Díli

Lat: -8.553826082428100, Long: 125.579956265490000

Díli

Díli, Timor

Enquadramento Histórico e Urbanismo

Abandonada a sitiada praça de Lifau em agosto de 1769, o governador Teles de Meneses (1768‐1775) e a população que com ele embarcou nos navios São Vicente e Santa Rosa chegaram a Díli em 10 de outubro seguinte. Embora tivessem como destino Vemasse, encontraram no local condições propícias para a sua instalação. Com efeito, os apelos do régulo de Motael, que governava a região, para que os portugueses o auxiliassem no combate aos seus adversários, asseguravam a fidelidade do chefe nativo.
Por um lado, a situação geográfica de Díli era igualmente convidativa para a fixação de uma praça. Situada sensivelmente no centro da costa norte de Timor, servida por uma baía de águas calmas, balizada pelas pontas de Fatumaca e de Tibar, com a Ilha de Atauro em fundo, Díli oferecia boas condições de navegabilidade e de defesa. Por outro lado, o local era servido por água potável e terrenos favoráveis a culturas cerealíferas. Embora fértil em terrenos pantanosos que tornavam a região insalubre, circunstância que levaria, muitos anos mais tarde, o governador Frederico Leão Cabreira (1839‐1844) a propor a construção de uma nova urbe noutro local, Díli tornar‐se‐ia capital de Timor até aos dias de hoje.
Com efeito, a envolvente montanhosa de Díli constitui uma barreira física defensiva e de refúgio das populações em relação a ataques externos, mas limita a ocupação. A natureza instável dos terrenos junto ao sopé das montanhas e a degradação do coberto vegetal, resultado da ocupação humana, criaram condições para o deslizamento de grandes volumes de terras sobre a faixa entre o mar e a montanha. A proximidade da montanha e o regímen de enxurradas tornam esta faixa vulnerável à inundação, destruindo áreas marginais e leitos de cheia de rios e ribeiras (secos durante sete meses no ano), e criando pântanos pela retenção de águas em bolsas sem capacidade de escoamento. A elevada sismicidade regional, a existência de áreas pantanosas, o regímen de enxurradas e a instabilidade dos solos desaconselhariam a ocupação humana deste local. Porventura o apressado abandono de Lifau e o contraste entre os dois lugares geográficos terá influenciado a decisão da escolha de implantação da nova feitoria.
Aquando da chegada dos portugueses, existia ali apenas um presídio, protegido por uma tranqueira com doze baluartes. Em 1796, por força do assédio que holandeses, ingleses e franceses (que então estavam em guerra) faziam à colónia de Timor, foi decidida a edificação de uma fortaleza de mais sólida construção, ou seja, feita em pedra solta e argila. Simultaneamente foram construídos edifícios públicos, sabendo‐se por relatos de viajantes que em inícios do século XIX existia já uma residência para o governador e uma igreja dedicada a Santo António.
Somente pela ação do governador José Maria Marques (1834‐1839) se esboçaria um primeiro plano urbanístico para Díli. Foi construída uma longa avenida paralela à costa e erigido um quartel de infantaria e uma nova residência para o governador, além de estradas com destino às zonas limítrofes. Anos mais tarde seria erguida uma escola para formação dos filhos dos régulos e um hospital nos arredores, em Lahane. Em 1863, na sequência da elevação de Timor à condição de Província Ultramarina (até então dependera administrativamente de Macau), Díli adquiria o estatuto de cidade.
Com o estabilizar da ocupação, foi criada uma rede de canais para enxugo das zonas pantanosas e drenagem das águas de enxurrada. Os leitos de cheia são de coberto vegetal, formando linhas de penetração entre o mar e a montanha, uma estrutura primária de caminhos sazonais de penetração transversal durante sete meses do ano e, simultaneamente, uma rede estruturada de coberto vegetal que integra as lagoas de Taci Tolo e as zonas húmidas resultantes do enxugo de primitivas áreas pantanosas. Tudo isto conferiu à localidade uma dominante tonalidade verde, que por vezes é exuberante.
Todavia, em 1866, Díli sofreria a primeira de muitas calamidades que assolariam a capital timorense: um violento incêndio destruiu o quartel, o palácio do governador, a igreja e numerosas residências. Afonso de Castro, que havia sido governador entre 1859 e 1863, descreve‐a no ano seguinte ao fatídico acontecimento como uma cidade onde não havia "edifício algum digno de mencionar‐se", classificando os edifícios públicos, entretanto apressada e precariamente construídos, como meros "barracões". A reconstrução é lenta, devido não apenas à escassez de meios financeiros, mas também de materiais de construção e de mão‐de‐obra especializada, reflexo da pobreza da economia local e do carácter periférico da colónia. Porém, são feitos esforços na recuperação da cidade. Nos anos oitenta de Oitocentos, a viajante Maria Isabel Tamagnini considera que Díli "não é tão má como eu imaginava", referindo‐se à existência de vários edifícios de pedra e cal, de que destaca o quartel, a alfândega, um hospital e a prisão.
