Seminário Menor
Saligão, Goa, Índia
Arquitetura religiosa
Foi em 1934 que, por iniciativa do patriarca Teotónio Manuel Vieira de Castro, se decidiu fundar no planalto de Saligão um seminário. Durante o ano seguinte fez‐se uma subscrição pública para angariação dos fundos necessários à construção. Dois projetos para este edifício podem ser vistos na recepção do seminário, onde hoje funciona um colégio para rapazes. O primeiro foi apresentado em janeiro de 1936 pela firma de Aloísio L. Colaço, com sede em Bombaim. Colaço era engenheiro, natural de Margão, e foi o responsável, entre outros, pelo projeto da Ópera de Bombaim. A construção, em estilo neogótico, tinha três andares e organizava‐se em E. A pedra fundamental foi benzida a 8 de dezembro de 1937, mas o trabalho só se iniciou um ano depois. As obras decorreram a ritmo lento, devido à falta de meios decorrente da Segunda Guerra Mundial. Em 1942, o patriarca José da Costa Nunes tomou posse da Arquidiocese de Goa. Nessa altura, fez um apelo à generosidade da comunidade católica e, juntamente com apoio que obteve do governo português, reuniu fundos suficientes para que as obras do seminário prosseguissem. Ainda no mesmo ano, o projeto foi revisto por Colaço. O seminário passou a organizar‐se em U, em torno de um terreiro, tendo o edifício baixado para dois pisos e desaparecido o corpo central. A linguagem neogótica deu lugar a uma linguagem de inspiração art déco. A construção tinha as mesmas dimensões‐base que no primeiro estudo, provavelmente porque as fundações já estariam construídas. Uma das alas acabou por não ser construída por falta de recursos financeiros e o seminário ficou organizado aproximadamente em dois corpos que formam entre si um L. O edifício construído corresponde na sua generalidade ao segundo desenho de Colaço mas tem algumas alterações, nomeadamente ao nível dos alçados que sofreram uma simplificação. É provável que essas alterações tenham sido introduzidas por um técnico das Obras Públicas que provavelmente acompanhava a obra em conjunto com Costa Nunes, na época também responsável pelo seminário. A partir do ponto de acesso à propriedade, um enorme terreiro, um jardim e os acessos organizam‐se de modo simétrico relativamente ao corpo principal do seminário, onde se faz a entrada, marcada por um volume saliente na zona central. No rés‐do‐chão organiza‐se a recepção, a capela e um salão de festas. No segundo corpo existem salas de aula, refeitório e zonas de apoio. No piso de cima estão as camaratas. A distribuição é feita por dois grupos de acessos verticais que conduzem às galerias de distribuição existentes do lado interior do conjunto. A entrada, as galerias, os acessos verticais e a estrutura marcam o alçado principal com uma linguagem simples. O Seminário Menor de Saligão foi inaugurado a 6 de dezembro de 1952, aquando das comemorações do quarto centenário da morte de São Francisco Xavier. Em junho do ano seguinte entrou em funcionamento. Tal como o Seminário Missionário do Pilar, inaugurado na mesma altura, o seminário de Saligão encontra‐se implantado num planalto, de onde domina a paisagem. Apesar da simplicidade da sua arquitetura, reflexo das dificuldades financeiras da época, o edifício é ainda um marco na arquitetura de Goa pela sua escala, implantação e importância simbólica. Representa mais um esforço da Igreja, apoiada pelo governo português, em deixar marcas no que já se adivinhava o fim do Estado da Índia. Ao mesmo tempo, a construção e inauguração de dois seminários, o de Saligão pelo Patriarcado de Goa, e o do Pilar pelas Missões da Índia, reflete o conflito de Portugal e a Santa Sé em torno do Padroado Português no Oriente.