma de nichos semicirculares cobertos por meias cúpulas concheadas, à maneira da igreja dos jesuítas. O elemento mais notável do convento é a torre, localizada ao lado da capela ‑mor à maneira franciscana. Tem dois pisos de altura e, como remate, uma cúpula com lanternim. Vê ‑se de muito longe em Diu. A perspectiva desenhada por Aniceto da Silva mostra ‑a com quatro pisos abertos por janelas, além do zimbório, mas pode ter ‑se tratado de exagero expressivo.