Seminário de Luanda
Luanda [São Paulo de Luanda], Luanda, Angola
Arquitetura religiosa
O projeto do Seminário de Luanda, datado de 1953 e desenhado pelos arquitectos Lucínio Cruz e Eurico Pinto Lopes, corresponde a uma segunda fase de atuação do Gabinete, designado, a partir de 1951, por GUU. Nesta época é dada uma atenção crescente ao apetrechamento de várias cidades com estabelecimentos de ensino de larga escala. Apesar dos equipamentos religiosos não constituírem uma prioridade no quadro de produção do Gabinete, o ensino eclesiástico funciona como uma estrutura complementar da rede de escolas públicas.
Trata-se de um equipamento de relativa complexidade programática, com uma implantação já prevista no Plano de Urbanização de Luanda, num planalto virado ao mar. Neste projeto, os autores pretendem alcançar um "conjunto monumental e equilibrado, tendo em vista a economia da ocupação, volume e carácter da construção", tirando também partido da orientação mais conveniente e dos ventos predominantes.
O projeto dos jardins, dos espaços compreendidos entre os vários corpos do Seminário e a consolidação dos arruamentos que circundam o conjunto, têm em "consideração não só a integração arquitectónica dos edifícios na paisagem, como também a utilização desta para repouso espiritual", segundo a memória descritiva. Os espaços destinados ao ensino concentram-se nos dois blocos do Seminário Maior e Seminário Menor, e contemplam várias salas de aulas, laboratórios, arrecadações e biblioteca. As comunicações são feitas através de amplas galerias que interligam todos os espaços sem interferir com a vida interna de qualquer serviço. O acesso direto aberto ao público e alunos fica restringido a um número reduzido de espaços, como a sala de conferências, portaria e igreja.
A Igreja não foi construída, sendo no projeto um edifício destacado do conjunto. Esteticamente era tratada de forma diversa do restante edificado, salientando-se a torre sineira e a riqueza das suas fachadas. A iluminação seria feita através de vãos abertos nas fachadas laterais, coro e Capela Mor, fechados com vitrais figurados. A igreja actual ocupa o que seria no projeto original um auditório.
O conjunto reflete uma evolução formal com o mesmo sentido da restante produção do Gabinete de Urbanização. O desenho é identificado por Cruz como delicado, e "por se tratar duma obra de grande volume procurou-se uniformizar o emprego de materiais de fácil aquisição mas de grande durabilidade".
Em novembro de 2014, o conjunto encontrava-se num estado muito próximo do projeto original e em pleno funcionamento, necessitando de algumas obras de conservação.
Ana Vaz Milheiro
Os Gabinetes Coloniais de Urbanização: Cultura e Prática Arquitectónica.
(PTDC/AUR-AQI/104964/2008)