
Casa Frias
Candolim, Goa, Índia
Habitação
Exibindo uma fachada profusamente decorada com uma sequência rítmica de janelas e pilastras, a Casa dos Frias testemunha a emergência de uma estética de tendência maneirista que se desenvolve na região de Candolim, ligada à família dos Pinto, uma das mais importantes de Goa no século XVIII: os Pinto. Embora o palácio entre em ruínas, na sequência da revolta de 1787, a sua arquitetura terá influenciado toda a produção arquitetónica da região, de que são exemplo a capela dos Pinto, nesta localidade, ou a casa dos Frias ou a dos Monteiros. Já no século XVII os Frias detinham um enorme prestígio social, ligados aos mais altos postos da administração de Goa e vivendo num palácio na aldeia de Santana de Talaulim. Nos inícios do século XVIII, o declínio de Goa e a peste que assolou a cidade e os arredores determinaram que a família se retirasse para Candolim, usufruindo da proteção dos poderosos Pinto de Candolim. Neto de Simão Pinto por via materna, Simão Salvador de Frias vem instalar ‑se numa parte dos domínios senhoriais de seu avô, construindo uma casa que se virá a autonomizar. Acusando uma forte tendência de tradição portuguesa, a fachada da casa recolhe ‑se num terreiro envolvido por altos muros, como acontecia nos palácios da Fortaleza e dos Arcebispos de Goa. No muro de entrada recorta ‑se um portal de grandes proporções, enquadrado por colunas coríntias e rematado por pináculos e frontão contracurvado encimado por uma cruz, traduzindo uma forte contaminação entre arquitetura religiosa e civil. Recolhida sobre o pátio de entrada, a fachada principal é marcada por janelas encimadas por frontões contracurvados em estuque, alternadas com pilastras coríntias com fuste decorado com caneluras de delicado desenho. A alternância rítmica de pilastra ‑janela e a utilização da dupla pilastra a enfatizar as extremidades do alçado conferem à fachada um carácter erudito. A estrutura interior apresenta uma distribuição que se irá generalizar na maioria das casas goesas do século XIX. Na continuidade do balcão da entrada surge um pequeno corredor que estabelece ligação lateral com os salões e desemboca no vasary, ou casa de jantar. De grande requinte, os tetos das salas da zona nobre apresentam traves trabalhadas em talha baixa de influência hindu, exibindo a trave central do salão, ao centro, o brasão da família, armas concedidas em 1690 a Pascoal de Frias, avô do construtor da casa, constituindo uma das primeiras cartas de armas concedida a uma família goesa. Como facto inusitado, a casa de jantar tem a meio uma pia de lava‑mãos em mármore de linhas maneiristas, de grande qualidade, cujo desenho, nitidamente anterior à construção da casa, sugere, pela sua preciosidade, que tenha vindo da antiga casa da família, em Santana de Talaulim.