Namibe [Moçâmedes]

Lat: -15.195663826595000, Long: 12.144958082540000

Namibe [Moçâmedes]

Namibe, Angola

Enquadramento Histórico e Urbanismo

Chamada em tempos Angra do Negro, e depois Moçâmedes, a cidade do Namibe foi fundada no século XIX, numa "baía vasta e segura, com bons fundos, de costa sul rochosa, mais alta e extensa que a costa norte, baixa e arenosa, por onde se insinua o Bero" (Amaral, 1962, p. 29). A primeira tentativa de fundar um estabelecimento na região data de 1786, quando o barão de Moçâmedes solicitou a vinda de casais de colonos ao Ministério da Marinha e Ultramar para esse fim. Em 31 de agosto de 1841, instalou‐se naquela baía um presídio e forte. Houve um primeiro reconhecimento da área por P. Alexandrino e J. Francisco Garcia, em 1839, a que se seguiu, no mesmo ano, uma feitoria por António Guimarães Júnior, e a instalação de uma pescaria em 1843, trazida pelo algarvio Fernando Cardoso. Era já povoada com cerca de cento e sessenta habitantes (colonos, degredados e praças) em 1849, quando recebeu uma leva de colonos, constituída por cento e sessenta e seis habitantes de Pernambuco - ao que parece consistindo em refugiados portugueses provindos desta região do Brasil, liderados por Bernardino Freire de Figueiredo Abreu e Castro, beirão que, com base em relatórios sobre Angola que pediu a Lisboa, aqui chegou com os homens e famílias em agosto de 1849. Na sequência do crescimento populacional, o núcleo foi elevado a vila em 1851 e, impulsionado pelo governador Fernando Costa Leal nos anos de 1860, veio a ascender a cidade em 1907, em relação com a ferrovia. A intensificação da colonização portuguesa - originária em particular do Algarve - decorreu a partir de 1850, conjugando‐se, em alguns momentos, com povoamento bóer e com a referida chegada de imigrantes de Pernambuco (Brasil). Em 1905 teve início a construção do caminho‐de‐ferro, inaugurado em 1908, infraestrutura que permitiu melhorar as comunicações com o interior do território. No entanto, só chegou a Sá da Bandeira em 1923, iniciando‐se então um período de crescimento das duas cidades, fruto das trocas entre ambas e com o exterior.
Cidade envolvida por areais (praias das Miragens, Bonfim e Fortaleza), implantada entre o deserto, o mar e as características hortas, Moçâmedes possuiu desde o início um claro carácter urbano que, excetuando a implantação inicial de equipamentos institucionais ao longo da baía (forte, palácio, igreja, hospital), esteve sempre assente na retícula rigorosa (e pioneira, na lusáfrica) estendida alongadamente, no sentido sudoeste‐nordeste. A malha da retícula inicial, tanto quanto foi possível averiguar, ia desde o Forte de São Fernando, em sete quarteirões no sentido nordeste, e em três para o interior. A primeira instalação urbana deve ter ocorrido logo que aquela fortaleza foi erigida, a partir de 1840, no alto da Ponta Negra, sobre a baía. Nas proximidades, ter‐se‐ão seguido os edifícios públicos principais, pitoresca e ingenuamente assentes alinhados sobre a praia. A norte deste conjunto situavam‐se a Alfândega, a ponte‐cais, o Mercado, a Câmara. As ruas da cidade exprimiam com naturalidade o modo de construção, a arquitetura doméstica e a vivência europeia meridional, muito ligada a uma remanescente ruralidade suburbana, aqui caracterizada pelas hortas locais. Estas hortas e a indústria do peixe desempenharam papel fundamental em Moçâmedes: no Saco do Giraúl, no extremo da baía da cidade, portuário, instalaram‐se várias empresas de pesca, com pavilhões próprios e cada uma com uma ponte‐cais de serviço. Vindos pela ferrovia, escoar‐se‐iam por este porto os minérios de Cassinga e da Jamba. No local da Torre do Tombo, instalou‐se a primeira indústria de conservas da região, a Fábrica Africana, com uma série de pavilhões dispostos sequencialmente. Entre 1853 e 1854, foi delineada a primeira planta de Moçâmedes. A primeira malha da cidade foi definida por três arruamentos principais, dispostos paralelamente ao mar, e outros tantos arruamentos de hierarquia inferior, na perpendicular ao mar. A partir daí a povoação cresceu fiel à estrutura definida, sendo que, cerca de 1890, existia já um troço inicial da grande Avenida Principal junto à praia. A fase inicial do Namibe sugere alguma casualidade na forma como o casario surgiu. No entanto, dada a sua importância na consolidação do território, a sul, depressa assumiria um carácter mais planeado e ordenado. Quando aí