Palácio Menezes Bragança

Palácio Menezes Bragança

Chandor, Goa, Índia

Habitação

A grandiosidade das proporções a par da complexidade de programa fazem do Palácio dos Meneses Bragança um dos exemplos mais interessantes da arquitetura indo ‑portuguesa. Uma cuidada análise arquitetónica do edifício revela estruturas e pormenores construtivos que permitem situar a sua construção em finais do século XVIII. No entanto, o palácio sofreu profundas transformações durante o século XIX, que alteraram o traçado inicial, dificultando uma clara identificação das estruturas e características do desenho setecentista. O edifício adquire uma maior complexidade ao constituir ‑se como a aglutinação de duas habitações autónomas formando um conjunto arquitetónico único. O tronco comum da casa surge com os Bragança, estando no palácio hoje representados os Bragança Pereira e os Meneses Bragança. No século XIX ambas as famílias ganharam progressiva importância e autonomia, recebendo separadamente títulos de moço fidalgo com exercício na Casa Real e brasão de armas, entregues respectivamente a Francisco Xavier de Bragança, em 1878, e a António Elzário San’Anna Pereira, em 1882, em cartas patentes emitidas em Lisboa pelo Conselho de Nobreza. A referência aos valores tradicionais da casa senhorial portuguesa é notória na adoção de um piso nobre sobradado, ao contrário da generalidade das casas das famílias goesas, com tendência a desenvolver ‑se num piso térreo. O desenho da fachada guardou do século XVIII um corpo saliente, com janela de tribuna, muito idêntico ao do Palácio do Deão de Quépem e ao do Palácio dos Condes de Nova Goa, o que, uma vez mais, liga intimamente a arquitetura do edifício ao último ciclo de grandes casas construídas pela nobreza portuguesa. O frontão triangular, ladeado por dois fogaréus e salientado por decoração rococó, acentua uma dinamização da fachada, valores estéticos do tardo‑ ‑barroco português introduzidos em Goa a partir de meados do século XVIII. Através de um corredor, o portal de entrada dá acesso a um vasto pátio, coberto em grande parte por um alpendre, onde se desenvolvem as escadarias que conduzem ao andar nobre, formadas de um lance que se desdobra em dois, simétrico, de tradição barroca. Suportado por grandes pilares, o alpendre cria uma vasta zona coberta, mas com livre circulação, apropriada a um clima tropical. A análise da estrutura do conjunto sugere que o programa arquitetónico inicial do palácio foi alterado no século XIX, perdendo a sua estrutura original, que se desenvolvia em torno de três pátios interiores. A partir de um primeiro pátio central, com o grande núcleo de escadarias nobres, desenvolvia ‑se simetricamente um pátio interior em cada residência. Atualmente, se no Palácio dos Meneses Bragança ainda podemos observar um pátio central a estruturar os interiores, já na habitação dos Bragança Pereira o pátio não chegaa fechar ‑se, aparecendo com uma forma assimétrica do primeiro. A coerência e simetria da planta ter ‑se ‑ão perdido nas obras do século XIX, onde se sente a vontade de cada uma das habitações adquirir uma identidade própria. A localização simétrica, mas oposta, do salão de baile e galeria em cada uma das residências - isto é, num caso, o salão junto à fachada, no outro a galeria junto à fachada - parece uma variação a partir de uma estrutura primitiva absolutamente simétrica. Comparando este palácio com o dos Condes de Nova Goa, podemos levantar a hipótese de que a fachada primitiva se desenvolveria com duas grandes varandas distribuídas simetricamente de um lado e do outro do atual corpo central da tribuna, o que acontecia tanto no desaparecido Palácio dos Condes de Nova Goa como na Casa dos Colaços, em Ribandar. Quanto às grandes transformações do século XIX, que se concentraram sobretudo na construção de um grande salão de baile, estas obras afetaram a fachada principal, introduzindo um desenho de janelas mais de acordo com as estéticas da segunda metade do século XIX. São deste período as decorações das janelas de sacada com arcos sobrepostos, que no desenho primitivo seriam mais simples e de verga reta. Do século XVIII conservam ‑se os suportes das sacadas, em três pequenas mísulas, que, ao longo do século XIX, veremos tomar formas diversas, em sintonia com a maior liberdade estética manifesta neste século. De carácter setecentista são igualmente as grandes pilastras toscanas da fachada, que alternam ritmicamente com as janelas de sacada, solução desenvolvida já no século XVII e que vemos permanecer com imperturbável continuidade ao longo destes séculos. As transformações sofridas pelo palácio no século XIX não apagaram completamente elementos primitivos que fornecem dados sobre as estruturas interiores e a decoração setecentista do edifício. Dividido em duas salas, ainda podemos descortinar na residência dos Bragança Pereira a estrutura do antigo vasary, que, correndo perpendicularmente à fachada principal, assegurava uma ligação entre as zonas de recepção, que se situavam ao longo da fachada principal, e as zonas de serviços nas traseiras do palácio. Algumas salas mantêm tetos piramidais, com asnas trabalhadas em talha baixa e dourada de tradição hindu, dentro da tipologia dos palácios do século XVI e XVII, de que encontramos vestígios no Palácio dos Arcebispos de Goa. Em diferentes zonas do palácio encontram ‑se pavimentos em embrechados de grande qualidade estética, assim como restos de decoração de pinturas murais que nos ajudam a visualizar a concepção espacial dos interiores do século XVIII, na generalidade muito alterados. Em paralelo com o palácio dos Sant’Ana da Silva, estas decorações de parede, embora muito danificadas, reproduzem padrões de tecidos, sugerindo que nos séculos XVII e XVIII as salas principais seriam forradas a seda, cuja pouca resistência à humidade terá obrigado à progressiva substituição por pintura.

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