Seria sob o governo de José Celestino da Silva (1894‐1908) que a capital de Timor conheceria um período florescente. Apostado no desenvolvimento da colónia, o governador introduziu reformas na estrutura administrativa e económica, que se refletiram no crescimento de Díli. Celestino da Silva promove obras de saneamento básico, constrói estradas e escolas, uma biblioteca e um museu, além de um novo hospital em Lahane, generalizando‐se o uso de materiais mais sólidos como a pedra, o tijolo ou a telha. A cidade assume então uma aparência mais europeia.
Muitas destas construções seriam, porém, arrasadas no decurso da Segunda Guerra Mundial. A invasão japonesa e os violentos recontros com os aliados saldam‐se em numerosas vítimas e na destruição de parte significativa de Díli. Face à devastação e ao facto de a insalubridade da cidade constituir ainda um problema, chegou a ser equacionada pelas autoridades, tal como um século antes o governador Leão Cabreira propusera, a ereção de uma nova capital nas montanhas circundantes, da qual chegou a ser lançada a primeira pedra. Porém, a exiguidade do local escolhido e os riscos de aluimento levaram ao abandono do projeto e à opção pela reconstrução, para a qual o governo português alocou uma verba elevada. Foi edificado um novo palácio do governo, reconstruído o liceu, construído um centro de saúde, residências para funcionários, entre outros imóveis.
O Plano de Urbanização de Díli de 1951, da autoria do arquiteto João António de Aguiar, refere na sua memoria que, após a ocupação japonesa a cidade "sob o ponto de vista urbano, praticamente deixou de existir" e lança os princípios para nova organização, considerando a distribuição dos diferentes grupos étnicos por áreas urbanas distintas, equipadas com núcleos de equipamentos públicos, comerciais e residenciais próprios e adequados aos costumes de cada grupo. Seriam organizadas em torno de um centro cívico que se desenvolvia no lugar do núcleo primitivo e agrupava equipamentos públicos principais, atividade comercial central, habitação e hotéis.
O plano propunha também a drenagem das zonas pantanosas e o saneamento geral da cidade através do aproveitamento da rede de canais existente, e previa a construção de um hipódromo e de um estádio entre o centro cívico e as montanhas. Marginando a baía, desenvolver‐se‐iam dois núcleos residenciais: um para poente, entre o centro cívico e o farol, destinado a europeus; outro para nascente, destinado a chineses, a sul do qual se situava a unidade residencial para nativos, localizada no interior, mais próximo das montanhas.
A distribuição das unidades residenciais ao longo da Avenida Marginal deu à cidade uma nota cosmopolita, hoje reforçada pela ocupação da área residencial para europeus pelas embaixadas. A marginal, preservando a arborização primitiva de grande porte, com duas faixas de circulação num único sentido e bandas largas para peões, constitui o passeio público privilegiado da cidade. As duas ruas com perfis regulares de quinze metros que atravessam a cidade longitudinalmente asseguram as ligações regionais e urbanas e servem de apoio à estrutura dos quarteirões, delimitados por ruas e canais transversais.
Entretanto, fruto do desenvolvimento económico que Portugal conheceu nas décadas de 1950 e 1960 e da política seguida pelo Estado Novo de afirmação da soberania nos territórios ultramarinos - consequência da vaga descolonizadora que então se vivia - Timor beneficiou de algum crescimento, espelhado na construção de vários edifícios de carácter modernista, de que os melhores exemplos são as sedes do Banco Nacional Ultramarino e da Associação Comercial, Agrícola e Industrial de Timor.
A invasão indonésia em 1975 e, sobretudo, a nefasta ação das milícias integracionistas em 1999, no rescaldo do referendo que confirmou o desejo de independência dos timorenses, semearam uma vez mais a destruição pela cidade de Díli. Porém, a resiliência do povo de Timor e a colaboração de múltiplos organismos internacionais e dos governos de várias nações possibilitou a recuperação da cidade.

Arquitetura religiosa

Arquitetura militar

Equipamentos e infraestruturas

Habitação

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