Prédio TAP (ou Montepio de Moçambique)

Prédio TAP (ou Montepio de Moçambique)

Maputo [Lourenço Marques], Maputo, Moçambique

Equipamentos e infraestruturas

Implantado em plena Baixa, junto à Catedral e à Câmara Municipal, o edifício TAP-Montepio (1955-1960), de Alberto Soeiro (1917-) responde à vontade de monumentalização expressa no Plano Araújo (1887-1892), promovendo uma clara centralidade da Baixa como expressão simbólica e material, este edifício assume uma modernidade inequívoca porque conjuga um colossal embasamento, ocupado por funções de serviços e comércio, com o desenho de um volume paralelepipédico vertical destinado às habitações.

Localiza-se no cruzamento entre as Avenidas Samora Machel e Fernão Magalhães, na primeira zona de expansão do Plano Araújo, junto ao Jardim Botânico Tunduru. É o primeiro edifício multifuncional de grande escala, e abrigava duas poderosas empresas, a TAP e o Banco Montepio de Moçambique, traduzindo essa representação simbólica através da afirmação volumétrica e do painel cerâmico (assinado 1959) existente na fachada sobre a Avenida Samora Machel, da autoria de Gustavo de Vasconcellos, que contribuiu para o transformar num ícone urbano.

O edifício TAP-Montepio é constituído por 13 pisos: 4 destinados a comércio e serviço, e 8 a habitação. Ambos os conjuntos de pisos eram rematados por terraços, os 4 pisos de comércio e serviço por um terraço desenhado como um espaço público articulado com a rua através de um escada em espiral aberta, cuja parede está decorada com uma composição em pedra branca e preta, e os pisos de habitação eram rematados por um terraço entendido como um espaço reservado a serviços domésticos, em que é desenhada uma pala curva para criar sombra sobre a zona dos tanques. 

O embasamento é entendido por Alberto Soeiro como uma ferramenta de desenho urbano. Libertando-o do chão o passeio é transformado num “claustro moderno” para o qual se abre o comércio e os serviços. A fachada é revestida por uma grelha e brise-soleil verticais.

A circulação vertical é hierarquizada em 2 blocos, o principal, localizado na entrada principal e constituído por dois elevadores, e por uma caixa de escadas que apenas acede até ao piso do terraço do embasamento, ocupa um módulo da métrica estrutural, originando uma interrupção assimétrica na fachada, e o de serviço, constituído por um elevador e uma escada, situado na empena decorada, e iluminado por um vão vertical protegido por lâminas também verticais. 

A circulação horizontal realiza-se através de galerias de distribuição, que mantém a distinção social presente na circulação vertical. Alberto Soeiro define desenhos diferenciados, enquanto as galerias de serviço são estreitas, as principais mais largas, acompanham a Avenida Fernão Magalhães e apresentam profundidade variável, o seu desenho vai além do mero corredor de distribuição, para sugerir, junto aos elevadores uma zona de estar exterior colectiva aberta sobre a cidade.

O volume vertical, de base de aproximadamente 53 metros de comprimento por 12 de largura, é composto por 12 módulos que correspondem à malha estrutural do edifício, acomodando 30 duplex e 3 triplex. O acesso é realizado através das galerias, quer principal, quer de serviço, cuja diferença de nível evidencia a hierarquização do espaço interno. A disposição em duplex privilegia também a ventilação transversal.

Hoje TAP-Montepio é um bairro em uma organização vertical, servido exclusivamente pela escada de serviço. O terraço do embasamento foi privatizado e encerrado, e o “claustro moderno” sofreu várias adições de construção aproximando-o de um saguão. O terraço das habitações é utilizado como espaço de apoio às habitações Nos primeiros pisos funcionam serviços do governo e uma agência bancária, e os restantes são ocupados por habitação. O edifício apresenta sinais graves de degradação física.

 

Original de Maria Manuel Oliveira e Jéssica Bonito.

(FCT: PTDC/AUR-AQI/103229/2008)

Adaptação de Ana Tostões e Daniela Arnaut.

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