
Muralha e Castelo
Azemmour [Azamor], Norte de África, Marrocos
Arquitetura militar
A questão em torno da realização de um atalho em Azamor esteve em discussão desde os primeiros dias, baseada na irregularidade dos abastecimentos por mar devido ao assoreamento da barra. A redução do seu perímetro defensável assumia‐se como a principal decisão a ser tomada a curto prazo. O processo do atalho arrastar‐se‐ia até 1520 e manifestar‐se‐ia em duas frentes, uma física ou construtiva - castelo, vila velha - e uma outra social - a deslocação populacional. Já desde os finais de 1513 que D. João de Meneses, capitão do campo de Azamor, apresentara ao monarca português a proposta que vingaria como traçado do muro de atalho: um novo braço de castelo estender‐se‐ia linearmente da alcáçova moura à antiga mesquita, onde desenharia uma inflexão para norte, prosseguindo reto até encaixar na muralha oriental, sobre o rio. Na extremidade de terra construía‐se o baluarte circular de São Cristóvão, enquanto que o dente do atalho ficaria marcado pelo baluarte retangular da Vila, Castelo, Sertão ou Campo, que incluía uma igualmente denominada porta, esta de arco de volta perfeita, com arquivolta e ombreiras chanfradas. Tratava‐se de uma estrutura para flanqueamento do restante segmento até ao mar, através de duas bombardeiras. A extremidade sobranceira ao rio era rematada por outro baluarte, apontado e semicircular, com bocas de fogo que se orientavam para terra e para o rio.
À frente dos trabalhos aparecem os mestres das obras Diogo e Francisco de Arruda. Dirigiam a ereção dos baluartes de São Cristóvão e do Raio, voltados para o termo da vila e considerados suficientes para assegurar a sua defesa desde que apetrechados com bombardas poderosas. Ambos apresentavam coroamentos, ainda visíveis na atualidade, caracterizados por sacadas ao jeito de matacães. Deste modo, prevenia‐se a aproximação pelo inimigo à base do baluarte através do tiro e jorramento verticais e não pela construção de alambor.
Já em 1517, surgia o Regimento da obra do muro e atalho da cidade dezamor. Tratava‐se de um importante instrumento legal com concretas determinações. A secção inferior do muro projetado compunha‐se de taipa reforçada por uma argamassa de cal e dispunha‐se numa largura de oito palmos por vinte de altura. Assentaria sobre alicerces de pedra e argila com oito palmos de altura que ultrapassavam em um palmo, para ambos os lados, a base do muro. No topo, o caminho de ronda era defendido por um peitoril ameado, largo de dois palmos e meio. O regimento vinha confirmar as primeiras sugestões de traçado. Os trabalhos do atalho seriam dados como terminados em 1520, pelo governador de então, D. Álvaro de Noronha, o mesmo que havia completado o arrasamento da vila velha um ano antes, à exceção das muralhas árabes.
Apesar das hesitações referentes à execução do plano total do atalho, a fortificação do castelo concentrou os esforços construtivos no quadrilátero resultante. Tardava a conclusão de um fosso circundante, iniciado logo em dezembro de 1513. Descrito o muro do atalho acima, correspondente ao lado sul do castelo, o recinto encerrava‐se a ocidente por uma muralha ligeiramente flectida, nas extremidades da qual se destacavam os baluartes de São Cristóvão e do Raio. Deste último lançava‐se uma cortina reta em direcção ao rio, reforçada por alambor que, por sua vez, ajudava a cavar o fosso seco. Era interrompida por um baluarte de planta em U, apetrechado com peças de artilharia que varriam os flancos e quebravam a extensão do pano amuralhado. O muro norte terminava numa torre quadrangular de arestas curvas, hoje uma reconstrução sobre base portuguesa. Neste ponto, a muralha setentrional portuguesa articulava‐se com uma frente de rio que aproveitava o contorno preexistente. Foram introduzidas duas inflexões ou dentes, menos pronunciados que o Baluarte da Vila mas importantes para a proteção da Porta da Ribeira.