Liceu António Enes (Atual Francisco Manyanga)

Liceu António Enes (Atual Francisco Manyanga)

Maputo [Lourenço Marques], Maputo, Moçambique

Equipamentos e infraestruturas

O projeto para o antigo Liceu Misto António Enes foi realizado pela dupla de arquitetos Lucínio Cruz e Eurico Pinto Lopes em 1956, no âmbito da produção do GUU. Este projeto, juntamente com o do Liceu Pêro Anaia na Beira, dos mesmo autores, visava colmatar a insuficiência do programa escolar moçambicano que se restringia ao Liceu Salazar, o único existente à época na antiga cidade de Lourenço Marques. Elaborado de acordo com as Normas para as Instalações dos Liceus e Escolas do Ensino Profissional nas Províncias Ultramarinas, redigidas em 1956 de forma a padronizar o método de projetar os edifícios estabelecimentos escolares nas várias Províncias, prevendo, no entanto, a adaptação às características locais, em particular às especificidades do clima.

A atual Escola Secundária Francisco Manyanga, localiza-se na zona ocidental da cidade, ocupando o quarteirão definido pela antiga Avenida Paiva Andrade (atual Avenida Mohamed Siad Barre) e ladeado pelas atuais Avenidas 24 de Julho e Josina Machel (antiga 5 de Outubro). As condicionantes do lote muito estreito obrigaram a uma implantação menos favorável do eixo longitudinal orientado a nordeste-sudoeste, não permitindo que as salas de aula recebam o sol favorável norte-sul, beneficiando, em contrapartida, dos ventos dominantes frescos que sopram de quadrante Este.

O novo liceu da capital moçambicana, com uma frequência de 640 alunos, dá seguimento ao modus operandi estabelecido na realização do Liceu Feminino D. Guiomar de Lencastre (Luanda, Lucínio Cruz, 1954), com as peças escritas uniformizadas e o desempenho arquitetónico a aproximarem-se da estandardização com a apresentação de soluções-tipo, detalhamento, e materiais que integram um painel normalizado com aplicação a todos os equipamentos escolares. Há registo de projectos muito semelhantes, caso das escolas técnicas elementares para as regiões moçambicanas de Nampula e Inhambane (Schiappa de Campos e Lucínio Cruz), também de 1956, que surgem como um aperfeiçoamento do edifício escolar para a cidade angolana de Silva Porto (atual Kuíto), desenhada anteriormente pelos mesmos autores.

A estrutura funcional repete o mesmo esquema do Liceu D. Guiomar de Lencastre, onde os vários volumes do conjunto se desenvolvem em torno de dois pátios, interligados pelas galerias cobertas de 2,8 m de largura que contornam o perímetro interior.  A solução comporta fundamentalmente dois grandes blocos de três pisos para as aulas, implantados paralelamente, e três outros volumes que estabelecem a ligação entre eles. O conjunto apresenta uma planta praticamente simétrica, que permite a existência de pátios de recreio separados para os alunos e as alunas. No corpo central localiza-se a escadaria principal de acesso aos pisos superiores, o anfiteatro na planta térrea e a capela no 3º piso. O refeitório, com capacidade para 120 alunos, foi implantado na zona posterior e os dois ginásios (masculino e feminino) correspondem aos volumes laterais. O programa foi distribuído de acordo com a funcionalidade dos diferentes espaços e no sentido de tornar independentes, na medida do possível, as instalações destinadas à frequência masculina e feminina.

Um pórtico de grandes dimensões, abrangendo a altura de dois pisos, e uma pequena escadaria marcam a monumentalidade da entrada.  A regular distribuição dos vãos e as varandas abertas acentuam a horizontalidade do bloco principal e apresentam-se como os elementos mais característicos dos alçados, procurando-se que correspondessem não só às exigências funcionais da planta, como também às que derivam das condições locais. A horizontalidade é quebrada pela introdução de pilares a toda a altura da fachada, imprimindo um ritmo vertical que confere monumentalidade ao conjunto. A proposta resultante vai ao encontro de uma linguagem comum entre a modernidade da estrutura em betão armado conjugada com materiais tradicionais como a pedra e a telha, reforçando a imagem arquitetónica do Estado Novo.

A obra foi concluída em 1961, embora só tenha sido inaugurada em 28 de Maio de 1962. Em 2010 a escola encontrava-se num estado muito próximo do original e em pleno funcionamento.

Ana Vaz Milheiro

(Projeto GCUC, FCT ref. PTDC/AUR-AQI/104964/2008)

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