Tânger

Lat: 35.788956999898000, Long: -5.810044444444400

Tânger

Norte de África, Marrocos

Enquadramento Histórico e Urbanismo

A primeira tentativa de conquista de Tânger pelos portugueses data de 1437, vinte e dois anos após a tomada de Ceuta. O assalto resultaria num desastre e no cativeiro do infante D. Fernando, mas confirmaria as características de grandeza e densidade populacional da cidade. Seguiram‐se três assaltos falhados entre 1462 e 1464 e, finalmente, a tomada definitiva, em 1471. A 28 de agosto, D. Afonso V entrava pela primeira vez na cidade despejada, depois da conquista de Arzila e consequente fuga da população de Tânger.
Todas as aproximações ao espaço físico da cidade, durante as tentativas quatrocentistas de conquista, permitiram a identificação das suas principais estruturas: a alcáçova, designada já por "castelo" desde o mais tenro assalto português, e a mesquita, com a qual formava as duas implantações mais perenes da distribuição funcional da cidade. Permitiram também denunciar um perímetro mais alargado que aquele que hoje é possível observar na linearidade da cortina que desce da porta da Kasbah para a praça do Grand Zocco.
A Tânger islâmica parece confirmar fisicamente aquilo que os geógrafos árabes classificavam como uma cidade grande. Efetivamente, o seu perímetro amuralhado à data da conquista seria substancialmente maior que a cerca que encerra a medina atual e, como tal, Tânger era demasiado vasta para os portugueses a manterem de um modo sustentável. O perímetro original uniria os pontos altos num percurso aproximado ao que, hoje em dia, é traçado pelas Avenue Hassan II, Place de France, Rue de Belgique e Rue Khalid Ibn Oualid.
A cidade permaneceu em mãos portuguesas durante quase dois séculos, até ao terceiro quartel de Seiscentos, passando pelo período de domínio filipino. Em 1643, Tânger regressaria à coroa de D. João IV. Pouco tempo ficou em mãos portuguesas, uma vez que foi incluída no dote de casamento da princesa D. Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra, depois de uma cobiça aguçada pela cidade; pouco tempo igualmente se passou antes de o recinto ser retomado pelos árabes, em 1684.
Após a conquista, D. Afonso V ponderou e decidiu atalhar a cidade, considerada demasiado vasta para fins de sustentabilidade militar. O ratio do atalho recaiu na manutenção de, aproximadamente, apenas uma quarta parte da cidade existente, encolhida para uma encosta de colina junto ao mar. A operação portuguesa implicou a destruição de longos panos de muralha islâmica com seus torreões e a construção de dois segmentos principais que formavam entre si um ângulo reto no canto sudoeste, agora denominado Tour des Irlandais.
A contração da superfície disponível imposta pelos portugueses conduziu a uma profunda alteração no sentido e direção da cidade, empurrando Tânger para o mar por razões defensivas e de acessibilidade. O atalho induziu igualmente um processo de geometrização da cidade, agora regular em toda a sua extensão de frente de terra. A Porta do Castelo mantinha o acesso direto do castelo ao exterior, secundada por uma Porta da Traição. A Porta do Campo articulava‐se diretamente com a Porta do Mar, também mantida, com a qual estabelecia o principal eixo viário urbano.
A política ultramarina de D. Manuel I veio consolidar a ideia de cidade. Definido o primeiro grande espaço público da cidade, apesar de ligeiramente excêntrico, a principal praça urbana era, no entanto, a do mercado, atualmente conhecida por Petit Socco. Sítio de encontro de pessoas e mercadorias, rasgava‐se na malha pelo alargamento da rua principal, a Rua Direita, e pela concorrência de outras artérias, embora hoje se encontre diminuído em relação à sua dimensão original pelo avanço do construído a norte. A Rua Direita articulava nas extremidades as portas do Campo ou Vale e Mar ou Ribeira, onde outras pequenas pracetas apoiavam o tráfego. Presentemente, o esquema regular viário que acompanha as curvas de nível desde a antiga Rua Direita (hoje, Rue des Siaghins e Rue de la Marine) até à kasbah constitui ainda a matriz do sistema de comunicação, entretanto pervertido deste os tempos de Moulei Ismail. O labirinto regressou, interrompendo canais e rasgando o interior de quarteirões.
Porém, a imagem da cidade de Tânger é ainda profundamente marcada pela ocupação portuguesa, mesmo que substituídos os símbolos políticos e religiosos - o palácio de Mulei Ismail sobre o castelo português e uma nova mesquita sobre a catedral. A forma da cidade atalhada lê‐se entre a expansão urbana extramuros e o crescimento do porto.

Arquitetura religiosa

Arquitetura militar

Urbanismo

Habitação

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