Casa Vasco Figueiredo
Nagoa-Verna, Goa, Índia
Habitação
A construção da Casa Vasco Figueiredo foi ordenada por Nicolau Figueiredo e reporta ao final do século XIX, segundo se apurou junto de Coleta Figueiredo, esposa de Vasco Figueiredo, atual proprietário da casa. Com um só piso, a Casa Vasco Figueiredo manifesta um enquadramento arquitetónico original, relativamente à tipologia de casas-pátio indo-portuguesas. Com efeito, apresenta duas alas que se correspondem nas extremidades do edifício, sendo cada um delas rematada por um frontão triangular com um óculo circular, exibindo uma cobertura de duas águas, e ostentando, ao centro, uma varanda corrida, recuada, que compreende um alpendre com janelas de sacada.
O interior apresenta uma disposição comum às casas-pátio indo-portuguesas, organizada em torno de um pátio interior, para onde se abrem os vários compartimentos domésticos, conhecido em Goa como rozangon, com origem no raj angon hindu. Assumindo a tradição, observa-se uma cozinha, um vasary, descrito como a casa de jantar e onde se localiza o oratório das famílias cristãs, e um salão, disposto para o exterior.
Os oratórios, enquanto objeto, eram elementos tipicamente presentes nas casas das famílias autóctones cristãs, brâmanes e chardós, ligados a uma importante tradição religiosa, e que deram origem a um espaço físico destinado ao recolhimento e à oração, prenunciando uma determinação ocidental uma vez que neles é manifesta a simbiose entre os temas de matriz cristã, por via dos modelos portugueses, e o fundo religioso local pré-existente. O oratório-altar da Casa Vasco Figueiredo, proveniente da antiga casa da família, encontra-se num aposento próprio, desempenhando a função de capela. Estrutura-se em forma de tríptico, apresenta as paredes do fundo pintadas de azul, e tem ao centro um painel com dois registos. As imagens assentam em nichos de arcos de volta perfeita com moldura. A estrutura do altar é pintada com a técnica de imitação do marmoreado. O remate do painel principal apresenta uma decoração vegetalista com uma flor ao centro. No primeiro registo, ao centro, está exposta a Nossa Senhora do Rosário com o Menino, segurando um terço em vez de um rosário. A ladear a imagem, estão quatro nichos simétricos: no registo inferior, encontra-se São José, à esquerda, e São Pedro, à direita; no registo superior, e na mesma direção, observam-se as imagens de Santo António e Santa Rita de Cássia, envergando o hábito da Ordem dos Agostinhos. No segundo registo, ao centro, está, também num nicho, o Menino Jesus Bom Pastor com o mundo aos seus pés, uma imagem de vestir de vulto pleno. A imagem é ladeada por dois nichos que abrigam São Francisco, à esquerda, e São José, à direita. Ladeando o Menino Jesus Bom Pastor, estão pintados em alto-relevo os fundadores da igreja: do lado esquerdo, São Pedro e, do lado direito, São Paulo. Ao centro, a coroar a composição, está Deus Pai, envolvido numa cartela com dois anjos alados pintados em cada um dos vértices. Estes dois registos remetem para mundos diferentes, o inferior relaciona-se com o mundo terrestre, enquanto que o superior anuncia um mundo celeste, associado a Deus Pai. Nos dois volantes, estão pintados os tetramorfos: do lado esquerdo, observam-se São Lucas e São João, este último assumindo uma iconografia diferente da tradicional, fazendo-se acompanhar-se, não pela águia, mas por uma aparição da Virgem com o Menino; do lado direito, encontram-se São Marcos e São Mateus. Na banqueta deste oratório-altar, pode ver-se uma imagem de Nossa Senhora de Fátima e um calvário. A encimar o altar encontram-se alguns registos ou pagelas. No mesmo espaço, existe um pequeno oratório de pousar, apoiado numa peanha, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, com as imagens do Sagrado Coração de Jesus e do Imaculado Coração de Maria, encimado por um baldaquino.