
Igreja de Nossa Senhora da Glória
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Arquitetura religiosa
A igreja está edificada sobre uma colina junto à baía, que passou a ser denominada de Outeiro da Glória depois de 1671, quando António de Caminha, natural de Aveiro, ergueu ali uma pequena ermida com essa devoção. No local havia se desenrolado, em 20 de janeiro de 1567, uma das últimas e decisivas batalhas para expulsão dos franceses da região, quando foi ferido mortalmente o fundador da cidade e capitão‐mor Estácio de Sá. O templo atual foi construído entre 1714 e 1739, e a autoria do projeto é atribuída ao tenente‐coronel José Cardoso Ramalho, então engenheiro da capitania do Rio de Janeiro. No decorrer do século XVIII, as fes‐ tas de Nossa Senhora da Glória tornam‐se das mais concorridas da cidade. A arquitetura da igreja, pela época em que foi edificada e por suas características, formada por dois volumes de base octogonal alongados, precedidos por um volume quadrado correspondente à torre sineira, é um exemplar único da arte dos engenheiros militares portugueses. Difere, pelo dinamismo barroco dos octógonos alongados, das igrejas de partido poligonal, construídas até aquele momento no Brasil, como as capelas de Nossa Senhora do Patrocínio, na Paraíba, e da Torre de Garcia d’Ávila na Bahia, centrais e clássicas. Difere também das inúmeras igrejas octogonais construídas em Portugal no início do século XVIII, estas de clara influência italiana. Na Igreja da Glória, o que predomina é a arquitetura chã portuguesa, com as arestas acentuadas por pilastras de cantaria, terminadas numa forte cimalha, também de cantaria e coroada com robustos pináculos. A cobertura da nave, em terraço ao invés de telhado, é exemplar único no Brasil, mas tem paralelo no Mosteiro de Mafra e na Catedral de Évora. As três portadas de pedra de lioz são da segunda metade do século XVIII, isto é, posteriores ao resto da construção. No interior a mesma contenção chã, com as paredes e abóbadas pintadas de branco divididas pelas cimalhas e uma dupla ordem de pilastras. O grande elemento decorativo são os painéis de azulejos contínuos que decoram a nave e capela‐mor, que representam cenas do Cântico dos Cânticos e são característicos do barroco joanino, datados entre 1735 e 1740. Os dois retábulos da nave são em estilo rococó tardio, do final do século XVIII ou início do XIX, mais contidos na sua composição e com a característica tarja central e aletas laterais da talha do Rio de Janeiro do período. A sacristia que envolve a capela‐mor conta com arcaz do século XIX e painéis de azulejos setecentistas, da mesma época dos da nave, representando cenas de caça. A igreja encontra‐se sobre um adro elevado e pavimentado com grandes lajes de pedra, ao qual se acessa por duas amplas escadas de alvenaria que têm entre elas um nicho com uma cópia da imagem de Nossa Senhora da Glória existente na cidade de Lagos, no Algarve. Durante a grande restauração realizada na década de 1940, foi retirada a policromia dos retábulos, além da pintura que representava a assunção da virgem na abóbada da capela‐mor, enfatizando assim a severidade chã da arquitetura do monumento.