Qal’at al Bahrain [Barém]

Lat: 26.233272222222000, Long: 50.519922222222000

Qal’at al Bahrain [Barém]

Golfo Pérsico | Mar Vermelho, Barém

Enquadramento Histórico e Urbanismo

Inscrito na lista do Património Mundial Classificado pela UNESCO em 2005, o sítio da Fortaleza de Qal’at al Barein é um lugar ocupado pelo homem desde o ano de 2300 a.C., localizado a 26º14’N - 50º3’E. Entreposto comercial na rota do Golfo Pérsico, entre a Mesopotâmia e o Estreito de Ormuz, entre as costas arábica e iraniana, no acesso à Índia e ao Extremo Oriente, a fortaleza, dita portuguesa, está implantada no topo de uma colina de 11,2 metros de altura, que não é mais do que o resultado de sucessivas ocupações do homem. Construída frente ao mar, mas ligeiramente recuada da costa, a fortaleza tem uma forma irregular que se assemelha em planta a uma tartaruga em que a cabeça e as barbatanas estão representados pelos baluartes portugueses. Os portugueses conquistaram‐na em 1521 a Migrin ibn Zamil, que pereceu na batalha, e acabaram por perdê‐la em 1602, quando foram expulsos pelo xá Abbas I. Em 1614, D. Garcia da Silva e Figueroa, embaixador do rei de Portugal e Espanha, foi à corte do xá com o intuito de celebrar um tratado de comércio entre os portugueses e os persas, que embora inicialmente da feição do xá, acabou por fracassar perante a exigência, transmitida pelo embaixador, de que a Fortaleza do Barém fosse devolvida à coroa portuguesa.
Durante os oitenta e um anos de ocupação, ainda que nas remotas paragens do interior do Golfo, esta fortaleza não deixou de ser alvo da atenção da coroa, nomeadamente durante a campanha de obras levada a cabo pelo arquiteto Inofre de Carvalho, mestre que é enviado por D. João III para a Índia em 1551. Após a reconquista da fortaleza por D. Antão de Noronha, em outubro de 1559, Inofre de Carvalho está no Barém em 1561, e é ele que vai dar à fortaleza o aspecto que hoje apresenta, sobretudo através da introdução de baluartes que Rafael Moreira diz terem sido inspirados no tratado Quattro Primi Libri di Architettura, de Pietro Di Giacomo Cataneo, publicado em Veneza em 1554. Há 4.300 anos, o Homem procurou instalar‐se na costa norte da Ilha do Barém, não muito longe do continente, num local primitivamente a menos de cem metros do mar. Ao longo dos séculos, numa imensa planície de palmares, foram‐se sedimentando os vestígios de diversas civilizações, marcadas sempre pelo tráfego comercial entre o Oriente e o Ocidente, até à chegada dos portugueses no século XVI. Uma primitiva fortaleza, de que existem ainda as fundações e que está inscrita no conjunto classificado, teve origem provavelmente antes do século III. Utilizada até ao século V e definitivamente abandonada depois do XIII, era uma construção de linhas medievais: os vestígios ainda existentes mostram um quadrilátero com cerca de 51,5 metros de lado, com torres circulares nos cantos e outras semicirculares a meio de cada pano de muralha. Na muralha oriental abria‐se a porta principal, que era estreita, estava protegida por cubelos e dava sobre um pequeno pátio. As muralhas tinham seteiras e um postigo dava sobre o mar. As ruínas desta dita fortaleza, embora restauradas no século XIII, foram logo depois abandonadas devido à erosão e por se ter alterado a linha de costa, sendo parte do seu material substancialmente aproveitado para a reconstrução e ampliação da fortaleza dita do Barém. Na representação de Pedro Barreto de Resende que consta do Livro do Estado da Índia Oriental, datado de 1646 e conservado no British Museum, a Fortaleza da Costa, como é conhecida, ainda que apresentada esquematicamente é de todas aquela que acaba por ser mais rigorosa. Ao autor não escapa o pormenor de a desenhar a ponteado, como que definindo uma construção que não passa já de uma ruína e é apenas identificada pelos vestígios do arranque das estruturas ao nível das fundações, situação que ainda hoje se reconhece. No fim do século XIV, início do século XV, a pouca distância da Fortaleza da Costa e para o interior do sertão, seria então construída nova fortificação. Em 1529, esta fortaleza é descrita por João de Barros como fortificação num "teso" (elevação) sobre o porto