esteve, em 1930‐1940, H. Galvão descreveu a cidade nos seguintes termos: "assenta entre a praia e o Deserto, no fundo de linda baía e sob as vistas da clássica fortaleza da ocupação [...] tem, à beira‐mar, Jardim Municipal, desenhado como qualquer dos nossos jardins provincianos, e arruma‐se, ao longo dele, em três correntes de casas [...] não é doentia nem empoeirada: o clima agradável, as gentes brancas e civilizadas [...] quando se passeia nas ruas de Moçâmedes, à tardinha, sem bispar Deserto nem mar, dificilmente se realiza a sensação de estarmos em África". Moçâmedes continha população de origem algarvia, "que fizeram um bocado do Algarve em Moçâmedes", segundo o testemunho do arquiteto Luís Amaral - aspecto visível, por exemplo, na construção local, de casas de cores vivas e garridas. Antes do plano elaborado no Gabinete de Urbanização Colonial pelo arquiteto João António Aguiar em 1952, a cidade estruturava‐se segundo uma retícula, em quarteirões, com edifícios implantados no seu perímetro, numa estrutura hierarquizada de ruas e praças, rematada por uma avenida marginal. A relação com o mar fazia‐se fundamentalmente pelas atividades económicas que ali se processavam, desde os armazéns ligados à pesca ao terminal do caminho‐de‐ferro e ao pontão ferroviário para cargas e descargas no porto.
O caso de Moçâmedes é bastante interessante, pelo facto de integrar em si duas características: a de cidade costeira, e por isso aberta ao mar, e a de urbe sob influência do caminho‐de‐ferro. Este último não interfere no desenho geral da cidade, pelo facto de se localizar paralelamente à linha da costa e junto dela. Este perfil e esta vocação viriam a ser alterados (ganhando uma componente lúdica também ligada ao mar e ao turismo), com a proposta do plano, através de uma expansão de desenho bastante formal, constituída por quarteirões fechados e abertos, compostos por tipologias de habitação coletiva e unifamiliar, com o verde como tecido agregador, esboçando uma simbiose entre o modelo da cidade‐jardim e a cidade tradicional. Esta proposta prolongava‐se por toda a extensão da Baía de Moçâmedes, criando uma grande avenida marginal, com novecentos metros de comprimento e trinta e dois de largura. Só em 1954 se voltou a elaborar um plano para a expansão da cidade, o Plano Geral de Urbanização de Moçâmedes, destacando‐se neste a construção do Porto Comercial e dos principais equipamentos públicos da cidade. Nos finais dos anos 1960, revelou‐se o potencial turístico de Moçâmedes. O seu desenvolvimento estratégico presidiu, em 1968, ao Plano Regulador de Moçâmedes e, em 1969, ao Plano Parcelar da Zona Marginal. Com a independência de Angola, grande parte dos objetivos destes planos ficaram sem efeito, verificando‐se apenas a construção parcial de dois pequenos bairros residenciais. Em 1967‐1968 entrou em funcionamento o porto mineraleiro do Sacomar, no extremo norte da baía, destinado ao transbordo dos minérios extraídos nas minas de ferro entretanto fundadas em Cassinga. Este terminal era o terceiro do país. A sua atividade permitiu à cidade prosperar até ao início dos anos 1980, altura em que as minas e o porto foram encerrados. No período pós‐independência, a cidade do Namibe terá sido uma das que menos sofreu com o clima de instabilidade política e conflitos armados, encontrando‐se o seu centro urbano relativamente bem conservado. De um primeiro período compreendido entre a sua fundação e o início do século XX, importa salientar o conjunto que se constitui em redor do Forte de São Fernando (atual centro de comando da Marinha de Angola), no alto da Ponta Negra, sobre a baía, composto pela própria fortaleza, construída entre 1840 e 1883 (instalada por portaria em 31.08.1841), pela igreja, pelo Palácio do Governo (edifícios que constam atualmente da lista de património classificado, pelo despacho n.o 44, de 08.07.1992), e pelo Tribunal. De referir também, neste período, a construção do Forte de Santa Rita, que entretanto terá sido destruído e cuja localização se desconhece atualmente. Monumentos e Estatuária Destaque-se o monumento ao "Esforço da Colonização": de grande sobriedade, corresponde a um obelisco erguido sobre um plinto prismático, o qual ostenta referências, escritas e gravadas, aos heróis da gesta colonizadora. Desconhece-se o seu estado atual.

Arquitetura religiosa

Arquitetura militar

Equipamentos e infraestruturas

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