Casa Monte da Silva

Casa Monte da Silva

Madgaon [Margão], Goa, Índia

Habitação

A Casa Monte da Silva foi erguida, no século XVIII, em Margão, vindo a ser adquirida, em 1816, pelos antepassados do atual proprietário, Fernando Monte da Silva, à família Coutinho. Apresenta uma fachada de dois andares semelhante à casa nobre portuguesa que dissimula, todavia, uma organização espacial interna devedora das formas tradicionais de vivência hindu. Com efeito, as dependências domésticas desenvolvem-se a partir de um pátio interior centralizado, conhecido em Goa como rozangon, com origem no raj angon hindu.

A fachada, pintada de azul e branco, organiza-se simetricamente. No primeiro piso abre-se uma varanda corrida, sustentada por mísulas, com um gradeamento cinzento decorado com motivos vegetalistas e geométricos, pintados de azul e branco. Apresenta, ainda, um conjunto de janelas de sacada, de forma trilobada, com elegantes molduras azuis. No coroamento das janelas foi aplicada uma chapa metálica ondulada para proporcionar sombra no verão e proteger da chuva durante a época das monções. O andar térreo apresenta janelas de peitoril com arcos abatidos e molduras pintadas de azul, formando janelas de avental pintadas da mesma cor. Os vãos das portas são igualmente decorados com molduras azuis para condizer com as janelas: o vão principal em arco de volta perfeita, ornado de azul, embora não seja grandioso, destaca-se dos restantes por causa das duas pilastras que o ladeiam e pela justaposição de um elemento decorativo na ombreira; os restantes vãos destinados à entrada são em arco abatido.

No primeiro piso, estão dispostos dois salões, em articulação com a varanda corrida, onde se destacam as seguintes peças de mobiliário: canapés, consolas, cadeiras, mesas, espelhos e sanefas douradas. Para que o ar circule no interior da casa, os tetos ostentam aberturas decoradas com pequenos florões, enfatizados pela pintura, e outros motivos geométricos. No andar térreo, as paredes da área da entrada estão pintadas com um padrão reconhecível em Portugal, e nas janelas viradas para os alçados laterais podem apreciar-se carepas ou conchas planas no lugar de vidro. Na verdade, o vidro só viria a tornar-se acessível, em Goa, já no século XIX, recorrendo-se, por isso, à utilização de carepas nas janelas uma vez que proporcionam uma luminosidade translúcida, criando no interior uma atmosfera suave.

Os oratórios, enquanto objeto, eram elementos tipicamente presentes nas casas das famílias autóctones cristãs, brâmanes e chardós, ligados a uma importante tradição religiosa, e que deram origem a um espaço físico destinado ao recolhimento e à oração, prenunciando uma determinação ocidental uma vez que neles é manifesta a simbiose entre os temas de matriz cristã, por via dos modelos portugueses, e o fundo religioso local pré-existente. Alguns oratórios são de pousar, outros estão inseridos numa estrutura própria criada para o efeito, e outros ainda encontram-se inseridos num nicho ou pendurados. O oratório de parede da Casa Monte da Silva está inserido num nicho e apresenta duas portas articuladas. Em cada um dos volantes das portas, estão presentes, de forma simétrica, dois registos e uma estampa: do lado esquerdo, a estampa é alusiva ao anjo da guarda, e no lado direito é referente a episódios da vida e martírio de São Luís Gonzaga; os registos têm um carácter votivo, resultantes do agradecimento por uma dádiva recebida. Apoiadas em peanhas, encontram-se pequenas imagens devocionais, esculpidas em marfim e madeira policromada. Ao centro, observam-se a Crucificação de Cristo pautada por um grande rigor anatómico, um calvário com uma cruz prateada, e uma auréola raiada que sustenta um Cristo em marfim representado com um panejamento pregueado, sugerindo a ideia de movimento, com as pernas ligeiramente encurvadas e com um único prego sobre os pés. Para além desta imaginária, estão ainda presentes as imagens do Menino Jesus de Praga e alguns santos, de Santo António e São Sebastião, e da Virgem com o Menino em posição de destaque.

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