Igreja de Santo Estêvão
Juá [Ilha de Santo Estêvão], Goa, Índia
Arquitetura religiosa
A igreja atualmente existente, a terceira construída no local, está datada de 1759 e a obra partiu de iniciativa da comunidade. É uma igreja de nave única com quatro capelas laterais de planta quadrangular por lado - e não nichos ou capelas à face como é habitual em Goa - coberta por abóbada de arestas com penetrações entre arcos rebaixados - tipo de cobertura também invulgar em simples igrejas paroquiais. A capela‑mor apresenta dois nichos semicirculares concheados em cada um dos lados e está coberta pelo mesmo tipo de abóbada que a nave. Santo Estêvão constitui, portanto, uma síntese entre o tipo de igreja goesa com nichos semicirculares e abóbada de penetrações e o tipo com capelas laterais que vemos na Piedade de Divar, precedente que pode ter constituído, para a comunidade de Juá, o modelo a emular - e até a ultrapassar. De facto, Juá é ilha vizinha de Divar mas os notáveis católicos locais são de casta chardó e não brâmane, como os divarenses. Articula os alçados interiores a sobreposição de uma galeria cujos arcos estão emoldurados por colunas torsas a uma ordem inferior compósita apilastrada. A mais interessante diferença em relação à articulação de Santana de Talaulim, com a qual os alçados interiores de Santo Estêvão têm mais semelhanças do que com a Piedade de Divar apesar de só apresentarem dois andares, reside no facto de a galeria superior ser constituída por janelas de sacada suportadas por varandas que foram colocadas a prumo dos arcos das capelas, na nave, e dos nichos, na capela‑mor. Santo Estêvão diferencia-se de todas as igrejas anteriores das Ilhas sobretudo pela fachada frontal de falso zimbório entre torres, ou fachada cupoliforme, como José Pereira designou este tipo. Trata‑se de um plano de alvenaria colocado entre as torres, que vira à frente uma composição em relevo representando um tambor, uma cúpula e um lanternim. Santo Aleixo de Calangute, em Bardez, cuja obra teve início em 1741 e se concluiu em 1765, costuma ser apontada como o primeiro exemplo de igreja de fachada cupoliforme. O novo tipo de fachada - sem quaisquer precedentes conhecidos em qualquer parte do mundo - deve ter sido erguido primeiro em Juá e depois utilizado em Calangute, já no final da obra de Santo Aleixo, cuja fachada só começou a ser construída em 1765. Para isso aponta o pioneirismo da arquitetura das Ilhas, uma constante na história de Goa, e o facto de a Igreja de Santo Estêvão ser muito mais rica que a de Santo Aleixo (desde logo é abobadada). A fachada cupoliforme é uma criação original dos arquitetos goeses inspirada evidentemente no italianismo da igreja dos teatinos de Velha Goa, cuja fachada se concluiu no final da década de 1670. Querendo inventar um tipo de fachada diferente da tradição portuguesa, os arquitetos de Goa no século XVIII resolveram à maneira da cenografia teatral, ou seja, para a vista de quem está colocado axialmente ao objeto, o problema que a cultura arquitetónica italiana, e europeia em geral, só muito raramente conseguiu resolver no espaço a três dimensões: como articular torres e zimbório num plano único. Santo Estêvão de Juá é das igrejas mais espetacularmente situadas de Goa, onde abundam localizações magníficas. A Igreja de Santo Estêvão foi construída num extremo isolado da ilha, a fachada virada a poente, com um cemitério coberto situado à ilharga sul e um terreiro à frente.