Fortaleza
Qurayat [Curiate], Golfo Pérsico | Mar Vermelho, Omã
Arquitetura militar
A propósito ainda deste lugar, Pedro Barreto de Resende/António Bocarro descrevem‐no e representam‐no no século XVII como estando localizado a doze léguas de Muscate, "pêra o Cabo de Rosalgate sita na costa braba a borda da praya", não dispondo de um rio ou enseada apropriado para a navegação, mas apenas de um ilhéu que se ligava a terra firme e era alagado com as marés mais fortes. No ilhéu existia um baluarte, "couza pequena do tamanho de uma caza de dez paços andantes de praça em quadro", construído num outeiro para vigiar com a artilharia a terra e o mar, embora, na ocasião da visita dos autores que vimos seguindo, já não dispusesse de artilharia. Quanto à Fortaleza de Curiate, localizada junto à praia, é um quadrado imperfeito, sendo "hu pouco mais comprida que largua, e terá de comprimento nos dous lanços de muro que vão da praya pera terra dentro sincoenta paços andantes e nos outros dous de largura que corre a borda da praia trinta". Os muros eram de adobe, como todos os que os mouros faziam na Arábia, e tinham quatro braças e meio de altura por três palmos de grossura, sem parapeitos "mais que seteiras" e quatro baluartes em cada um dos cantos do quadrado "com dez paços andantes de vão com seus sobrados, que serve hum vivenda do Capitão Português, que aqui assiste". Segundo os autores, "A fortaleza que dizemos esta mais interior desta fica hum tiro de falcão pella terra dentro entre huns palmares pêra os defender, he em triangulo; cada lanço de muro de dez paços andantes de comprimento três braças e m.a de alto, e dois palmos e m.o de largo de adobes sem parapeito e com seteiras". Terminam, lamentando que já não hou vesse artilharia, restando as espingardas dos lascarins. Em 1983 era praticamente esta a panorâmica que se podia ter do forte e do lugar de Qurayat, e dizemos praticamente e não exatamente porque dos quatro baluartes referenciados, apenas um de facto existia. Restaurado pelo Ministry of National Heritage and Culture em 1983-1986, o Forte de Qurayat mantém até hoje a mesma estrutura, ainda que toda a envolvente tenha sido profundamente alterada. Hoje, em vez do areal que separava o forte do mar existe uma marginal cortada por uma marina de embarcações de recreio, construída de então para cá e fruto da significativa transformação operada no sultanato nos últimos vinte anos do século passado, o que lhe roubou todo o encantamento que encontramos nas descrições de Brás de Albuquerque e António Bocarro e estava tão presente ainda no início da década de 80 do século pas sado. António Bocarro diz, e os autores contemporâneos corroboram, que o forte tinha sido construído em adobe, segundo a tradição árabe, no entanto aqui, como em muitos outros lugares da costa de Omã, tal não se verifica, por ser toda ela rochosa. Este Forte de Qurayat, bem como as torres mencionadas, a circular do ilhéu e a triangular do outeiro, são todos em alvenaria irregular rebocada, como são em alvenaria os outros fortes portugueses, nomeadamente todas as fortificações de Muscat, Mutrah, Birka e Sohar. O Forte de Qurayat era portanto em alvenaria rebocada e caiada, e assim se mantém. O quadrilátero tem um portão virado a oriente e a torre é de secção redonda com dois pisos. No outeiro em que Afonso de Albuquerque "fez forte" e que Bocarro tão bem descreve, encontra-se também a torre triangular. Ao tempo dos portugueses a importância da cidade na defesa desta costa de Omã permitia-lhe ter uma igreja, então dirigida pelos frades agostinhos.