
Banco Nacional Ultramarino (Caixa Geral de Depósitos)
Díli, Díli, Timor
Equipamentos e infraestruturas
Fundado em 1864, somente em inícios do sécu‐ lo XX o Banco Nacional Ultramarino (BNU) abriria dependências nas colónias portuguesas do Extremo‐Oriente, primeiro em Macau (1901), e depois em Timor (1912). Cumprindo o compromisso de se instalar em Díli que assumira com o Estado uma década antes, o BNU assumiu a incumbência de dotar o território de serviços financeiros indispensáveis à dinamização da economia local, bem como de uniformizar o sistema monetário através da introdução da pataca em papel‐moeda, emitida desde 1906 em Macau. Assim se visou a substituição progressiva dos até então dominantes reais mexicanos (conhecidos em Timor sob a designação de "pataca mexicana") e coroas holandesas.
O BNU tornar‐se‐ia ele próprio um investidor de referência no território, detendo, por exemplo, uma participação relevante na Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho, a maior empresa timorense, fundada em 1897 pelo governador Celestino da Silva (1894‐1908). Aliás, funcionou na sua sede até à respectiva destruição pelas tropas japonesas.
Reinstalado num edifício arrendado à diocese de Díli, somente em finais da década de 1960 o BNU passaria a ter instalações próprias. Entre 1966 e 1968 foi erigido um edifício modernista, invulgar em Timor, que encontra paralelo apenas no coetâneo imóvel da Associação Comercial, Agrícola e Industrial de Timor (ACAIT), mas sem o mesmo protagonismo urbano, dado estar implantado na rua comercial principal e não na praça representativa do poder administrativo colonial. Na prática, os dois edifícios tiveram projeto e obra simultâneos, uma vez que o projeto do edifício ACAIT está datado de janeiro de 1960. É possível que, tal como aquele, o projeto seja do arquiteto António Sousa Mendes, mas disso não conhecemos qualquer prova documental.
No edifício do BNU recorre‐se ao modelo de construção solta do solo, sobre pilotis. Não fora a sua gramática arquitetónica geral e poder‐se‐ia invocar a sua inspiração na arquitetura tradicional de Timor. São usadas coberturas planas em terraço e destaca‐se do plano da fachada principal a cortina em grelha de betão armado, que lhe confere um carácter mais abstrato. Recorreu‐se a uma pala de ensombramento para identificação do acesso que, com os mastros de bandeira, permite a sua fácil identificação, mesmo ao longe, no enfiamento da rua. Por trás da cortina de ensombramento da fachada, surge um edifício de escritórios, com grandes vãos rasgados na horizontal, que poderia ser visto em qualquer cidade europeia no pós‐guerra como uma representação dos tempos modernos. O empreendimento contemplou ainda a construção de residências para duas dezenas de funcionários.
Na sequência do turbulento processo de descolonização iniciado em 1974, que culminaria com a invasão indonésia de Timor em finais de 1975, o BNU cessou atividades no território, sendo as suas instalações ocupadas no ano seguinte por um banco regional - o Banco Daerah - criado por iniciativa do então vice‐governador do território de Timor Timur nomeado pela Indonésia, Francisco Lopes da Cruz.
Somente após o referendo que determinou a independência de Timor o BNU retomaria a atividade no território, sediando‐se nas instalações da ACAIT, pois o seu edifício ficou destruído pelas milícias indonésias. Mas cedo se decidiu a sua reconstrução, cujas obras decorreram em 2000‐2001. À opção pela reconstrução do edifício, ao invés da ereção de um novo, não terá sido alheio o seu valor arquitetónico e simbólico, entendido no contexto do património construído de Timor.