
Quinta do Tanque ou Quinta dos Padres (Arquivo Público do Estado da Bahia)
Salvador, Bahia, Brasil
Habitação
A Casa de São Cristóvão ou Quinta do Tanque, como normalmente é conhecida, é um notável edifício, obra dos regulares da Companhia de Jesus, de grande mérito arquitetónico e histórico, pois a ele esteve muito ligada a figura do padre António Vieira, na tranquilidade do qual escreveu muitos dos seus sermões. Foi construído no então subúrbio da cidade, funcionando como casa de repouso e quinta agrícola onde eram cultivadas muitas espécies vegetais, algumas trazidas de outras partes, inclusive do Oriente. Nesta condição, tinha um requintado sistema hidráulico com variados procedimentos. Por exemplo, o edifício na parte de serviço encontrava‐se adossado a uma escarpa rochosa de onde nascia uma fonte conduzida diretamente ao interior do estabelecimento. Na parte baixa do terreno foram represadas as águas de abundantes nascentes, formando um "tanque" que, segundo alguns, era navegável com batéis. Desta reserva de água vem o nome do edifício. Para deleite dos usuários e visitantes, uma fonte de cantaria de lioz, com desenho lobulado, esguichava água armazenada num castelo d’água situado na escarpa, com uma cobertura inusitada, em forma de torre de igreja. A origem do estabelecimento é do século XVI, mas o edifício, composto em simetria bilateral, constituído de corpo central com duas alas avançadas, parece datar do século XVII. Tal partido, mesmo dentro da escala mais humana adotada quase sempre pela arquitetura portuguesa, lembra modelos europeus do renascimento e do barroco, especialmente na França. Mesmo antes da expulsão dos jesuítas, sofreu algumas reformas profundas, entre as quais se destaca a que foi promovida pelo próprio padre António Vieira entre os anos de 1688 e 1691. Com a evicção das propriedades dos inacianos em favor da coroa portuguesa, o monumento foi vendido a terceiros. Assim, quando D. Rodrigo José de Menezes e Castro obteve permissão para construir um leprosário em Salvador, decidindo‐se pela utilização da Quinta do Tanque, teve que readquirir o imóvel, que sofreu novas reformas para adequá‐lo ao funcionamento da gafaria, entre 1785 e 1787. Com o fim do leprosário, a Quinta do Tanque foi abandonada, o seu terreno aforado ou invadido e o edifício ocupado de maneira irregular e imprópria, sofrendo inclusive o incêndio de uma das alas. Resgatado pelo governo do Estado, através de saneamento e restauro, nos anos setenta, hoje é ocupada pelo Arquivo Público do Estado.