
Palácio do Deão
Quepém, Goa, Índia
Habitação
Dado o desaparecimento da quase totalidade da arquitetura civil construída pela nobreza portuguesa, o Palácio do Deão, em Quepém, adquire uma particular importância para a análise das tipologias indo portuguesas. O seu jardim mantém ainda vários elementos dispersos como lago, casa de fresco, mirante, balaustra das, vasos e fogaréus, que nos revelam tratarse de um jardim de grande complexidade, sem paralelo em Goa, a não ser por referências na documentação antiga. A construção da casa devese ao padre José Paulo da Costa Pereira de Almeida, que veio como cónego para a Índia, em 1780, na comitiva do arcebispo Frei Manuel de Santa Catarina. Posteriormente nomeado deão da Sé de Goa, o rico prelado dá início à construção do palácio no ano de 1787, data em que, oficialmente, inicia as obras da Igreja de Santa Cruz de Quepém, como é referenciado numa lápide que se encontra no cruzeiro do adro da mesma igreja. Na sua estrutura, o edifício, embora mandado construir por um prelado nascido na Europa, incorpora hábitos indoportugueses, como o facto de se organizar num só piso térreo, contrariamente ao conceito tradicional de casa nobre portuguesa, sempre com dois andares e piso nobre a marcar o primeiro andar. Quanto ao desenho e estrutura da fachada, o palácio apresenta igualmente aspectos particularmente interessantes e sem paralelo na arquitetura metropolitana. Confirmando a permanência de uma tradição maneirista, a fachada desenvolvese numa estrutura tripartida com fortes pilastras coríntias. O pórtico de entrada, formando nártex, é equilibrado em cada extremo da fachada por duplas pilastras, que sugerem dois pequenos corpos distintos. No século XVIII os telhados deveriam ser ainda em tesoura, como se pode verificar no desenho de Lopes Mendes. Nesta altura, os flancos da fachada formariam dois pequenos torreões coroados por telhado autónomo e em bico, como acontece ainda no palácio dos Santana da Silva, em Margão, construído na mesma altura. A capela colocada na zona de entrada, rigorosa mente no eixo da casa, aproximase, pela familiaridade e sentido de quotidiano, de um conceito de altar hindu. As afinidades com o palácio dos Santana da Silva, em Margão, são mais que evidentes. Em ambos os casos, em frente da capela desenvolvese uma longa escadaria que permite uma clara distribuição da assistência segundo os seus níveis sociais. As traseiras da casa apresentam outro elemento particularmente interessante. Na tradição hindu, o edifício desenvolve uma longa casa de jantar: o vasary. A meio desta sala abre-se perpendicularmente uma vasta varanda de colunas, que avança sobre o jardim, adquirindo todo o conjunto um raro sentido de recreio e lazer. Por testamento, o deão doou o palácio para residência de recreio dos vicereis. O palácio foi desenhado por Lopes Mendes quando aqui esteve em 1862. Nesta época o edifício já tinha sofrido algumas alterações, que lhe haviam retirado o seu espírito barroco, como é o caso das escadarias da entrada, de linhas neo clássicas.