que tem por abrigo uma ilhota em que se recolhiam pescadores, sendo a dita fortificação de pedra e cal e contendo o seu perímetro dezassete cubelos e uma barbacã cercada de um fosso e toda fornecida de troneiras. Dizia então o cronista que a dita fortaleza tinha uma torre de menagem muito formosa e num dos cubelos estava a porta muito bem fortificada, acrescentando ainda que a barbacã era torneada de uma grande cava com a sua ponte levadiça. Esta descrição corresponderá já às alterações introduzidas ao tempo do governador Badr al Din. Até então os portugueses eram senhores do Golfo Pérsico e a posição dos turcos era dúbia, sendo que muitos desses reinos locais por vezes pagavam tributo quer à coroa portuguesa quer aos otomanos. Numa política comum naquelas paragens, os portugueses confiavam a administração da praça a um governador local, no caso Badr al Din, que, possivelmente sob influência portuguesa, vai adaptar a fortificação às novas necessidades ditadas pelo uso da artilharia. É assim que surge a cortina à distância de três a seis metros da muralha, bem como um vasto recinto de planta triangular a ocidente. A nova estrutura, quatro a cinco metros mais baixa, forma um anel em torno da fortaleza primitiva, onde as esplanadas permitiam a circu lação e o uso da artilharia pesada. A porta, agora colo cada na extremidade sul, constituía o único e novo acesso à fortaleza, depois de ultrapassado o fosso. A maior parte das estruturas interiores da praça data deste período, nomeadamente o donjão que sucede à torre de menagem. Desta época será também a ampliação do bastião que protegia a entrada da cisterna. O donjão, pelo que as ruínas atestam e a representação na Taboa de Barém, em gravura portuguesa de 1538, confirma, era uma imponente estrutura de planta quadrangular encostada à muralha sul com diversos pavimentos, certamente a residência do governador. Nesta representação, embora muito esquemática, surge bem vincada a configuração pentagonal do amuralhado, o fosso e ainda um arco encimado por uma cruz que poderá ser o arco de cantaria que Rafael Moreira admite ser a entrada de uma capela e que, como acontece em Mascate, poderia ter vindo do reino. É por esta data, em 1529, que Badr al Din, talvez por se sentir forte na fortaleza renovada, ou por saber que cada uma das partes - guarnição balushi, portugueses, ormuzis e ele próprio - defendiam interesses antagónicos, tenta rebelar-se com oitocentos homens seus e seiscentos persas, que Simão da Cunha sitiou e dominou. De acordo com o regimento de elrei, Nuno da Cunha parte em abril de 1528 para a Índia com o firme propósito de ir ao Golfo Pérsico e apossar-se da Ilha do Barém, missão essa que o governador vai cumprir quando demanda aquelas paragens. A 19 de maio de 1529, Nuno da Cunha está em Mascate e daí vai a Ormuz, donde manda Simão da Cunha, seu irmão, cumprir o regimento real e tentar colocar no lugar de Bard al Din, Mir Aberuz, por ser pessoa de confiança. Simão da Cunha, com uma frota de cinco navios e quatrocentos homens, parte de Ormuz a 8 de setembro, mas por dificuldades de navegação só chega ao Barém a 20 do mesmo mês. Ali se reuniu a Belchior de Sousa, que patrulhava o golfo não fosse Badr al Din receber reforços dos persas. Depois de chegada mais artilharia e munições que pedira para Ormuz, Simão da Cunha e os seus homens desembarcaram na ilha, procurando a parte da muralha virada a sul por ser a dita mais fraca, tendo conseguido, com o uso da artilharia, derrubar a cerca da muralha. Não foi Simão da Cunha felizardo no seu feito já que as pestes que assolavam as paragens por essa altura do ano dizimaram não apenas muitos dos seus homens, como ele próprio, que não resistiu a doença. Na década de 50 do século XVI, todo o golfo volta a ser palco das investidas dos turcos, que disputam com os portugueses a supremacia naquelas águas, e o Forte do Barém não escapa a essas tentativas. Em 1559, Murad, emir do Barém, resiste aos turcos com o apoio da armada de D. Antão de Noronha, e será essa tentativa turca para dominar o Golfo que ditará a nova campanha de trabalhos na fortaleza.

Arquitetura militar

Habitação

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