Escola industrial e Comercial de Freire Andrade
Beira, Sofala, Moçambique
Equipamentos e infraestruturas
Em 1956, Schiappa de Campos elabora, juntamente com Eurico Pinto Lopes e Lucínio Cruz, a Escola Industrial e Comercial Freire de Andrade na cidade moçambicana da Beira. Esta escola, juntamente com o Liceu Pêro Anaia, completa o quadro então programado pela administração colonial para a cidade. Segundo os autores, o concelho atingiu em 1950 uma "população […] de 11.515" pessoas, sendo esta a comunidade a que se destinava maioritariamente o ensino secundário. A escola destinava-se a uma frequência mista (feminina e masculina) e foi prevista para um total de mil alunos.
O projeto tem por base as Normas para as Instalações dos Liceus e Escolas do ensino profissional nas Províncias Ultramarinas (1956), um documento que foi elaborado pelo próprio arquiteto Schiappa de Campos juntamente com o arquiteto João Aguiar, então diretor do GUU, e com o engenheiro civil Eurico Gonçalves Machado, da Direcção Geral dos Serviços de Urbanização do Ministério das Obras Públicas, mas destacado em serviço no Gabinete. O objetivo era regularizar a construção deste tipo de edifícios, criando um corpo de conhecimento capaz de salvaguardar os aspetos do funcionamento das escolas construídas pelo Estado, dentro de ideais de economia e padronização construtiva.
Uma consulta à memória descritiva e justificativa da Escola revela que o Gabinete não possui, à data do projeto, "elementos precisos sobre o local para onde se destina", limitando-se a remeter uma "planta esquemática da ocupação do terreno com a indicação da orientação a dar ao edifício e uma distribuição possível pelos espaços envolventes dos diferentes campos de jogos. A área de implantação prevista, com seis hectares, concretiza-se no bairro Matacuane, junto à avenida 24 de Julho, a grande artéria da cidade existente no sentido norte-sul. O lote, determina a entrada principal pela atual Rua Fernão Veloso e fica ladeado a nascente pela atual Rua de Lacerda Forjaz e a norte pela circular da Rua do Condestável, já no limite com o bairro Mananga.
O procedimento segue uma prática corrente para estes programas, favorecendo o desenvolvimento de projetos-tipo que levam à configuração de edifícios soltos nos lotes, cujas exigências de implantação são predominantemente técnicas (insolação, ventos dominantes, etc.). Internamente, a organização funcional aproxima-se daquela que era seguida nas obras similares construídas na Metrópole, ainda que com os ajustamentos indispensáveis aos trópicos, como por exemplo, a substituição de corredores interiores de distribuição por galerias exteriores.
Lucínio Cruz e Eurico Lopes tinham anteriormente concretizado na capital angolana alguns destes enunciados no Liceu Feminino D. Guiomar de Lencastre (1954), evidenciando os aspetos "racionais" da composição em detrimento dos estéticos, ainda que a composição simétrica e a monumentalização da entrada, sejam os elementos dominantes na composição da fachada principal.
Em 2009 a escola encontrava-se num estado muito próximo do original e em pleno uso.
Ana Vaz Milheiro
Os Gabinetes Coloniais de Urbanização: Cultura e Prática Arquitectónica.
(PTDC/AUR-AQI/104964/2008)