Igreja de São Sebastião e Casa Paroquial

Igreja de São Sebastião e Casa Paroquial

Chelanam, Kerala, Índia

Arquitetura religiosa

A igreja de Chelanam deve a sua importância, sobretudo, ao programa urbanístico adotado no seu grande largo fronteiro. Situada no topo de um vasto retângulo, a igreja organiza à sua volta um conjunto de edifícios que, incluindo casa paroquial, escola, cemitério, cruzeiro e habitações, estruturam só por si toda a vida religiosa e social desta pequena comunidade de pescadores macuas. Dotado de uma marcada unidade, este conjunto edificado corresponde a um raro e notável programa de aldeia jesuíta, que aqui aparece como uma precoce experiência urbanística. Casa paroquial e escola formam uma frente urbana de notável qualidade, com uma fachada que, desdobrando‐se em arcarias e colunatas, propicia um quotidiano ao ar livre. Com um primeiro piso de cinco janelas sobre uma arcada, a casa paroquial apresenta‐se como um raro exemplo de arquitetura doméstica. Se no desenho da fachada o edifício parece aproximar‐se dos modelos europeus do século XVI e XVII, a estrutura interna revela uma profunda influência indiana, testemunhando a primeira fase de formação de um modelo de casa colonial que se virá a divulgar na região do Kerala por influência portuguesa. Na sua estrutura interna, o primeiro andar desenvolve‐se com um amplo corredor‐galeria em U, que se estende às duas fachadas laterais, envolvendo um núcleo interior de quartos. Afastando‐se de qualquer modelo europeu, a estrutura deste edifício conforma‐se em dois retângulos concêntricos: um de maior proporção, correspondendo às paredes exteriores do edifício, e um segundo retângulo interior, mais pequeno, correspondendo à habitação propriamente dita. As circulações realizam‐se entre as paredes dos dois retângulos, funcionando este corredor‐galeria como caixa‐de‐ar de arejamento e proteção solar, sem qualquer relação com o desenho da fachada. Ao nível do piso térreo, a fachada da residência de Chellanam abre‐se numa galeria de arcos de volta perfeita interrompidos por pilastras, num desenho de inspiração clássica que veremos repetir‐se em vários casos mais tardios, tornando‐se uma característica deste modelo. De salientar, para a compreensão dos fenómenos de inter‐influência cultural que este caso representa, que a utilização do arco era desconhecida na arquitetura do sul da Índia, sendo estas arcarias um dos elementos arquitetónicos mais característicos da influência portuguesa nesta área. Como complemento do conjunto urbano do terreiro ergue‐se, ao fundo, um cruzeiro que, em contra‐ ponto com a igreja, dota este espaço de um ambiente propício às funções litúrgicas e a uma marcada ritualidade, como é típico dos terreiros dos templos hindus. Contrariamente aos edifícios da casa paroquial e da escola, que mantiveram a sua estrutura original, a igreja sofreu, ao longo do século XIX e XX, significativas transformações. No século XIX, a fachada sofreu alterações no desenho dos vãos das janelas, tendo sido reformulada, no século seguinte, a capela‐mor numa estrutura de betão armado. O interior preserva, no entanto, a estrutura original da nave, com duas interessantes galerias laterais.

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