Qeshm [Queixome, Keshm, Qishm]

Lat: 26.960005039100000, Long: 56.276970758100000

Qeshm [Queixome, Keshm, Qishm]

Golfo Pérsico | Mar Vermelho, Irão

Enquadramento Histórico e Urbanismo

A Ilha de Queixome (Qeshm), uma estreita faixa de cerca de cento e trinta quilómetros de comprido, alonga-se perto da costa continental persa, duas léguas a sudo este da Ilha de Gerum (Djarum), onde se implantava a cidade de Ormuz, capital do reino do mesmo nome. Durante séculos, pertenceu a este reino próspero, constituindo fonte de aprovisionamento de víveres e de água potável para aquela ilha árida e seca. Território fértil, de grande produção agrícola e muitos poços de água, Queixome era frequentada pelas embarcações locais, as terradas, que asseguravam o transporte dos mantimentos e dos tonéis de água que abasteciam a urbe e as cisternas da Fortaleza de Ormuz. Logo em 1507, Afonso de Albuquerque notara a relação que se estabelecera entre as duas ilhas: "A agoa que ha çidade bebe he de hua Jlha que esta duas legoas Dormuz, que se chama queixume, nesta jlha a cryação de guado e çemeão em ella triguo e çeuada e milho, he he maior que a ilha dormuz e tem ell Rey nella huas cazas em que pousa, quoando vay la a caça" (Smith, s/d, p. 9). Ainda que as necessidades da Ilha de Gerum pudessem ser providas no continente, pela Ilha de Laraque (Larak) ou por outras ilhas mais distantes, como aconteceu em situações de emergência, era com Queixome que essa relação de dependência era mais forte e duradoura. Estas circunstâncias mudaram em 1608, quando os persas ocuparam a Ilha de Qeshm e o território continental, junto às nascentes de Bandar-Gombroon (Ban dar Abbas), onde os portugueses tinham um pequeno forte, e de onde foram expulsos em 1614. Ao mesmo tempo que ocorriam estas movimentações militares e se perdia o controlo das duas melhores fontes de água da zona, Filipe II desenvolvia iniciativas diplomáticas junto do xá Abbas a fim de contrariar estes acontecimentos, sem que no entanto se alcançassem resulta dos práticos. Ainda que o trato mercantil de Ormuz continuasse a decorrer, garantido pelos navios portu gueses que patrulhavam o Estreito, era visível o decréscimo do tráfego comercial e notória a crescente ameaça persa, assim como a presença inglesa. Estas circunstâncias levariam o rei ibérico a ordenar uma investida militar: o capitão Freire de Andrade é enviado para o Golfo à frente de uma poderosa armada, com o triplo objetivo de impedir quaisquer navios europeus de praticar o comércio, ocupar a Ilha de Queixome e ali levantar uma fortaleza. Esta última missão era controversa e punha em causa o sensível equilíbrio de forças na região. O capitão de Ormuz, Francisco de Sousa, e outros elementos com longa experiência na zona alertaram para o perigo de tal decisão, que poderia provocar um ataque direto das forças do xá da Pérsia às posições portuguesas em todo o Golfo, colocando em risco a própria fortaleza de Ormuz. Os acontecimentos sequentes provariam que os seus receios tinham fundamento. A determinação régia foi avante, com o apoio do rei de Ormuz, que entendia fazer valer os seus direitos ancestrais sobre este e outros territórios. Uma armada com um contingente de "dois mil sol dados velhos Portugueses e mil Mouros Ormuzianos" abordou a ponta norte da Ilha de Queixome a 7 de maio de 1621 (Leite, 1940, p. 94). A defender a praia e os poços de água estava um exército persa de cerca de três mil espingardeiros entrincheirados e mil cavaleiros, que foi rapidamente desbaratado e posto em fuga pela artilharia de mar portuguesa. As tropas desembarcaram e a fortaleza foi levantada em escassos meses, mas pouco tardou para ser sitiada pelas forças anglopersas, que entretanto haviam firmado uma aliança, com a participação dos niquilus. Resistiu durante nove meses. No início de fevereiro de 1622, acordaram-se os termos da rendição da praça; três meses depois, também a Fortaleza de Ormuz capitulava. As palavras que o arcebispo de Goa, Frei Cristovão de Lisboa, dirige ao vice-rei da Índia, Fernão de Albuquerque, são demonstrativas do quanto esta estratégia fora desajustada: "Não se entristeça Vossa Senhoria, nem tome paixão pelo sucesso de Queixome, porque não podia elle ter outro fim, pois se levantou aquella Fortaleza tão fóra de tempo, como sempre praticámos, e os Senhores do Conselho de Castella querem saber d’elle mais que nós cá entendemos e vimos".

Arquitetura militar

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