Igreja para Bafatá (Catedral)
Bafatá, Guiné-Bissau | Golfo da Guiné | São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau
Arquitetura religiosa
O projeto de João Aguiar e Eurico Pinto Lopes para Igreja de Bafatá em 1950 faz parte de um ciclo de obras que refletem o perfil empreendedor de Sarmento Rodrigues, governador da Guiné (1945-1948). Esta sua atuação seria continuada aquando da sua passagem, como ministro, pelo Ministério do Ultramar (1950-1955), através da promoção de obras públicas, incluindo as de carácter religioso. Coincidindo o seu governo na Guiné com o arranque do Gabinete de Urbanização Colonial (GUC), a sua atuação permite analisar como se exercem as relações, nesta primeira fase, entre o poder colonial - que está no terreno - e os técnicos que permanecem em Lisboa. Entre os seus "discursos e afirmações", que reúne em livro um ano depois de deixar o cargo, há menções a edifícios públicos projectados no âmbito do GUC. Parte dos projetos mencionados por Sarmento Rodrigues transita ainda das Brigadas e Missões para o Ultramar, ou mesmo de processos iniciados por serviços locais, integrando o arquivo do GUC.
O projeto da Igreja de Bafatá consiste essencialmente num reajuste do desenho das fachadas de um projeto anteriormente elaborado pelos Serviços de Obras Públicas da Guiné. Pelo facto da igreja já estar praticamente concluída, o projeto de João Aguiar e Eurico Pinto Lopes é muito subordinado ao existente. Os profissionais do GUC justificam a sua intervenção em obras preexistentes evocando muitas vezes razões de ordem técnica ou económica e, em alguns casos, apenas a necessidade de correcção do desenho, como acontece aqui.
Implantada paralelamente à avenida principal de Bafatá, a igreja conforma uma praça que antecede a uma pequena escadaria central, elevando ligeiramente o edifício do solo. Assume-se a centralidade do bloco principal, ladeado por duas torres sineiras. Ao entrar, encontra-se o batistério à direita, seguido da nave central que termina na capela-mor, ladeada pela sacristia e por uma sala destinada aos parlamentos eclesiásticos.
Num parecer realizado sobre esta obra, concretizada já durante o mandato de Raimundo Serrão como governador (1949-1953), Rogério Cavaca explica ter-se conseguido "uma composição mais equilibrada e sem os artifícios de mau gosto que figuravam no projecto original". As alterações de João Aguiar dotam o edifício eclético primitivo de uma configuração mais "robusta", porventura mais nacional ou mesmo "chã".
Em 2011, a Igreja encontrava-se em pleno funcionamento e em bom estado de conservação, constituindo um exemplo paradigmático do trabalho desenvolvido pelo GUC para a cidade de Bafatá.
Ana Vaz Milheiro
Os Gabinetes Coloniais de Urbanização: Cultura e Prática Arquitectónica.
(PTDC/AUR-AQI/104964/2008)