Honnavar (Onor)

Lat: 14.277584000000000, Long: 74.443955000000000

Honnavar (Onor)

Karnataka, Índia

Enquadramento Histórico e Urbanismo

O porto de Honnavar, localizado na costa ocidental indiana, a aproximadamente 80 km a sul da fronteira meridional do estado de Goa, transitou para a influência dos reis de Vijayanagar em finais de Quatrocentos, tendo sido visitado pelos portugueses, pela primeira vez, no ano de 1503. Podem ser estabelecidas três fases diferentes para caraterizar a influência portuguesa em Honnovar.

Numa primeira fase, entre 1505, ano da celebração do primeiro tratado, e 1568, o relacionamento entre o Estado da Índia e os reis de Gersoppa foi pautado por um clima de hostilidade. De acordo com os termos do tratado, os portugueses cobravam uma tributação em arroz e proibiam o trato da pimenta a partir de Honnavar. Tenha-se em conta que a região em torno da cidade de Gersoppa, a aproximadamente 23 km a leste de Honnavar, produzia pimenta de qualidade superior face àquela produzida e exportada na região costeira mais a sul.

Em 1565, a questão comercial do trato da pimenta conduziu à conquista da cidade e do porto pelo vice-rei Luís de Ataíde, aproveitando a seu favor a derrota do Império de Vijayanagar na batalha de Talikota. O vice-rei mandou edificar uma considerável estrutura defensiva, no lugar de uma fortificação anterior, a um tiro de canhão da cidade indiana de Honnavar, cujo projeto foi confiado a Simão de Ruão, gravemente ferido quando se encontrava a inspecionar a zona de implantação da nova fortificação. Segundo o texto e iconografia associada a António Bocarro e Barreto de Resende, esta fortificação teria 400 braças [aproximadamente 880 m] de perímetro e onze baluartes [...] feitos em forma redonda. Dentro do recinto fortificado, os casados portugueses tinham muitas ortas em suas cazas que lhes [davam] muy boas uvas e fruita de espinho excelente. Existiam também duas igrejas, dedicadas a Santa Catarina e Santo António. A segunda fase de relacionamento entre os portugueses e Honnovar prolongou-se até 1654, altura em que os Nayaks de Ikkeri conquistaram a posição, após um prolongado e renhido cerco de mais de dois anos, com a assistência de embarcações e artilheiros holandeses. Pelas notícias desse cerco e pelos textos de tratados Seiscentistas posteriores, fica-se com a noção de que a fortificação delineada por Simão de Ruão ficou bastante danificada, sendo hoje difícil precisar o seu perímetro no terreno. Ainda assim, a estrutura foi identificada e descrita pelo médico inglês John Fryer com algum pormenor, na década de 1670, e os seus alinhamentos ainda figuram numa planta de 1783. A derrota e expulsão dos portugueses de Honnavar bem como de Barcelor, Mangalor e Cambolim constituiu um duro golpe para o Estado da Índia, especialmente pela perda de portos exportadores de arroz, sendo que o célebre trato da pimenta da região de Gersoppa já há algumas décadas que tinha migrado, na maior parte, para as mãos de holandeses e ingleses.

O tratado assinado, em Goa, em Abril de 1671, deu início à terceira fase da influência portuguesa em Honnavar, autorizando os portugueses a regressar e erguer uma feitoria na cidade, com sua cerca e bagançal, ao redor em limite com hum tiro de espingarda de mão. A cerca seria apenas de paredes singellas, não podendo ter baluartes, muralhas, ameias, seteiras, nem cavas. Já o tratado de dezembro de 1678 permitiu aos missionários portugueses (re)fundar uma igreja perto da feitoria. Novos tratados, firmados em 1707 e 1714, garantiram a continuação da presença portuguesa. Entretanto, em 1727, os ingleses estabeleciam uma feitoria. Ambas as posições terão sido definitivamente abandonadas em 1784, após o prolongado cerco movido por Tipu Sultão à antiga fortificação portuguesa, posteriormente reparada e atalhada pelos ingleses. Vencida a batalha, o líder indiano ordenou a demolição completa das estruturas defensivas. Porém, apenas uma prospeção ou escavação arqueológica poderá comprovar a extensão desta operação de desmantelamento, uma vez que, em finais do século XIX, ainda eram visíveis vestígios das muralhas e do fosso da fortificação de origem portuguesa, a poucos centímetros abaixo do nível do solo.

No mapa britânico que ilustra o célebre cerco de 1783-1784, para além dos alinhamentos da fortificação portuguesa de 1568-1654, figura a igreja de São Salvador. Segundo a tradição local, a fundação da igreja, localizada a aproximadamente 1,3 km dos muros da antiga fortificação e junto ao rio Sharavathi, remonta a 1691, podendo ter ocupado uma estrutura religiosa do período pré-1654. A fachada da Igreja de São Salvador apresenta claras analogias com as igrejas goesas dos séculos XVII e XVIII. A galilé é posterior ao essencial do frontispício, estruturado em três registos, sendo que o registo do frontão, com as suas aletas e contra-aletas de recorte barroco poderão reportar aos finais do século XVIII ou mesmo ao início de oitocentos. A título de exemplo, compare-se o desenho deste com o frontão da igreja de São Jerónimo de Mapuçá. Ressalve-se, no entanto, que alguns elementos arquitectónicos no interior, nomeadamente o desenho do coro alto, a marcação das cornijas interiores, mísulas e pilastras, poderão recuar a seiscentos.

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