Real Forte do Príncipe da Beira
Costa Marques, Rondônia, Brasil
Arquitetura militar
Os trabalhos efetivos da fortificação que viria a ser o Príncipe da Beira começaram no início do ano de 1775. Durante todo o ano de 1774 tinham‐se realizado as explorações e medições da região. Em junho daquele ano falecera, durante os levantamentos no Rio Madeira, o capitão Salvador Franco da Mota, que era o oficial engenheiro de maior graduação da capitania. Domingos Sambucetti o substituiu na coordenação das operações e foi encarregado de dirigir a obra do novo forte, que se fez no sítio por ele proposto em 1772. Entre abril de 1775 e janeiro de 1777, quando faleceu, o engenheiro manteve com o governador Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres uma profícua e interessante correspondência em que relatava miudamente o andamento do projeto. O "quadrado regular de oitenta braças de lado fortificado pelo método de Vauban" nasceu da colaboração entre as especulações do governador e a ação prática e teórica do engenheiro. A primeira série de trabalhos foi executada em dois ambientes distintos: a pedreira, onde se fazia a recolha das pedras, e o local de instalação do forte, onde se faziam as tarefas iniciais de desmatamento e limpeza do terreno. Depois de concluídos os quartéis e armazéns, e estando limpa a área de inserção da fortaleza, esta foi completamente "delineada" no solo, com esteios indicando a disposição das paredes e baluartes e, após isso, começou‐se a abertura do fosso. Todos estes trabalhos se realizaram antes da cerimónia de colocação da "primeira pedra" realizada em 20 de junho de 1776 e celebrada no famoso "Auto de Fundação". Depois da morte de Sambucetti, a vigilância das obras do forte foi entregue a José Pinheiro de Lacerda. As obras do forte continuaram até ao final do século, embora tenham diminuído de ritmo. Vários desenhos foram sendo executados, mostrando o andamento dos trabalhos. Para além dos quatro baluartes, projetara‐se também uma bateria externa, que nunca chegou a ser construída. Em 1799, segundo os desenhos enviados à corte, os baluartes e a maioria dos edifícios internos estavam concluídos, enquanto a estrada coberta que deveria cercar o forte, o aqueduto, e todas as obras externas, faltavam. Continuariam a faltar. A quantidade e a disposição dos edifícios no interior do forte sofreram algumas variações ao longo do tempo de construção. A opção final foi feita a partir de um projeto executado em 1780 por José Pinheiro de Lacerda. O conjunto compunha‐se por 16 edifícios distribuídos em duas linhas concêntricas à volta do quadrado‐base que definia o desenho da fortaleza. Na primeira linha ficavam as instalações dos oficiais, a casa do governador, a capela, e as acomodações do capelão e do cirurgião. Na segunda linha construíram‐se grandes retângulos que abrigavam os alojamentos dos militares da companhia, os armazéns de petrechos e pólvora e o hospital. É evidente a lógica hierárquica e funcional da distribuição dos edifícios, assim como também é visível a "correção" do projeto, que se faz de uma maneira quase canónica, com todos os elementos necessários ao funcionamento do forte desenhados de acordo com as recomendações tratadísticas. A mesma postura é visível também no desenho da porta, da qual se fez pelo menos três propostas, até se decidir pelo resultado final que integra uma entrada em arco pleno encimada por um frontão tripartido, que não nega a intenção monumental do projeto. As construções do interior têm os cunhais e esquadrias das portas e janelas executadas em pedra lavrada e as paredes são em alvenaria de pedra irregular, que deveria ser rebocada e provavelmente pintada. Nas muralhas, a pedra, corretamente talhada, mostra‐se na sua cor escura natural, dotando o conjunto remanescente da fortaleza de uma imponência ímpar, mesmo agora que se encontra em ruínas. O forte foi classificado em 1950. Em 1985 a Fundação Calouste Gulbenkian ofereceu às autoridades brasileiras um projecto de reabilitação que não chegou a ser implementado.