
Edifício Residencial "O Leão Que Ri"
Maputo [Lourenço Marques], Maputo, Moçambique
Habitação
No Leão que Ri (1954-1958), o seu mais famoso edifício, Amâncio d’Alpoim Miranda Guedes (1925-2015) combina a sua vontade de criar uma modernidade africana com o surrealismo, o expressionismo, uma ambição escultural e com a sua capacidade de transformar sonhos e visões em espaço. Trata-se de um edifício residencial, com distribuição em galeria pelas traseiras, com três apartamentos por piso, suspenso do chão transformado através de modelações escultóricas. Este trabalho essencial do Stiloguedes é apresentado pelo autor naBienal de São Paulo, em 1961.
Localizado numa área residencial na esquina entre as avenidas Kwame Nkrumah e Salvador Allende, o edifício é composto por 6 apartamentos sob um piso térreo aberto sobre cidade e no qual se localizavam 6 lugares de estacionamento. Os sete pilares assentam sobre sete bases esculpidas com cerca de 1,20 de altura e revestidas com mosaico de seixos calcários.
No 1º e 2º piso estão localizados os 6 apartamentos, cuja fachada principal se encontra orientada a Noroeste, enquanto os acessos verticais e a galeria horizontal de circulação se localizam na fachada Sudeste. Os acessos verticais duplicam nas extremidades da galeria, no extremo Nordeste a escada de serviço, que sobe até ao 3º piso protegida por paredes onde são esculpidas superfícies curvilíneas, no extremo Sudoeste a escada principal aberta que sobe até ao segundo andar e liga as duas varandas largas de acesso. O 3º piso é limitado por dois longos murais em baixo relevo ocultando os terraços e o acesso descoberto às cabines dos trabalhadores domésticos com instalações sanitárias e duches, tanques da roupa e estendais. A cobertura é definida através de 6 abóbadas que se fecham sobre os murais em baixo relevo. O mural assemelha-se ao do edifício Tonelli (1957-1968), e o desenho escultural do topo superior das fachadas laterais, remete para os pentes-africanos, e para o edifício Prometheus (1951-1953).
A fachada principal é composta por 3 conjuntos de varandas duplas limitadas por planos estruturais que que organizam o interior do apartamento. Estas paredes escultóricas tocam as bases esculpidas através de um desenho expressionista dos pilares.
O edifício deve o seu nome ao leão que se encontra na entrada em cima de um cubo que tal como o autor refere foi esculpido por si e por Gonçalves, um pedreiro africano de Inhambane.
Hoje, o piso térreo está parcialmente encerrado com espaços comerciais e garagens, e as varandas na fachada principal foram encerradas com gradeamentos.
Ana Tostões, Daniela Arnaut
(Referência FCT: PTDC/AUR-AQI/103229/2008)