Azemmour [Azamor]

Lat: 33.292381001206000, Long: -8.341516992159700

Azemmour [Azamor]

Norte de África, Marrocos

Enquadramento Histórico e Urbanismo

A cobiça portuguesa sobre Azamor vinha já desde os finais do século XV. De facto, a profícua pesca de sáveis entre dezembro e março no Rio Oum er Rbia serviu como contrapartida para o contrato estabelecido entre a cidade e D. João II em 1486. Através deste documento, o monarca português tornava‐se suserano da sua população.
Azamor era uma cidade alongada na margem sul do rio, a alguns quilómetros da foz, desenhando um retângulo imperfeito, cujo contorno era definido por fortes muralhas defendidas por torreões e cujo interior era pontuado por edifícios notáveis, nomeadamente mesquitas. A cidade árabe, durante o período de vassalagem a Portugal, cobriria uma mancha sensivelmente semelhante, senão igual, à da atual medina de Azamor, ou seja, cerca de nove hectares.
A ambição de tomar Azamor era muito forte, como o prova a expedição que Duarte de Armas acompanhou à sua barra, em 1507, para debuxar a foz do rio. A conquista definitiva ocorreria em 1513. D. Jaime, duque de Bragança, comandava a poderosa armada que a 29 de agosto desembarcava na baía de Mazagão, para cinco dias mais tarde entrar numa Azamor despejada de gente. O processo de ocupação imediato tomou militarmente os principais pontos defensáveis e permitiu a celebração de eucaristia na mesquita maior, convertida em templo cristão.
A partir de 1534, na sequência de cartas do monarca ao seu Conselho, homens bons e prelados, em que se manifestavam hesitações entre a manutenção ou evacuação de Azamor e Safim, o investimento militar decaiu definitivamente. Começou a declinar também a importância comercial da vila, dificultada pelas condições portuárias, uma vez que a urbe se situava algumas milhas a montante da foz. Perdida a meridional Santa Cruz do Cabo de Guer, em 1541, e falhada a aliança com o rei de Fez, D. João III mandou despejar a vila de Azamor numa operação desenrolada em outubro do mesmo ano. Assim terminavam vinte e oito anos de efetiva ocupação portuguesa, mas não o processo histórico deste centro urbano. A reocupação muçulmana da praça no reinado de Moulay Zidan implicou novas intervenções nas fortificações, cujo perímetro viria a retomar o original que havia sido atalhado. O contorno amuralhado que hoje recolhe a medina de Azamor é resultado do aproveitamento e arranjos das muralhas da vila velha, que os capitães portugueses nunca destruíram, e das introduções árabes realizadas em pontos sensíveis, como cunhais ou portas.
Para Azamor concorria a ideia de uma vila no interior do castelo, visto o traçado do atalho permitir a manutenção de uma área confortável para a acomodação de toda a população. Simão Correia, que a partir de 1516, capitaneava a praça, propôs um plano de intervenção à escala urbana, disposto em várias frentes de acção, com particular ênfase para a organização interna do novo castelo atalhado. O cuidado depositado em alguns pormenores relacionados com a arruação e o calcetamento denunciava um pioneiro higienismo moderno, inserido num pensamento manuelino mais atento ao espaço público, particularmente eviente quando comparado com os traçados apertados herdados do tempo muçulmano. Todavia, a insistência no derrube das casas da vila velha e no aproveitamento dos materiais despojados para novas construções na nova vila permite especular sobre a ocupação territorial da superfície atalhada. Ausente do discurso parece o aproveitamento de casas herdadas no interior do perímetro acastelado, ou seja, aponta para o isolamento dos dois principais equipamentos islâmicos que haviam determinado o traçado do atalho português: a alcáçova moura e a mesquita maior. A área do castelo aparece descrita como erma e praticamente desprovida de construções. Deste modo será verosímil a conclusão acerca de uma implantação da vila nova sobre terreno aberto, praticamente vazio, uma vez que a densidade residencial árabe se concentrara a sul dos edifícios preexistentes mais representativos.
A vila portuguesa organizar‐se‐ia a partir das duas principais estruturas - a Casa do Capitão, sobre a antiga alcáçova, e a igreja, reaproveitada da mesquita - colocadas em torno do terreiro da vila, espaço público que servia igualmente a Porta da Vila. Daqui se traçou a Rua Direita que, descrevendo um cotovelo, alcançava a Porta da Ribeira, à cota baixa. O canal definido pela Rua Direita fomentaria alguma regularidade de ruas paralelas e perpendiculares. A tipologia de quarteirão alongado aparece timidamente, resgatada a partir dos canais viários e parcelamento atuais. Menos de três décadas de presença portuguesa em Azamor foram suficientes para incutir rudimentos de urbanismo regulado, ainda legíveis nos tecidos contemporâneos.
Quanto à construção de casas na vila interior ao castelo, o mote seria dado pelo mestre Diogo de Arruda, que então solicitava terreno. Se Diogo, juntamente com seu irmão Francisco, havia estado presente nas decisões concernentes à reformulação das arquiteturas militares, como adiante se verá, incluindo a implantação das casas da artilharia e celeiro, certamente o par não estaria divorciado do ensaio urbanístico que se adivinhava e Simão Correia aproveitaria. A equipa terá, por conseguinte, gizado o plano que correspondia às aspirações reais para o povoamento de Azamor.
No projeto de Simão Correia previa‐se também a localização da judiaria. A zona situar‐se‐ia abrigada pelo Baluarte da Vila e pelo rio, junto ao muro meridional do castelo, correndo as ruas paralelas àquele para fuga pela Porta da Vila em caso de perigo.

Arquitetura religiosa

Arquitetura militar

Equipamentos e infraestruturas

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