
Igreja e Terreiro de Santo Agostinho
Ramapuram, Kerala, Índia
Arquitetura religiosa
Pelo seu programa arquitetónico, de assinalável complexidade e exotismo, a igreja de Ramapuram é, sem dúvida, um dos mais interessantes casos de influência cultural e artística recíproca entre as arquiteturas portuguesa e a indiana.
Colocada no alto de uma colina, a aproximação à igreja realiza‐se por um terreiro fronteiro marcado por um grande cruzeiro de granito. No alto abre‐se uma larga escadaria que dá acesso ao interior de um segundo terreiro, envolvido por sua vez por altos muros. O troço frontal deste muro de envolvimento apresenta‐se como uma fachada de elaborada composição arquitetónica, com uma sequência de portas e portais enquadrados simetricamente por duas graciosas casas que se erguem nas extremidades do muro, com varandas de sofisticada estrutura de madeira e elegante telhado de quatro águas. Tal como nos templos, era aqui que, durante as cerimónias, se instalavam os músicos, os quais, pertencendo a uma classe mais baixa, não tinham acesso ao interior do terreiro. É, porém, a originalidade e exuberância do desenho dos dois grandes portais deste muro que dotam o conjunto de um carácter quase insólito. Estes portais, ao situarem‐se no enfiamento das duas igrejas que se erguem no interior do segundo terreiro, conferem a todo o conjunto uma unidade arquitetónica e um sentido processional com fortes afinidades aos terreiros dos templos hindus, que tendem a constituir‐se por vários edifícios dedicados a diferentes deuses.
Colocadas lado a lado, mas com proporções diferentes, a igreja mais pequena é a primitiva, tendo hoje funções de cemitério. As reduzidas proporções desta igreja terão levado à sua substituição por uma nova de maiores dimensões, sendo do período da nova construção o elaborado arranjo arquitetónico do conjunto. É, porém, a igreja do cemitério que manifesta uma maior qualidade estética pelo programa de fachada, de desenho maneirista. Pilastras toscanas colocadas nos extremos estabelecem, pela simplicidade e robustez, uma moldura na composição da fachada de cinco tramos. Em contraponto, o tramo central é enfatizado por pares de colunas coríntias, concentrando as atenções visuais no eixo central da fachada, onde podemos observar uma elaborada decoração de baixos-relevos. Atestando a sua antiguidade, a igreja‐cemitério apresenta um característico corpo torreado sobre o altar‐mor, com uma cobertura de telhado de quatro águas. Esta estrutura faz salientar o lugar do altar, em clara sintonia, mais uma vez, com os templos hindus.
Mais recente, a atual igreja segue uma estrutura e desenho maneirista mais simplificados, fazendo perdurar num período tardio do século XVIII os esquemas desenvolvidos na época maneirista de influência portuguesa. A fachada sul da igreja exibe, no entanto, uma bela galeria de colunas toscanas, com varanda em madeira de elaborado desenho, que acentua o requinte com que se desenvolve toda esta arquitetura.
Nos seus interiores as duas igrejas seguem um programa de uma nave, com arco triunfal marcando a passagem para o altar‐mor, com retábulos laterais. De salientar as pinturas das traves e asnas do teto, assim como a decoração em talha.