
Associação Comercial Chinesa
Díli, Díli, Timor
Equipamentos e infraestruturas
A relação entre a China e Timor é anterior à chegada dos portugueses à ilha. Os primeiros relatos chineses conhecidos datam de meados do século XIV, sendo o território descrito como fonte de sândalo, espécie botânica que o tornou comercialmente atrativo e foi, durante séculos, o principal produto de exportação.
A chegada dos portugueses a Timor em 1515 e a sua progressiva fixação não apenas não comprometeu o comércio chinês do sândalo, como este viria a ser encorajado pelo governo local, sobretudo a partir da segunda metade do século XVIII. Integrando os circuitos comerciais de Macau, os chineses assumiram o pre‐ domínio na atividade mercantil, mas também nos ofícios, sector em que a escassez de mão‐de‐obra era notória, face ao reduzido número de europeus ali radicados e à impreparação dos timorenses para o exercício dos diferentes misteres. Com efeito, no último quartel de Setecentos estariam radicadas na ilha cerca de trezentas famílias oriundas da China.
O desenvolvimento económico dos territórios coloniais levado a cabo pelas potências europeias na segunda metade do século XIX, com a consequente necessidade de maiores contingentes de força de trabalho qualificada, propiciou a deslocação de muitos chineses para as colónias do Extremo‐Oriente. Timor não foi exceção, tendo então aumentando o número de chineses residentes, sobretudo oriundos de Macau, chegando a 2.000 na década de 1930, concentrados maioritariamente em Díli.
Caracteristicamente organizados e laboriosos, formando uma comunidade relativamente hermética e procurando manter a sua integridade cultural e religiosa, os "chinas", como eram designados em Timor, criaram instituições próprias na colónia. Em inícios do século XX existia em Díli um clube chinês - o Chum Tuk Fong Su - ao qual estava agregada uma escola que seguia os curricula chineses. Anos mais tarde o clube estaria na origem da Associação Comercial Chinesa de Timor, bem como da construção de um templo dedicado às principais confissões religiosas da China. A comunidade reforçaria ainda a sua presença em território timorense erigindo, por exemplo, um hotel e aumentando o número de estabelecimentos escolares, que atingiria o número de dezoito em vésperas da ocupação indonésia.
Testemunho da relevância dos chineses na economia timorense, o edifício da Associação Comercial Chinesa, onde se instalaria igualmente o Consulado da Formosa, está situado na Avenida Marginal de Díli. É um dos raros exemplares de arquitetura colonial sobreviventes, quer à invasão nipónica, quer às ações de terra queimada desenvolvidas pelas milícias integracionistas no rescaldo do referendo de agosto de 1999.
Numa descrição formal sintética temos: planta quadrada, desenvolvendo‐se em dois pisos; telhado de pavilhão oculto por muro de gata (que corresponde à continuidade do entablamento das faces exteriores); cinco vãos por piso e por face com verga em arco perfeito; galeria em arcada na fachada principal, com geometria idêntica e na continuidade dos vãos; varanda sobre essa galeria a toda a largura da fachada, dotada de balaustrada e seis colunas que suportam entablamento com arquitrave, friso duplo e cornija, cujo desenho se prolonga por todo o perímetro da cobertura; frontão curvo ocupando o terço central da fachada principal, delimitado por pináculos que se repetem nos cunhais. É um exemplar típico da arquitetura colonial, de grande robustez e simplicidade construtiva.
Seria neste edifício que se instalaria o Conselho Nacional da Resistência Timorense, movimento criado em 1998 em Portugal pelos timorenses na diáspora, com a finalidade de dar voz, junto da comunidade internacional, à causa independentista de Timor‐Leste. Coube‐lhe a iniciativa da mais recente reabilitação do edifício. A campanha de obras a que foi submetido pode considerar‐se exemplar, não apenas pela recusa da sua transfiguração como pela sobriedade cromática adotada, recorrendo à caiação geral, com marcação em pigmento cinzento‐azulado do guarnecimento de vãos e do entablamento.