
Igreja de Nossa Senhora de Belém
Dongri, Área Metropolitana de Mumbai (Bombaím), Índia
Arquitetura religiosa
Esplendidamente localizada num sítio ainda intocado pela urbanização de Salcete, a fachada virada a norte, ao largo do rio de Baçaim, com a antiga cidade escondida pelo coqueiral e a bruma na outra margem a noroeste, a Igreja de Nossa Senhora de Belém de Dongri mantém provavelmente o perímetro murário, o tipo arquitetónico, o terreiro onde se localiza e a situação relativamente ao povoado com que terá sido fundada pelos jesuítas cerca de 1613. Esta data, apensa à fachada já no século XX, corresponde à colocação do primeiro pároco, Francisco de Azevedo, SJ. A igreja é de nave única coberta de telhado e capela‐mor com abóbada ou teto liso de canhão, rebocado, mas é natural que seja ou tenha sido abóbada, a julgar pela presença exterior de contrafortes. A fachada apresenta três tramos, três portas em arco, sendo a central a maior, e duas sineiras a que correspondem mais dois tramos muito estreitos. O argumento essencial a favor de que o perímetro murário da igreja seja ainda primo‐seiscentista é a forma interior de algumas janelas: redesenhadas modernamente de forma gótica, mantiveram o característico recorte em asa de cesto que encontramos por toda a parte no norte e, aqui e ali, em Goa ou Kerala, em edifícios de Quinhentos ou Seiscentos. Em 1902 foi feita e cronografada com esta data a obra da escada que, a sul, por detrás da sineira do mesmo lado, dá acesso exterior ao coro alto sobre a entrada. A frente lateral sul, onde se abre uma porta para a nave, comporta‐se como segunda fachada. De facto, a igreja, implantada num vasto terreiro, volta esta frente à aldeia, ainda hoje essencialmente composta por casas católicas de tipo tradicional (uma delas datada de 1933), enquanto a fachada frontal se volta ao terreiro e, para lá dele, ao rio. Uma inscrição moderna dentro da igreja, mais explícita e em inglês, atribui ao vigário Pascoal Collaço a renovação da igreja em 1916, sob autoridade do arcebispo de Damão, Sebastião José Pereira. Correspondem certamente a esta campanha de obras a forma gótica exterior da maior parte dos vãos, o pavimento cerâmico e o teto da madeira da igreja, os altares laterais góticos e até o altar‐mor, cuja forma parece ser uma variação a partir dos altares barrocos de Baçaim que existem bastante perto na Igreja de Gorai (transferido da velha para a nova no início do século XIX) e, do outro lado do rio, em Manickpur. É provável que corresponda também a esta campanha de obras o redesenho da empena e a redecoração da fachada principal de igreja. Com exceção do perfil dos vãos, que é o original, tanto a cornija ondulante como os pináculos art nouveau, as sineiras, os ornatos e até as pilastras (que substituem outras mais antigas, cujos traços permanecem na fachada) parecem ser primo‐novecentistas.