
Estação Ferroviária
Beira, Sofala, Moçambique
Equipamentos e infraestruturas
Em Moçambique, o conjunto da Estacão do Caminho-de-ferro da Beira (1958-1966), de Paulo de Melo Sampaio (1926-1968), João Garizo do Carmo (1917-1974) e Francisco José de Castro (1923-) é obra inaugural de expressão iconográfica intensa, marcando o apogeu da modernidade cosmopolita da cidade da Beira e testemunhando a importância estratégica da cidade como ponto de escoamento de produtos e viagens de passageiros para o centro do continente subsariano de África ligado à existência do porto da Beira, através do designado “corredor da Beira”.
A Estação Ferroviária a maior obra pública alguma vez realizado na cidade de Beira, surge com o desenvolvimento e construção de infra-estruturas realizado desde meados da década de 1950, incentivado pela aplicação dos Planos de Fomento. Localizada numa área prevista pelo Plano de Urbanização da Cidade da Beira (1943-1951), está implantada na margem direita do rio Chiveve, a Norte da baixa da cidade, desenha a frente urbana Nordeste do antigo Largo Manuel António de Sousa, hoje designado por Largo dos Caminhos de Ferro.
Em 1958, a Administração dos Caminhos-de-ferro solicita uma consulta técnica ao arquitecto dos serviços municipais, Bernardino Ramalhete (1921-), com o objectivo de constituir uma equipa para desenvolver o projecto da Estação. Assim, é sugerida a constituição de uma equipa com os principais arquitectos residentes na Beira. O plano geral da estação é definido pelos três arquitectos, onde são ddeterminadas três áreas funcionais a que correspondiam volumetrias distintas: o átrio, desenhado por João Garizo do Carmo, os terminais ferroviários a Francisco Castro, e o edifício de escritórios e coordenação da obra, Paulo Melo Sampaio. O projecto de estruturas é da autoria do engenheiro Marcelo Moreno Ferreira.
O átrio é constituído por uma nave abobadada, com 55,40 metros de comprimento por 25,40 metros de largura, formada por 7 arcos parabólicos, encostada de forma assimétrica ao edifício de escritórios. A entrada é marcada por uma laje horizontal suspensa por cabos de aço embutidos na caixilharia. O grande átrio da gare está desnivelado relativamente à cota do Largo e o acesso é feito por duas rampas dispostas simetricamente. Na extremidade Noroeste deste espaço é desenhado um volume paralelepipédico “suspenso” onde está instalado o bar da estação.
O bloco de escritórios, corresponde a um prisma rectangular com 78,40 metros de comprimentos e 16,50 metros de largura, com 8 pisos de altura elevado sobre pilares, cuja volumetria é definida, tal como refere Ana Magalhães, através de “”caixas” sobrepostas que criam longas aberturas entre pisos”. Como resposta à protecção solar, Paulo Melo Sampaio desenha um sistema de brise-soleil verticais reguláveis, criando um alçado que se metamorfoseia ao longo do dia e conforme as necessidades dos utentes.
Os terminais ferroviários são protegidos por coberturas formadas por lajes em consola pontuados por pilares centrais. No limite Sudeste do lote localiza-se um “edifício-muro”, cuja cobertura é desenhada a partir de um sistema de 27 abóbadas em betão, onde estão instalados serviços de apoio e manutenção ferroviária.
A articulação entre os três volumes é realizada através de uma laje aberta no centro, formando um pátio.
O sentido de unidade e o equilíbrio compositivo da Estacão do Caminho-de-ferro da Beira é garantido pela escala dos três elementos que a compõem, e acentuado pelo recurso ao revestimento em pastilha vidrada que constitui a identidade deste conjunto construído, nomeadamente no revestimento do pavimento da Gare que se prolonga sobre o edifício de escritórios, e nos murais presentes na fachada da Gare, de Jorge Garizo do Carmo (1927-), ou a escultura de José Pádua (1934-) presente no espelho de água entre a gare e a sala de espera da estação.
O projeto é uma interpretação exemplar da linguagem internacional no período pós-guerra, uma obra madura no contexto da arquitectura moderna em Moçambique, e síntese dos percursos de cada um dos arquitectos intervenientes.
A Estação encontra-se em razoável estado de conservação.
Original de Ana Magalhães e Elisiário Miranda.
(FCT: PTDC/AUR-AQI/103229/2008)
Adaptação de Ana Tostões e Daniela Arnaut.