
Forte de Quíloa
Kilwa Kisiwani [Quíloa], África Oriental com a Etiópia, Tanzânia
Arquitetura militar
O Forte de Santiago foi edificado em poucos meses, em 1505. Em carta de 16 de dezembro de 1505, D. Francisco de Almeida gabava a obra a D. Manuel I: "Fizemos Senhor allii huuma fortaleza que se podesse ser compraria por anos de minha vida vee la Vossa Alteza porque he tam forte que se esperara nela el rei de França e tem apousentamento de muito boas casas pera duas tamta jemte como aly fica e desembarquom os batees as pipas por huuma esquada de seis degraaos demtro no baluarte que he o mais forte da casa. Ally Sennhor pus em monte e espallmey todas as naos e deixei a fortaleza muito bem abastecida e todas estas obras se fizerom em dezassete dias mas os fidalgos e de hi pera baixo todos trazem os braços mais compridos da padiulla e leixei ordenada a casa pera a especearia demtro na fortaleza onde os bateis a podem meter nela" (ed. Rego, 1962-89, pp. 326-328). Todavia a ocupação portuguesa não durou mais do que uns escassos sete anos, pois o forte foi abandonado em 1512.
A sua manutenção era difícil, parecendo preferível concentrar os esforços militares e comerciais em Sofala e Moçambique. A importância excecional do pequeno Forte de Quíloa advém do facto de se tratar da primeira arquitetura militar de pedra e cal levada a cabo de acordo com um modelo arquitetónico pré-moderno que seria repetido em circunstâncias idênticas na primeira fase do conhecimento e domínio do Oriente.
O mestre principal da fortaleza foi Tomás Fernandes, que "traçava os planos e dava início aos trabalhos no local, deixando em cada feitoria um subalterno, quando partia para nova missão, noutra feitoria ou ponto de apoio às armadas" (Dias, 2005). Fernandes seguia certamente um modelo manuelino de composição.
Em 1505, Cochim constituía já a base de operações estabelecida na Índia, adaptadas que foram as instalações cedidas pelo sultão aos portugueses. Porém Quíloa é um edifício de raiz e, conquanto expedito, altamente inovador do ponto de vista da teoria e da história da arquitetura militar. Com efeito, D. Francisco de Almeida levava o encargo expresso de fazer uma fortificação em Quíloa, para o que deve ter sido criado um desenho regimental. Só assim seria possível tomar as diretivas para alcançar, em pouquíssimo tempo, a forma nova de uma arquitetura-tipo de transição, isto é, postergando em larga medida princípios medievais e subordinando tudo à superioridade da artilharia, que se afirmava no plano de toda a estratégia. Esta peça da arquitetura portuguesa antecede Castro Marim e Aguz.
Trata-se, portanto, do espécime subsistente da primeira fase da expressão construtiva do Império Português do Oriente. O forte português de Quíloa é também notável por se tratar de uma construção que subsistiu sem perder as características originais, apesar dos seus acrescentos suaílis. Com efeito, segundo estudos de Neville Chittick, o arqueólogo inglês que explorou intensamente Kilwa Kisiwani, pelo menos entre 1957 e 1965, a compleição da ruína da Gereza (nome que designa localmente o forte e significa "prisão", sendo uma corruptela da palavra portuguesa "igreja") deve algo a acrescentos omanitas do início do século XIX, "aparentemente por ordem de Yaqut, então o representante do sultão de Mascate em Zanzibar. [...] Sabemos da Narrativa de Viagens de Owen que em 1824 ainda lá havia uma guarnição de tropas de Omã. [...] O edifício foi descrito como arruinado em 1842 [...], mas ainda tinha uma guarnição baluchi em 1850 [...]. A parede norte, minada pelo mar, tinha certamente entrado em colapso antes de 1857, quando Burton visitou o forte" (Chittick, 1974-1975).
Em 1900, Bernhard Perrot levou algum espólio arqueológico para a Alemanha; por sua vez os ingleses, em 1935-1936, iniciaram trabalhos de prospecção, publicados a partir de 1950, por Gervase Mathew e Mortimer (supervisado por James Kirkeman), com o título Kilwa, the Cutting behind the Defensive Hall; mais recentemente Neville Chittick procedeu a uma campanha sistemática de pesquisas arqueológicas, levadas a cabo quase durante uma década, pelo menos até 1965. No enquadramento do lugar, o edifício arruinado tem uma presença de grande impacto histórico, estético e paisagístico, incrustada num ambiente árabo-africano. Para a construção atual, de base sensivelmente quadrangular, torreada e em ruínas, existe um projeto de recuperação/ preservação executado para a Fundação Calouste Gulbenkian.
O edifício integra-se no conjunto Kilwa Kisiwani e Songo Mnara, declarado Património Mundial pela UNESCO, em 1981.