
Liceu Pêro de Anaia
Beira, Sofala, Moçambique
Equipamentos e infraestruturas
O projeto para o Liceu Misto Pêro de Anaia, atual Escola Secundária Samora Machel, na Beira, de 1956, é da autoria dos arquitetos Lucínio Cruz e Eurico Pinto Lopes. O equipamento, localizado a sul da duna de Matacuane ao longo da extensa Avenida 24 de Julho, respeita os princípios difundidos pelo GUU ao implantar-se num lote amplo (8,6 hectares de área), sem limitações para a adequada orientação do conjunto, dando prioridade ao corpo das salas de aulas. Foi inaugurado em 28 de maio de 1959.
A entrada principal realiza-se a sul pela atual Rua do Capitão Pais Ramos. O projeto denuncia uma clara referência às Normas para as Instalações dos Liceus e Escolas do Ensino Profissional nas Províncias Ultramarinas, elaboradas por João Aguiar, Eurico Machado, Schiappa de Campos em 1956, com vista a padronizar a construção deste tipo de edifícios.
As características gerais do projeto aplicam alguns dos princípios utilizados pelo GUU em edifícios homólogos realizados pelos mesmos autores, como a Escola Industrial e Comercial de Freire Andrade que se encontra nas imediações, o Liceu António Eanes na capital moçambicana, ambos de 1956, e emparticular, o pioneiro Liceu D. Guiomar de Lencastre em Luanda (1952).
A preocupação em construir edifícios adaptados ao clima tropical está também presente no grupo de equipamentos escolares preconizados pelo GUU. Os projetos foram desenvolvidos com o objetivo de orientar os eixos longitudinais segundo o eixo este-oeste, orientando os principais espaços interiores (laboratórios, salas de aula, gabinetes, ginásios) de modo a receberem a indispensável ventilação transversal e a iluminação natural de ambos os lados, norte e sul. Esta solução, nem sempre possível noutros projetos, torna-se aqui compatível com o lote de grandes dimensões reservado à implantação do antigo Liceu Pêro de Anaia.
A solução adotada reflete a adequação à funcionalidade do programa e à intenção de tornar o mais autónomas possível as instalações masculinas e femininas. O recurso a um duplo pátio, que caracteriza estes equipamentos, tal como o pórtico monumental que assinala a entrada, com um grande envidraçado, em caixilharia de ferro, que ocupa os três pisos do bloco. No entanto, o ritmo vertical dos pilares introduzidos com a altura total das fachadas distingue o Liceu Pêro de Anaia dos edifícios homólogos.
O liceu projetado para o máximo de 720 estudantes (lotação idêntica às dos liceus de Lourenço Marques e Nova Lisboa), foi inaugurado em 28 de maio de 1959. Há registo de projetos muito semelhantes, caso das escolas técnicas elementares para as regiões moçambicanas de Nampula e Inhambane (Schiappa de Campos e Lucínio Cruz), também de 1956, que surgem como um aperfeiçoamento do edifício escolar para a cidade angolana de Silva Porto (atual Kuíto), dos mesmos autores masligeiramente anterior.
Ana Vaz Milheiro
Coast to Coast - Desenvolvimento infraestrutural tardio na antiga África continental portuguesa (Angola e Moçambique): Análise histórico-crítica e avaliação pós-colonial (ref. PTDC/ATP-AQI/0742/2014)