
Fortaleza de Jesus
Mombasa [Mombaça], África Oriental com a Etiópia, Quénia
Arquitetura militar
A Fortaleza de Mombaça, obra de João Baptista Cairato, é um exemplar de arquitetura da idade moderna, impressiva, de concepção ampla e segura. Obra do arquiteto-mor da Índia, apresenta particularidades únicas na sua concepção, a começar pela escolha da sua implantação sobre a formidável formação de coral que faz de sentinela altaneira à entrada do porto. Sendo uma obra datada de 1593, de período maduro na biografia do seu autor e na prolixidade dos exemplares que foi produzindo, cada vez mais de acordo com os cânones da tratadística, a Fortaleza de Jesus apela a diferenciados entendimentos e percepções na forma como se nos oferece, sobretudo quando comparada com exemplares portugueses que lhe estão próximos no tempo ou no espaço, seja São Sebastião de Moçambique, seja a extraordinária e muito antecedente Fortaleza de Ormuz, de Inofre de Carvalho.
Foi reconstruída em parte depois de sucessivos ataques ao longo de Seiscentos, e finalmente conquistada pelos muçulmanos em 1699. Enquanto exemplar de um Renascimento europeu transplantado para África, a Fortaleza de Mombaça é um singular regionalismo extraído da capacidade de dar resposta ao tipo de armas dos presumíveis sitiadores e de afirmar a plena superioridade de manobra da artilharia, sendo excessivamente alta para o padrão normal de fortaleza costeira (fundida que está, como se se tratasse de uma peça monolítica, no promontório coralífero). Depois, o alteamento, eriçado de ameias denteadas, que a partir de meados do século XVIII foi realizado pelos senhores árabes e suaílis, empresta ao conjunto uma estética de exotismo que mais realça a especificidade desta arquitetura.
A organicidade que começa na adoção de um partido antropomórfico (apontado pela generalidade dos autores no desenho da planta), encontra expressão explícita na entrada sifonada e bem protegida pelo orelhão do baluarte de São Matias, ou na ligação, por escada escavada, à poterna da obra coroada exterior, em plano inferior, mais próximo das águas do porto.
A perfeição técnica da realização revela-se nomeadamente na altura atingida com a frente exposta ao mar, ou na tenalha dos baluartes de São Filipe e de Santo Alberto, no lado oposto. O aspecto mais marcante do monumento é o do seu uso intenso, ininterrupto que tem sido ao longo dos séculos, hoje dedicado à cultura.
Embora com algumas partes em ruína consolidada (igreja, casernas, etc.), pode dizer-se que o que chegou até nós completo foi o sistema de muralhas e algumas adaptações residenciais suaílis, a que foi acrescentado um edifício (patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian, conjuntamente com a reabilitação da fortaleza), para albergar aquele que desde a sua fundação se constituiu no museu mais visitado do Quénia, inaugurado em 1960. Em maio de 1958, a recém-criada Fundação Calouste Gulbenkian inaugurou a sua primeira obra de proteção do património construído de origem portuguesa, fazendo uma doação a este exemplar que Portugal partilha com outros povos, num país que na altura se libertava da dependência colonial.
Mais recentemente (1999/2001), voltou a proceder ao restauro e consolidação das muralhas e a outros trabalhos de manutenção.