Igreja e Antigo Colégio de Santo Alexandre
Belém, Pará, Brasil
Arquitetura religiosa
Desde 1626 que os jesuítas tentaram estabelecer‐se no Pará. Em 1643 uma missão naufragou no Marajó, e treze dos quinze padres que a compunham foram martirizados pelos índios aruans. Somente em 1652 voltaram novos padres. Foram instalados num terreno perto do Convento das Mercês, no Bairro da Campina. Reivindicaram que aquela localização era periférica e mudaram‐se, em 1653, para outro terreno, ao lado do forte, adquirido a Gaspar Cardoso. Em 1661, uma grave crise redundou na expulsão do padre António Vieira e de outros jesuítas do Maranhão e Grão‐Pará. Acalmados os ânimos, a primeira igreja, de taipa e cobertura de palha, foi substituída por outra em 1678, a partir de um projeto de Cristóvão Domingos. Cerca de 1670 também se refez o colégio, que seguiu em obras até ao final do século XVII. Em 1686, o Regimento das Missões devolveu aos jesuítas amplos poderes. A igreja atual data da terceira reforma começada nessa conjuntura, e foi concluída entre 1718 e 1719. Tem planta em nave única com falsa abóbada de madeira e capelas laterais comunicantes, seguindo a tipologia jesuíta mais comum. A fachada tem um corpo central de três andares, separados por cornijas, com um coroamento em frontão de volutas ladeado por torres sineiras com cúpulas bolbosas. A fachada divide‐se em três panos separados por pilastras decoradas com molduras geométricas e rosetas, num trabalho muito interessante de relevo em massa, onde a inspiração maneirista associada à escala agigantada dos elementos dá à igreja um especial sabor mestiço, que a aproxima das fachadas‐retábulo dos jesuítas na América Hispânica. Destaca‐se no interior a obra em talha dos retábulos, executada por artífices locais, e sobretudo os dois púlpitos atribuídos ao padre João Xavier Traer, que residiu em Belém até 1737. O orago da igreja primitiva era São Francisco Xavier, confirmado pelo visitador da Companhia em 1668. Mas o orago do colégio é Santo Alexandre (pela posse da relíquia do santo), e a tradição popular empresta‐o também à igreja. A localização do edifício provocou polémica desde o início. Os militares clamavam inicialmente que a igreja constituía um perigoso "padrasto" ao forte. Seguiu‐se a disputa pelos terrenos vizinhos ao edifício, que a fazenda real constantemente requisitava para a instalação de armazéns, e os padres pretendiam para ampliações do colégio. Situado literalmente entre o forte e o porto, o conjunto funcionava como elemento de articulação entre as duas partes da cidade. Após a expulsão dos jesuítas, em 1760, o próprio prédio do colégio passou a ser disputado. Em 1761, António José Landi foi encarregado de transformar parte do edifício em armazéns para armamentos. O bispado, às voltas com a obra nunca concluída do seu paço episcopal, requisitou o edifício, que lhe foi atribuído, embora algumas partes continuassem a ser utilizadas como armazéns de armas e para outros fins. No século XIX, o colégio funcionou como seminário. A igreja passou por reformas em 1861. O conjunto foi classificado pelo IPHAN em 1941, mas durante cerca de cinquenta anos a igreja esteve fechada ao culto e estava bastante danificada. Em 1998 concluiu‐se o restauro da igreja e colégio para lá se instalar o Museu de Arte Sacra do Pará.