Igreja de São Tomé

Igreja de São Tomé

Thumpoly, Kerala, Índia

Arquitetura religiosa

Se as circunstâncias especiais que envolvem a construção da Igreja de São Tomé de Thumpoly podem explicar a sua monumentalidade, a presença de Giacomo Fenicio como responsável do projeto explica o seu coerente programa arquitetónico e importância na evolução da arquitetura da região.
Em 1584, Giacomo Fenicio foi nomeado responsável da Missão de Santo André, onde esta igreja se integrava. Tendo sido professor de matemática e astronomia na corte do rei de Cochim, este culto padre jesuíta assumiu, ao longo da vida, a construção de várias igrejas na região, como nos dão notícias várias cartas jesuítas deste período.
O estabelecimento de relações de amizade e cooperação entre o rei de Cochim e a Missão levaram a que em 1590 tenha sido autorizada a passagem da antiga igreja a um edifício de pedra e cal, iniciando‐se em 1602 a construção com grande solenidade, marcada pela presença do próprio rei de Cochim.
Na estrutura da fachada da igreja, dividida por colunas adossadas, destacam‐se dois tramos em forma de torreões que reforçam a articulação com galerias laterais, servindo, a partir do andar térreo, de acesso à varanda do primeiro piso dessas galerias. Com dois pisos, esta galeria caracteriza‐se por uma estrutura de alvenaria, com arcos de volta perfeita e varanda dividida por fortes pilares. O seu desenho revela afinidades com os primeiros exemplos de fachada em galeria da arquitetura civil, onde a inspiração nos claustros de dois andares é mais evidente. Quanto às torres, hoje pouco salientes e alteradas nos remates superiores, são uma exceção à tipologia comum das igrejas indo‐portuguesas do sul da Índia, acentuando uma vez mais a atitude experimental de Giacomo Fenicio.
A estrutura interior apresenta uma ampla nave, onde todo o enfoque é dado ao altar‐mor, cujo arco triunfal é ladeado por dois altares com retábulos. Ainda no interior da igreja, o tratamento dos alçados laterais revela um esquema decorativo em gesso, num gosto vincadamente arquitetónico.
Se a igreja de Thumpoly, em sintonia com a grande maioria da arquitetura religiosa, sofreu alterações no desenho das janelas e portas, o rigor geométrico do seu programa arquitetónico, na cuidada articulação entre nave, galerias e fachada, permaneceu com a estrutura e concepção originais. A atestar este facto, o tardoz dos corpos torreados da fachada guarda uma antiga fenestração, em arco de volta perfeita, e um remate em frontão clássico, encimado por pináculo em bola de canhão, típicos da arquitetura portuguesa, que nos permitem avaliar o primitivo desenho da igreja, no século XVII.
Ao definir‐se como uma igreja de cinco tramos com galerias ao longo dos alçados laterais concebida nos inícios do século XVII, São Tomé de Thumpoly permite‐nos estabelecer um primeiro marco essencial para o estudo da evolução desta tipologia de igreja, particularmente interessante na história da arquitetura indo‐portuguesa, e que se desenvolveu com especial magnitude na comunidade dos "cristãos da serra".

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