
Fortaleza
Sena [São Marçal de], Sofala, Moçambique
Arquitetura militar
A povoação viria a ter a primeira fortaleza, construída em madeira e taipa, em 1572, tendo no interior a ermida dedicada a São Marçal e a casa da feitoria. O forte de pedra, construído em data imprecisa, entre 1572 e 1590, foi descrito pela primeira vez por Frei João dos Santos: "Nesta povoação está um forte de pedra e cal, guarnecido de algumas peças de artilharia grossa e miúda, mui bastantes para sua defensão, no qual mora o capitão posto da mão do capitão de Moçambique. Dentro neste forte está a Igreja e a Feitoria". Em 1618 encontrava-se já arruinado, tendo sido reconstruído apenas em 1704, ficando a sua manutenção a cargo dos colonos, obrigados a cuidar de um bastião ou de uma parte da muralha. Este era quadrado, com quatro baluartes, feito de adobes de barro e coberto de palha, sendo guarnecido com catorze peças de artilharia dos calibres de oito, seis, quatro e três, possuindo uma guarnição de cinquenta homens. Em 1884 encontrava-se novamente em mau estado. No relatório do primeiro-tenente da armada, José Maria, então governador interino do distrito de Quelimane, dirigido ao governador-geral de Moçambique, este dizia que o mesmo estava a cair, com a cortina que deita para o rio demolida e substituída por paus a pique. No barracão do quartel chovia por todo o lado, e os armazéns estavam a desmoronar-se. Em julho de 1896, o governador do distrito da Zambézia, ordenava que se procedesse "a um imediato concerto na face da praça que é feita em aringa", isto é, em estacaria. Estas obras, porém, nunca chegariam a realizar-se. Aquando da entrega da praça de São Marçal à Companhia de Moçambique, em 7 de setembro de 1899 (Boletim da Companhia de Moçambique, n.o 148, de 17.10.1899), pode perceber-se o estado de ruína em que se encontrava. A Companhia obrigava-se à sua conservação e a reentregá-la ao Estado, se fosse necessário, nas mesmas condições em que a recebera. Mas logo em 1902, a majestática solicitava obrigação desta dispensa, em virtude do seu estado de ruína e da sua inutilidade, em virtude da pacificação a que tinha sido sujeita toda a região. Nesse mesmo ano, o superintendente do governo de Sena vira-se obrigado a apear a lápide comemorativa da sua construção, em 1704, arrecadando-a na superintendência. Foi reposta no local original, por ordem da Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar. Em 6 de dezembro de 1905, a mesma Companhia, em ofício dirigido ao governador-geral, propunha-se restaurar o portal da fortaleza, já que este era fácil de manter, mas dispensava-se de conservar as ruínas das muralhas. Esta proposta viria a ser aceite pelo então governador-geral. Atualmente, do Forte de São Marçal apenas se mantém de pé o portal, amparado pelas obras feitas em 1905 (com colocação de um padrão celebrativo datado de 1906) e com a sapata de cimento com que, em 1914, se susteve o desabamento iminente do arco, que apresentava uma larga fenda, tendo parte da pedra da fortaleza sido usada noutras construções. A demolição da fortaleza foi sendo questionada ao longo do tempo, chegando a ser visitada, em 1945, pelo arquiteto Areal e Silva, que procedeu a estudos naquele local. O monumento histórico viria ainda a correr outros riscos. Em 1952, o portal esteve para ser transferido para o Museu Histórico-Militar, que se projetava organizar na Fortaleza de Lourenço Marques, juntamente com as pedras da antiga Fortaleza de Sofala. Manteve-se, porém, no lugar, em resultado de uma informação dada pela Direção Provincial de Obras Públicas. Em 1969, uma nova ameaça voltou a pairar, quando os serviços militares portugueses pretenderam também ocupar o monumento, para instalar ali um quartel, o que foi evitado por iniciativa da Comissão dos Monumentos e Relíquias Históricas de Moçambique. A fortificação era de planta sensivelmente quadrada, com baluartes também quadrados nos ângulos. O portal da entrada principal era uma peça de grande qualidade, de característico desenho tardo-seiscentista, com arco redondo e frontão curvo, definido por duas aletas e ladeado por pináculos, exibindo ao centro uma inscrição e sobre ela o escudo português em pedra. A sua configuração pode ser documentada através de fotografias publicadas na revista Monumenta n.o 5 de 1969 (a seguir à p. 45). O governo moçambicano manifestou em 2008 a intenção de proteger e preservar as suas ruínas. O portal da Fortaleza foi reproduzido em postal de c. 1920, ed. A. Brook