Fortim de Santo António

Fortim de Santo António

Simar (Simbor), Guzerate, Índia

Arquitetura militar

As ruínas do fortim de Santo António de Simbor situam-se a aproximadamente 17 km a nordeste de Diu, sobre um ilhéu na embocadura do ribeiro Sahil, designado por rio Vançoso nas fontes portuguesas. A posição foi tomada pelos portugueses, em 1722, e o seu pequeno contingente militar foi o último a render-se na Índia, no dia 19 de dezembro de 1961.

Poucos anos antes de 1722, o corsário sanganiano Ramogi Varer havia erguido uma pequena posição fortificada em Simbor, a partir de onde as suas embarcações represavam barcos que comerciavam em Diu e nos portos da Província do Norte. Os sanganianos eram conhecidos, na zona do Golfo de Cambaia, pelas suas atividades depredatórias, especialmente a partir da segunda metade de seiscentos, tendo a sua base principal no porto de Bet-Dvarka, a aproximadamente 270 km a oeste de Diu. A 25 de Maio de 1722, o castelão de Diu, Luís de Melo Pereira, ordenou uma expedição ao local que logrou incendiar as embarcações do corsário e tomar de assalto a posição.

Luís de Melo Pereira empenhou-se, prontamente, na guarnição e consolidação da posição defensiva, rebatizada de Santo António de Simbor. Para esse efeito, destacou para o local um corpo de 30 homens e deu início à construção de uma cisterna uma vez que o abastecimento de água constituía uma preocupação essencial para a defesa adequada da posição. Simultaneamente, procurou submeter à soberania portuguesa a importante aldeia de Simbor (Simar), localizada a 2,4 km a norte da fortificação, estimando-se que as rendas provenientes da povoação seriam suficientes para sustentar a guarnição do fortim. Contudo, a ansiada incorporação apenas teve efeito entre os anos de 1724 e 1728, vindo a ficar sob o domínio dos sidis de Danda-rajapur, mediante a celebração de um tratado com os portugueses que pretendiam impedir a construção de uma fortificação sidi em Madrasaval (Jaffrabad).

Apesar da conquista da posição ter sido, inicialmente, bem recebida em Goa pelo vice-rei Francisco de Sampaio e Castro, tendo este enviado uma planta da fortificação para a corte portuguesa conjuntamente com a notícia da conquista, o conselho de governadores que lhe sucedeu pretendeu demolir o fortim de Santo António no sentido de evitar despesas com a manutenção de mais uma fortificação. Com efeito, Luís de Melo Pereira foi incumbido de averiguar quais os benefícios advindos da sua destruição, tendo-lhe sido recomendado entupir a foz do rio Vançoso com os materiais da própria estrutura para impedir que servisse de receptáculo aos barcos sanganianos.

Apesar do Conselho Ultramarino de Lisboa ter ordenado a demolição da posição, em abril de 1726, a execução do alvará régio foi protelada pelo vice-rei João Saldanha da Gama. Em 1732, consumada a perda da aldeia de Simbor, o vice-rei Pedro de Mascarenhas determinou, novamente, a demolição da estrutura, ordem mais uma vez adiada. No ano seguinte, o mesmo vice-rei incumbiu o militar André Ribeiro, pessoa intelligente em fortificaçoens, de visitar Simbor para que procedesse ao conserto que a fortificação exigisse. As obras foram realizadas entre 1735 e 1737, durante o triénio do barão Frank von Gallenfelds em Diu. Meia centúria mais tarde, em 1780, um ataque do régulo Langagi ou Nagogy resulta na morte da maior parte da guarnição de Simbor. Não obstante, os portugueses retomaram a sua posição. Apesar das obras efetuadas na década de 30 do século XVIII, um documento no qual se orçamentavam trabalhos de reparação, datado de 1840, dá conta do estado ruinoso em que se encontrava a fortaleza.

O estado de abandono da fortificação deveria ser já muito evidente em 1859, aquando da visita do secretário do Estado da Índia, Joaquim Da Cunha Rivara, ocasião em que foi rigorosamente demarcado o território de Simbor, tendo sido utilizados como marcos os canhões inutilizados da fortaleza, ainda hoje visíveis no local, implantados na vertical. Em 1901, foi instalada a primeira lâmpada de sinalização na fortificação, substituída, em 1958, por um farolim. A rendição dos militares do Estado da Índia em Simbor foi obtida por intermédio de um oficial português de Diu, conduzido à posição numa lancha com tropas indianas.

Em data incerta, foi erguida uma exígua capela no interior da fortificação. A imagem de Santo António, bem como duas inscrições epigráficas relativas a obras de reconstrução ou manutenção, localizadas sobre a porta, com as datas de 1810 e 1857, foram posteriormente trazidas para Diu.

Implantado num ilhéu de quase 1 ha de área, o perímetro fortificado do Fortim de Santo António ocupa um área retangular de aproximadamente 420 m2, apresentando ainda uma área adicional de 390 m2, onde se localizam a cisterna e algumas estruturas exteriores. A porta, situada no flanco sudoeste, é ladeada por dois pequenos torreões: naquele a sudoeste, ao qual se acede por meio de uma rampa, já no interior, abrem-se duas canhoneiras e sobreleva-se uma guarita no ângulo saliente. Com exceção deste elemento, praticamente todo o flanco sudeste da fortificação desabou. No ângulo nordeste do baluarte ou couraça da zona norte, permanece ainda um singelo cunhal com outra guarita, de desenho aparentemente pós-português. Este seria, provavelmente, o flanco mais artilhado da fortificação, orientado para a enseada de Simbor, onde os corsários sanganianos ancoravam as suas embarcações ligeiras. O uso de betão armado na cisterna e em estruturas próximas sugerem a realização de obras nos últimos anos do domínio português ou no período pós-1961. Muito recentemente, as autoridades indianas ergueram um extenso muro, paralelo ao flanco norte das ruínas da fortificação, alongando-se por quase todo o ilhéu, eventualmente para tentar conter o efeito das ações erosivas, provocadas pelo mar, sobre as estruturas arqueológicas.

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