Colégio e Igreja do Santo Nome de Jesus

Colégio e Igreja do Santo Nome de Jesus

Vasai Fort (Baçaim/Baçaím/Bassaim/Bassein), Maharashtra, Índia

Arquitetura religiosa

A presença dos jesuítas em Baçaim remonta a 1549, altura em que o padre Belchior Gonçalves chegou à cidade com a tarefa de distribuir a esmola real destinada aos missionários franciscanos recoletos. Estes, devido à sua estrita observância das regras monásticas, não podiam tocar em dinheiro. Em dezembro de 1549 há notícia de que o capitão de Baçaim, Jorge Cabral, tinha cedido aos jesuítas uma propriedade, tendo em vista o estabelecimento destes na cidade. Em 1552, Francisco Xavier enviou para Baçaim o padre mestre Belchior dos Anjos e o irmão Manoel Teixeira. Deste modo, deve situar se entre 1552 e 1555 o período durante o qual se fundaram as estruturas primitivas que em 1560 ganharam o estatuto de colégio. O colégio, a igreja e os outros componentes foram sendo erguidos, provavelmente de modo continuado, entre 1549 e 1636, ou seja, durante quase um século. Em 1568, a invocação da igreja e do colégio, que era da Madre de Deus, mudou para o Sagrado Nome de Jesus. O complexo jesuíta era constituído principalmente pelo colégio, articulado em volta de um claustro de dois pisos de arcadas sobre colunata, com a igreja da Companhia a nascente, um templo de nave única e capelamor, ambas cobertas com abóbadas de canhão, só tendo sobrevivido a do santuário mas reconhecendose ainda os arranques daquela que cobria a nave (a qual já tinha caído ou sido demolida aquando da primeira descrição moderna que temos da igreja, a de Cunha Rivara em 1859). À ilharga da capela mor erguia se uma torre cujos vestígios ainda existem. Os dormitórios, aulas e outras dependências do colégio, agora em ruínas, formavam uma quadra da qual saía um braço apontado à muralha da cidade ou, mais provavelmente, ao rio e às vistas, porque construído antes de a muralha ser erguida. Frente à fachada da igreja abria se uma praça ou largo que separava a igreja do segundo setor do complexo, um retiro para órfãs e desamparadas situado a norte, também articulado por um pátio. O retiro tinha uma capela, dedicada a Nossa Senhora da Ajuda, cujo santuário estava virado ao colégio para poder receber diretamente assistência dos padres. Unindo os dois setores, e fechando o largo a poente, localizava se a portaria jesuíta. Segundo a crónica de Francisco de Sousa SJ, escrevendo já no século XVII, a maior parte das obras do colégio foram feitas durante o período em que padre Francisco Cabral era reitor, ou seja, antes de 1570, ano em que já estava no Japão. Mas a documentação até agora publicada testemunha que, no ano de 1597, se fizeram algumas obras no colégio: uma escada perto da sacristia e uma rouparia, e prosseguiam as obras para uma cozinha. Também se tinha feito um retábulo para o altar das Onze Mil Virgens. A igreja, danificada com o conflito do Forte do Morro de Chaul em 1594, foi restaurada em 1597. Todavia, como é hábito, não sabemos a que obras se refere o documento, como os outros publicado por J. Wicki. A porta que dá acesso à portaria do colégio está cronografada sobre o lintel com o ano de 1636, que deve assinalar o final das obras do conjunto. A extraordinária fachada da igreja - um dos mais notáveis monumentos da arquitetura católica da Índia - corresponde a um partido arquitetónico de síntese e recomposição das duas mais importantes fachadas dos jesuítas na Índia: São Paulo e o Bom Jesus de Goa. É nossa opinião que São Paulo de Goa tinha originalmente uma fachada em forma de retângulo posto ao alto, com empena semicircular perfurada de óculo redondo, correspondendo à abóbada que começou a ser construída sobre a nave central (era uma igreja de três naves) até ser desmontada após 1581 por razões de falta de estabilidade. Ou seja, a fachada de Baçaim reproduz, ao menos em parte (porque é igreja de uma só nave), o aspecto que tinha a de São Paulo. O portal propriamente dito e os restantes elementos compositivos da fachada derivam de São Paulo e do Bom Jesus e constituem uma variação a partir dos temas aí presentes. Provém da igreja ‑mãe dos jesuítas o tema da porta principal em arco, ladeada de dois pares de colunas compósitas sobre plintos, e mais uma pilastra de cada lado, sustentando um entablamento reto sobre o qual se abre uma grande janela retangular. Este tema está presente também, aliás, no Bom Jesus. A esta igreja, o arquiteto de Baçaim foi buscar ideias para o remate da fachada: os óculos, que estão apenas apontados nos lugares nos quais, em Goa, há vãos verdadeiros. E também a linguagem decorativa do portal retoma a da terceira ordem da fachada do Bom Jesus e de muita da sua pormenorização interna e externa: é proveniente da tratadística, das gravuras, do mobiliário litúrgico de origem flamenga. Todavia, a presença de outras formas, essas italianas, nomeadamente os frisos com rosas do Irão ou flores de lótus, as mísulas e os tríglifos ‑mísula, a decoração fitomórfica dos requadros, as aletas, tornam a riqueza do desenho da ordem do portal tão complexa como aquela que vemos no conjunto das quatro ordens da fachada do Bom Jesus e nas igrejas da Companhia em Margão, em Diu e em Macau que, com expressões diferentes, correspondem, todas elas, à arquitetura "falante" das fachadas jesuítas na transição entre o século XVI e Seiscentos. Contrariamente ao que sucedeu por sistema com os colégios jesuítas, o de Baçaim foi sustentado não pelo poder real mas por fidalgas da própria cidade. Grande parte dos fundos necessários à ampliação da casa proveio de Isabel de Aguiar, senhora oriunda de Ormuz, viúva e proprietária de três aldeias na Província do Norte. Estas aldeias foram doadas ao colégio de Baçaim em 1564. A sepultura de Isabel de Aguiar, falecida em 1591, situava ‑se na capela ‑mor da igreja. Uma outra senhora, Filipa da Fonseca, falecida em 1625, também benfeitora do colégio, mereceu sepultura no mesmo local. As senhoras de Baçaim que beneficiaram o colégio eram esposas dos Irmãos da Misericórdia da cidade e não surpreende, portanto, que a igreja desta instituição tenha um portal e um partido arquitetónico de nave única alta e funda muito parecidos com os da igreja jesuíta. Passando por Baçaim no final do século XVII, o italiano Gemelli Careri relatou a existência de três altares (naturalmente, o da capela ‑mor e os laterais) e referiu que tanto estes como as paredes e o arco triunfal estavam revestidos a ouro.

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