Rádio Nacional de Angola (antigo Centro de Radiodifusão de Angola)
Luanda [São Paulo de Luanda], Luanda, Angola
Equipamentos e infraestruturas
Localizado na Avenida Comandante Gika, a Rádio Nacional de Angola (1963 – 1967) é uma mega-estrutura brutalista, a Nascente do Bairro de Alvalade, com uma presença icónica no tecido urbano de Luanda.
O edifício é desenhado por Fernão Simões de Carvalho (1929-), em conjunto com José Pinto da Cunha (1921-1985) e Fernando Alfredo Pereira (1927-), no âmbito do concurso “Plano Radiodifusão de Angola”, promovido em 1961 pelo Centro de Informação e Turismo de Angola.
Fernão Simões de Carvalho realiza, em 1957, o Concurso para a Obtenção do Diploma de Arquitecto (CODA) respeitante a um Centro de Televisão, pelo que em 1961 se apresentará como um candidato experiente e com conhecimento profundo gerado pelas visitas de estudo realizadas às casas de rádio de França (Paris, Rennes e Estraburgo), Alemanha (Banden-Banden e Hamburgo) e Holanda (Amesterdão e Hilversum).
O projecto construído corresponde apenas à primeira fase do projecto contemplando o Bloco de Estúdios, e um edifício de Oficinas, localizado a Nordeste do lote, com uma área total de construção de 11 500 m2.
O Bloco de Estúdios é um volume paralelepipédico rectangular orientado segundo o eixo Noroeste-Sudeste, e implantado junto à via principal no centro do terreno libertando área para a definição de zonas ajardinadas na envolvente do edifício. A modelação da topografia permitiu a definição de um piso principal ao nível da rua de acesso, ao qual se acede através de um volume-ponte localizado na fachada principal a Noroeste, e um piso semi-enterrado para áreas técnicas e de armazenamento. O átrio de entrada é um espaço semi-exterior revestido a mármore branco e tijoleira, onde é desenhado um espelho de água e uma pérgula de sombreamento, e pelo qual se acede ao volume saliente na cobertura que corresponde ao estúdio polivalente.
A planta de base rectangular tem 101,35 metros de comprimento por 64, 75 metros de largura, e é concebida a partir do sistema métrico do Modulor de Le Corbusier, organizado segundo módulos de 3,66 metros. O programa é disposto e organizado a partir de um corredor principal longitudinal iluminado por lanternins circulares. Entre este corredor e a fachada Nordeste localizam-se os estúdios de gravação e montagem, bem como cabines técnicas diversas, entrepostos com a presença de pátios ajardinados que funcionam como poços de luz permitindo iluminar e ventilar as circulações do piso semi-enterrado. Entre o corredor e a fachada Sudoeste estão localizados os estúdios de gravação musical e as respectivas áreas técnicas.
O edifício é um enorme volume envolvido por grelha de betão profunda que cobre a fachada envidraçada composta por caixilharia de lâminas de vidro móveis tipo Beta possibilitando o sombreamento e a ventilação do interior. Nas fachadas Sudoeste e Nordeste é desenhada uma grelha profunda de betão em retícula que se debruça sobre um espelho de água ao longo de toda a fachada Sudoeste, e sobre um jardim na fachada Nordeste. Nas fachadas Noroeste e Sudeste, numa exposição solar menos favorável, são definidas lâminas verticais orientadas a 45º sobre a base. Na fachada principal a Noroeste a excepção é conferida através de uma superfície opaca revestida a tijoleira vidrada. O tratamento da fachada através destas soluções de grelhas de betão diferenciadas é emoldurado pela espessura da laje de pavimento e pela viga superior, linhas horizontais de grande expressividade que limitam todo o volume.
A Rádio Nacional de Angola está claramente referenciada às pesquisas do béton brut de Le Corbusier presentes em projectos como o Convento de La Tourette em que Fernão Simões de Carvalho participou.
O edifício mantém-se em funcionamento e em bom estado de conservação, tendo sido adicionadas algumas construção precárias que inibem a leitura do conjunto.
Original de Ana Magalhães
(FCT: PTDC/AUR-AQI/103229/2008)
Adaptação de Ana Tostões e Daniela Arnaut.