A preservação do património histórico de origem portuguesa no mundo tem sido uma linha de intervenção permanente da Fundação Calouste Gulbenkian.
Efetivamente, logo em 1958, dois anos após a sua criação, a Fundação pediu a Charles Boxer e Carlos de Azevedo que se deslocassem ao território do atual Quénia, à época protetorado britânico, para, em colaboração com técnicos locais, examinarem o estado de conservação do Forte de Jesus, em Mombaça. Na sequência dessa visita, a Fundação financiou integralmente os trabalhos de reabilitação daquele antigo forte português, cuja construção remonta ao ano de 1593. À data, o projeto foi complementado com a criação de um museu no interior das muralhas para expor objetos encontrados durante as escavações arqueológicas – peças portuguesas, chinesas e de outras proveniências dão o testemunho das trocas comerciais que sempre animaram a circulação e o contacto entre culturas.
Depois dessa primeira ação, e ao longo de várias décadas, a Fundação interveio direta ou indiretamente na preservação de património histórico, arquitetónico, artístico e documental de origem portuguesa, espalhado por quatro continentes. Os Países Baixos e Malta, na Europa; Marrocos, Benim e Quénia, em África; Brasil e Uruguai, na América do Sul; Irão, Índia, Bangladesh, Tailândia e Malásia, na Ásia, são exemplos de países onde, de diversas formas, está patente a ação realizada pela Fundação neste domínio.
Com uma experiência de várias décadas na área da reabilitação do património – durante muito tempo foi a única instituição portuguesa a promover e a financiar este tipo de atividade fora do país – a Fundação assumiu também, com o projeto Património de Origem Portuguesa no Mundo – Arquitetura e Urbanismo, o papel pioneiro da inventariação sistemática deste vasto legado que se encontra fora da Europa.
Desde o início da expansão, no começo do século XV, quando pela primeira vez Portugal marcou presença em África, até finais do século XX, quando a administração de Macau foi oficialmente entregue às autoridades chinesas, decorreram quase seis séculos. Durante esse longo período, os portugueses, a uma escala global, difundiram a sua língua e a sua cultura e transmitiram e receberam influências de natureza diversa.
Essa interação materializou-se nomeadamente em património de diferentes tipologias, construído em África, na América do Sul e na Ásia.
Não deixa de ser significativo que uma parte considerável deste legado tenha sido integrada pela UNESCO na respectiva Lista do Património Mundial. Estão neste caso mais de vinte sítios e monumentos em quinze países de três continentes.
Para dirigir o projeto Património de Origem Portuguesa no Mundo – Arquitetura e Urbanismo, a Fundação convidou o professor doutor José Mattoso, reconhecida autoridade e reputado estudioso da nossa História. Muito nos apraz enaltecer a valiosa colaboração que prestou a esta iniciativa, realizada com a qualidade e o rigor que todos lhe reconhecem.
Palavras de apreço são também devidas à professora doutora Mafalda Soares da Cunha, adjunta do professor José Mattoso nesta iniciativa, bem como à equipa de coordenadores de área – professora doutora Renata Malcher de Araujo, professor doutor Filipe Themudo Barata, professor doutor José Manuel Fernandes e professor doutor Walter Rossa – pelo trabalho desenvolvido e pela forma como orientaram a colaboração das muitas dezenas de investigadores convidados a participar no projeto de sistematização.
Na sequência do projeto, a Fundação promoveu a criação do portal interativo www.hpip.org. Nesse sentido assinou um protocolo com as Universidades de Coimbra, Évora, Nova e Técnica de Lisboa com vista à respetiva gestão futura.
O portal dará continuidade ao projeto de sistematização do Património de Origem Portuguesa no Mundo – Arquitetura e Urbanismo.
A Fundação formula o voto de que este trabalho constitua um instrumento de referência para pessoas e instituições que pretendam contribuir, pelo estudo e pela ação, para a preservação de uma herança comum.
Emílio Rui Vilar
Presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian