Ruínas da Igreja da Santíssima Trindade
Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso, Brasil
Arquitetura religiosa
A construção da matriz mereceu atenção especial do fundador de Vila Bela. Logo na sua chegada, o governador tinha pedido ao bispo do Rio de Janeiro para transferir para Vila Bela a freguesia então instalada no arraial de São Francisco Xavier da Chapada, o que foi prontamente efetuado. O governador apressou‐se assim a construir, à sua conta, uma pequena capela para a vila, a qual se fez ao lado da "palhoça" onde então vivia, nas proximidades do rio. As primeiras cheias encarregaram‐se de destruir essa capela, assim como as próprias instalações provisórias do governador. Tal facto obrigou à construção de outra capela na praça principal, no local que estava destinado para a matriz desde a fundação da vila. Rolim de Moura afirmava que não podia exigir o contributo apenas dos moradores, pois estes já tinham arcado com a edificação da matriz anterior no arraial. A Irmandade do Santíssimo Sacramento tomou para si esta responsabilidade, assumindo a construção da igreja sem custos para o Estado. Em 1764, os representantes da câmara de Vila Bela dirigiram ao rei uma súplica pedindo que a fazenda real financiasse a construção da matriz, que se encontrava em ruínas. Nessa altura, o processo não teve qualquer resposta por parte do Conselho. Em 1769, já no período de administração de Luís Pinto de Sousa Coutinho, o próprio governador voltou a dirigir o pedido dos moradores ao Conselho, alegando a sua intrínseca justiça e desculpando‐se pelas irregularida‐ des do primeiro pedido, pois os representantes da câmara não tinham cumprido todos os requisitos necessários para apelar à piedade régia. Nessa segunda ocasião, o pedido seguiu acompanhado de todos os pareceres necessários e de um projeto da igreja a ser construída. O desenho é bastante similar à Igreja de Nossa Senhora de Santana do Sacramento (Chapada dos Guimarães). Desta vez houve resposta do Conselho. Em 21 de agosto de 1770 os ministros deliberaram que, apesar da eventual justiça do pedido em si, achavam que o projeto proposto talvez fosse "exorbitante" em termos de custos e diziam que a obra deveria ajustar‐se à "possibilidade do povo". A natureza de tal parecer obrigava a recomeçar tudo de novo, posto que se exigiam novas consultas ao provedor e ao governador para que reavaliassem o projeto. Mais anos se passaram. Luís Pinto de Sousa não chegou a rever o processo que, para todos os efeitos, continuava sem resposta positiva do Conselho. Só em 1773 o processo da igreja teve novo andamento. O governador a quem coube responder à consulta pedida pelo Conselho era já Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. Novamente alegava que a obra não só era imprescindível, como não lhe parecia nada exagerado o custo que os oficiais da câmara tinham apresentado. O provedor da fazenda era da mesma opinião, justificando ainda o seu parecer com vários argumentos de ordem prática, especialmente a efetiva inexistência de outro qualquer templo, e as dificuldades normais das obras naquela região. No seu parecer, o provedor apresenta uma descrição do projeto que condiz com a primeira planta apresentada em 1769, a qual aliás já estava em construção desde aquela altura. No entanto, não seria ainda desta vez que se confirmaria a ajuda régia para a construção da matriz. Embora o Conselho tenha dado, em 1774, um parecer favorável ao pedido, sem mais exigências de consultas suplementares, só em 1777 este parecer foi confirmado, aprovando‐se a utilização de três contos de réis para a construção da capela‐mor. Mas esta confirmação também não chegou a Vila Bela. Em todas as plantas da cidade elaboradas durante a administração de Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, a matriz é identificada como "igreja arruinada com destino de matriz". Existia entretanto uma outra capela, ao lado da câmara, que era identificada como "igreja que serve interinamente" ou "barraca que serve de igreja". A aprovação emitida pelo Conselho, em 1777, não foi transmitida aos oficiais da câmara, que ainda lidavam com dificuldades para concluir as obras. A falta de continuidade das obras e a ação do tempo devem ter deteriorado completamente o templo em construção na praça principal. Em 1793, os oficiais da câmara voltaram a pedir à rainha uma "esmola" de 8000 cruzados para a construção da capela‐mor da matriz. Dessa vez tinham começado a obra noutro terreno, por trás da residência dos governadores, onde até então era uma espécie de jardim do palácio. O requerimento da câmara tinha o apoio do então governador, João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres. Mas o novo processo não foi mais célere do que o primeiro. Em 1795 foi emitido o parecer do Conselho. Após terem feito várias consultas complementares, os ministros acabaram por admitir como justo o pedido dos moradores, sugerindo à rainha que desse a esmola pedida, como já fizera noutras ocasiões. Não sabemos se tal ajuda chegou de facto a Vila Bela, pois essa igreja também não foi concluída.