
Embaixada de Portugal
Brasília, Distrito Federal, Brasil
Equipamentos e infraestruturas
O conjunto arquitetónico projetado para a Embaixada de Portugal em Brasília (1973‐1978) pelo arquiteto Raul Chorão Ramalho (1914‐2002), implanta‐se numa das principais "quadras" destinadas às representações diplomáticas de maior relevo no plano interna‐ cional. O projeto da chancelaria integra a sua gramática arquitetónica "experimental", entretanto consolidada em edifícios públicos em Portugal continental, nas ilhas atlânticas, e em Macau. Em praticamente todas as situações, as premissas do clima estiveram na base dessa experimentação e incansável pesquisa, além de aspectos caracterizadores das culturas locais. Nessas circunstâncias, destacam‐se os planos de fachada, sempre trabalhados como "espaços habitados", numa dicotomia interior/exterior, permitindo amenizar os efeitos do clima e resguardar o espaço interior. As gelosias e grelhagens que formam a pele dos edifícios medeiam o exterior, e o plano da caixilharia recuado impõe uma regra de composição por vezes repetitiva, como uma escala musical, determinando um ritmo e uma harmonia entre planos que formam as fachadas. Alguns aspectos, provenientes da ancestral cultura portuguesa, são reinventados e subtilmente integrados num nítido sinal de continuidade; são apontamentos, citações de uma poesia maior que os portugueses ao longo de séculos foram transportando pelo mundo e incorporando novos contributos das culturas locais, caldeados numa cultura de torna‐viagem. No edifício da chancelaria, existem aspectos que nos remetem para uma releitura da "casa nobre portuguesa", onde não falta o tanque da tradição árabe espelhando a fachada do edifício, a tijoleira e o azulejo. Também a própria espacialidade interior e exterior como complemento direto se revelam enquanto factores da tradição mediterrânea "reajustada" ao clima do Planalto, onde o pátio acolhe plantas endémicas e sobretudo sombra, permitindo a circulação de suaves brisas. Chorão Ramalho trabalhou com novas escalas, que sabiamente integrou num longo edifício de apenas dois pisos, mas que, na sua expressão e hierarquia compositiva, nos transmite a ideia de um edifício ainda mais amplo que na própria realidade. Lajes projetadas, floreiras e palas em betão aparente emprestam ao edifício uma desmaterialização de volume estático, proporcionando estes elementos ritmo e dinamismo, na permanente alteração da sua expressão por via das sombras projetadas nos planos recuados, repercutindo‐se nos interiores, onde os pátios e respectivas pérgulas de betão filtram a luz e "domesticam" a temperatura. A forte expressão plástica do exterior está também presente nos interiores, que incorporam o trabalho de grandes artistas contemporâneos portugueses, nomeadamente João Abel Manta, Sá Nogueira e Guilherme Camarinha, enquanto no exterior temos obras de Que‐ rubim Lapa, Espiga Pinto, José Aurélio e Lagoa Henriques. A "invenção" de um espaço público/privado nucleado de grande escala surge também na chancelaria, numa grande plataforma para receber os convidados ilustres, ainda num espaço de transição entre o exterior e o interior. O edifício da chancelaria da Embaixada de Portugal em Brasília será seguramente um dos momentos de maior vigor e erudição da arquitetura portuguesa moderna, onde se observa um ideal de cultura universalista, enquanto contributo português, só possível pelo longo processo acumulativo resultando de séculos de fronteiras abertas a novos contributos, a novas experiências, permitindo que o testemunho tivesse sempre passado de geração em geração, por alguns dos mais preparados, cultos e influentes homens de cultura e saber científico.