Bloco de Habitação Plurifamiliar/Antigo Universal

Bloco de Habitação Plurifamiliar/Antigo Universal

Lobito [Lubito, Olupitu], Benguela, Angola

Habitação

Em 1953, Francisco Castro Rodrigues (1920-2015) chega à cidade do Lobito onde irá aplicar os princípios da Carta de Atenas (1933), (que traduziu para português e que será publicada na revista Arquitectura no ano de 1948), no desenvolvimento do Plano de Urbanização da cidade (1969-1972) de acordo com as quatro funções vitais: habitação, lazer, trabalho e circulação.

O edifício da companhia de seguros “A Universal” (1957-1961), um bloco misto de habitação, serviços e comércio, com a sua escala monumental, marcará entrada da cidade concebido como uma Unité de Habitation, é clara a exploração do léxico corbusiano adaptado ao clima tropical.

O anteprojecto, realizado em 1957, é desenvolvido inicialmente para a empresa SOREL e aprovado pela Câmara Municipal em 1958, ano em que a Companhia de Seguros “A Universal” adquire os lotes 426 e 427 e prosseguirá com o projecto mantendo a estrutura programática, já aprovada, de um piso térreo com um grande espaço comercial, espaços de escritórios no primeiro piso e habitações de pequenas dimensões nos pisos superiores. O edifício remata o quarteirão junto ao Bairro da Caponte definido pelas ruas 25 de Abril e 15 de Agosto, e a grande praça Patrice Lumumba, para a qual se desenha a fachada principal. Tendo em conta a localização, e tendo como objectivos a dignificação da entrada na baixa comercial da cidade, e a importância da empresa, Francisco Castro Rodrigues afirma o carácter monumental do edifício obtendo a autorização para elevar a cércea do edifício principal orientado para a praça acima do previsto no Plano de Urbanização.

O edifício principal tem 9 pisos, e estende-se lateralmente através de volume menor de 6 pisos estabelecendo a continuidade altimétrica com os edifícios existentes. No piso térreo de duplo pé direito, e ao longo de todo o “L”, é definida a área comercial em galeria porticada protegendo os transeuntes do sol. O piso intermédio desenhado para escritórios projecta-se além do limite da fachada como uma "caixa" de transição entre a galeria comercial e o volume superior de 5 pisos de habitação. A entrada é evidenciada através de uma varanda e de uma pala ondulada. Em ambos os volumes a cobertura é definida por uma pala sobre pilares, num piso destinado a espaços comunitários como ateliers e espaços de convívio no volume principal e uma lavandaria comunitária no volume de 6 pisos. A circulação é garantida por uma galeria horizontal no alçado posterior, e por dois núcleos de escadas simétricos entre si e ainda por uma escada de serviço no exterior.

 A composição das fachadas é definida através de diversos níveis de profundidade de grelhas reticuladas provocando zonas de sombreamento e varandas. A diferenciação cromática das diferentes grelhas intensifica a leitura de “camadas”, desde a marcação da estrutura, às varandas, floreiras e guardas.

Francisco Castro Rodrigues trabalha os temas da modernidade no que respeita às novas formas de habitar, que podem ser vistas na organização interna das habitações, na combinação com do habitar, com lazer e espaços de trabalho no mesmo edifício, na concepção de uma galeria horizontal aberta de circulação, dos espaços comunitários na cobertura, no uso da cor, e também na expressão plástica dos elementos estruturais.

 

Original de Ana Magalhães

(FCT: PTDC/AUR-AQI/103229/2008)

Adaptação de Ana Tostões e Daniela Arnaut.

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