Escola Primária Completa da Manga (antiga) Escola para a Manga

Escola Primária Completa da Manga (antiga) Escola para a Manga

Beira, Sofala, Moçambique

Equipamentos e infraestruturas

Enquanto, durante os anos 50, os edifícios escolares destinados ao ensino liceal e profissional em Moçambique, continuavam a chegar da metrópole por via do Gabinete de Urbanização do Ultramar, os projectos destinados ao ensino primário começaram a ser pensados, directamente em território Moçambicano, no contexto dos Serviços Técnicos de Obras Públicas de Moçambique.

Distantes da influência directa do poder central, os resultados não poderiam ser mais distintos, e disso é exemplo o projecto de João Aires para a Escola Primária Completa da Manga (1952), em que a monumentalidade e a reprodução de tradicionalismos metropolitanos são substituídas pela expressão da arquitectura moderna, significativa da época, do lugar e do programa específico que lhe dá origem. Da época no uso dos materiais e métodos de construção modernos expressos numa linguagem e espacialidade que lhe são directamente cúmplices; do lugar na resposta directa aos condicionalismos climáticos; do programa na construção de uma escala directamente proporcional aos seus utilizadores que anula por completo a monumentalidade.

Inserida num quarteirão de forma quadrangular e de topografia plana, a Escola Primária Completa da Manga é formada por dois volumes paralelos de larguras semelhantes e comprimentos distintos, unidos por uma galeria de circulação coberta assente sobre pilotis, que os articula perpendicularmente. O volume mais longo, com dois pisos, alberga no piso superior quatro salas de aula e no piso inferior os serviços administrativos e um refeitório. As funções existentes entre a entrada da escola e a galeria de circulação coberta que une os dois volumes são, no piso térreo, acompanhada por um espaço exterior coberto, que funciona como átrio de recepção e de recreio. O volume menor, de apenas um piso, é constituído por duas salas de aula, com a possibilidade de ser ampliado com mais duas salas de aula.

Sob uma métrica de 3m que modela o espaço, em planta e em corte, o ritmo constante dos elementos estruturais, visivelmente assumidos, inclinados relativamente ao plano vertical das fachadas Norte, contribuem para a protecção solar eficiente, através de uma expressão plástica em equilíbrio com as coberturas assimetricamente inclinadas. O acesso vertical entre os dois pisos é assumido volumetrica e plasticamente, diferenciando-se pela cobertura plana e pelo revestimento de pedra, articulado com paineis cerâmicos perfurados. Estrutura, arquitectura e resposta ao clima funcionam como um todo integrado, contribuindo para a equilíbrio do espaço: os pilares salientes formam brise-soleil nas fachadas a Sul; a galeria de circulação coberta assente sobre pilotis é não apenas um percurso sombreado, mas também um recreio e um ginásio ao ar livre; os painéis perfurados animam as fachadas, privilegiando a presença da luz ao mesmo tempo que protegem da radiação solar o percurso interior das crianças nos espaços: começam-se a sentir os primeiros passos na plena exploração do ideário moderno nas construções escolares moçambicanas.

Zara Ferreira

(Referência FCT: PTDC/AUR-AQI/103229/2008)

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