
Liceu (antigo Liceu Nacional Almirante Lopes Alves/Escola do 3.º nível Comandante Saydi Mingas)
Lobito [Lubito, Olupitu], Benguela, Angola
Equipamentos e infraestruturas
Durante a década de 60, na sequência da extinção do Gabinete de Urbanização Colonial (GUC) e da consequente e progressiva autonomia das instituições ultramarinas relativamente à metrópole, assiste-se a uma nova fase no desenvolvimento e construção de obras públicas em Angola. Uma expressão formal e concepção estrutural baseadas na liberdade da arquitectura do Movimento Moderno são recriadas para responder à cultura e clima tropicais, das quais são exemplo o Liceu do Lobito, e o Liceu do Sumbe (Novo Redondo) ambos desenhados por Francisco Castro Rodrigues (1920-2015).
Projectado por Francisco Castro Rodrigues no início dos anos 60, e inaugurado em 1967, o Liceu Comandante Saydi Mingas (1960-1967), (antigo Liceu Nacional Almirante Lopes Alves), localiza-se no Lobito num dos lotes do Bairro do Compão junto ao terminal ferroviário entre a linha férrea e a Avenida Sá da Bandeira.
O plano inicial previa uma infra-estrutura escolar construída de forma faseada e composta por 14 edifícios (blocos de salas de aula, anfiteatro para música e canto coral, reitoria e administração, dois ginásios, biblioteca, habitação para o reitor e salão de festas), tendo sido apenas desenvolvidos e construídos os edifícios que constituíam a 1ªfase: 2 dos blocos de salas de aula, o edifício administrativo e um dos ginásios.
O edifício administrativo é um volume paralelepipédico com 2 pisos situado na entrada, junto à Avenida Sá da Bandeira, onde funciona a reitoria e a secretaria. A fachada principal é parcialmente revestida por uma grelha modular em betão, onde a entrada é assinalada por uma pala. O volume conjuga planos revestidos com tijolo aparente, vãos, varandas salientes e brise-soleil na fachada Poente. O ginásio, implantado a nordeste e afastado do conjunto, é uma estrutura porticada em betão, aberta mas delimitada por um edifício muro, revestido a tijolo aparente, onde se localizam os balneários. A cobertura, em fibrocimento, é marcada pelo ritmo das vigas cujo desenho contêm as caleiras de drenagem das águas pluviais.
Os blocos que contêm as salas de aula constituem 2 longos volumes de 3 pisos dispostos em paralelo e desencontrados entre si. O bloco a Noroeste, de menor extensão, com 60m de comprimento, corresponde ao núcleo de aulas do 1ºciclo enquanto o bloco a Sul, de aproximadamente 100m de comprimento corresponde ao 2º e 3º ciclo. O bloco do 2º e 3º ciclos está implantado mais próximo da Avenida Sá da Bandeira, e ambos estão implantados no sentido noroeste-sudeste promovendo assim a ventilação transversal, e a recepção dos ventos predominantes nas fachadas de sudoeste. Ambos apresentam um piso vazado sobre pilares originando áreas de recreio em sombra e arejadas, em ambos as salas de aula estão organizadas segundo uma estrutura modular, de 6 salas no bloco destinado ao 1º ciclo e 8 salas no 2º e 3º ciclos, localizando-se na fachada Sudoeste onde a ventilação é assegurada por grelhas de betão, em conjunto com caixilharias com persianas em vido tipo “beta” que permitem controlar a circulação de ar. As galerias horizontais de circulação são espaços exteriores cobertos e estão expostas a Nordeste. No bloco correspondente ao 1º ciclo o núcleo de circulação vertical é interno ao volume total, quebrando, em conjunto com o núcleo de instalações sanitárias a sequência modular das salas de aula. No bloco 2º e 3ºcicloa circulação vertical é composta também por um volume interno ao volume principal, e ainda por e dois volumes verticais de escadas salientes que quebram a continuidade da galeria. No piso térreo existem dois anfiteatros abertos sobre pátios confinados por planos construídos através de grelhas de betão.
A resposta às condições climáticas é feita com recurso ao léxico do moderno, traduzido na criação de grelhas de betão, na suspensão dos blocos desenhados sobre pilares libertando o espaço térreo, no domínio estrutural, que concorrem para a promover a permanente ventilação transversal, o sombreamento e a protecção das chuvas tropicais, e para a afirmação do Liceu do Lobito como uma obra de referência do património moderno construído em África.
O Liceu encontra-se em funcionamento com carências de manutenção e conservação dos edifícios, espaço público e recreios.
Original de Ana Magalhães
(FCT: PTDC/AUR-AQI/103229/2008)
Adaptação de Ana Tostões e Daniela Arnaut.